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Auta de Souza, uma das glórias da poesia
brasileira
Num dia como hoje, 7 de fevereiro, em Natal (RN),
desencarnou em 1901, aos 24 anos de idade, a poetisa
Auta de Souza.
Auta de Souza integra o grupo de poetas desencarnados
que participaram da primeira obra mediúnica de Francisco
Cândido Xavier, Parnaso
de Além-Túmulo,
publicada pela Federação Espírita Brasileira no ano de
1932, quando o saudoso médium contava apenas 22 anos de
idade. Desde então, ela participou ativamente do
trabalho realizado por Chico Xavier no campo da
mediunidade, destacando-se pelos lindos sonetos que
compõem sua obra literária post mortem.
Nascida em 12 de setembro de 1876, em Macaíba (RN), Auta
de Souza teve como pais Eloi Castriciano de Souza,
desencarnado aos 38 anos de idade, e Henriqueta
Rodrigues de Souza, desencarnada aos 27 anos, ambos
vitimados pela tuberculose. Antes de haver completado 3
anos ela ficou órfã de mãe e aos 4 anos de pai.
Ela e seus quatro irmãos foram criados em Recife (PE),
no velho sobrado do Arraial, por sua avó materna Silvina
Maria da Conceição de Paula Rodrigues e seu esposo
Francisco de Paula Rodrigues, que desencarnou quando
Auta tinha apenas 6 anos.
Antes dos 12 anos, foi matriculada no Colégio São
Vicente de Paulo, no bairro da Estância, onde recebeu
carinhosa acolhida por parte das religiosas francesas
que o dirigiam e lhe ofereceram primorosa educação:
Literatura, Inglês, Música, Desenho e também o Francês,
o que lhe permitiu ler no original obras de Lamartine,
Victor Hugo, Chateubriand e Fénelon.
De 1888 a 1890, a jovem Auta estudou, recitou, versejou,
ajudou as irmãs do Colégio e aprimorou a beleza de sua
fé, na leitura constante do Evangelho.
Desde muito cedo, porém, enfrentou seguidas
vicissitudes. Aos quatorze anos, quando lhe apareceram
os primeiros sintomas da tuberculose, que a vitimou, ela
já havia experimentado a orfandade e, aos dez anos, a
perda de seu querido irmão Irineu Leão Rodrigues de
Souza, vitimado pelo fogo produzido pela explosão de um
lampião de querosene, na noite de 16 de fevereiro de
1887.
O que a confortou e a salvou do desespero foi a fé
religiosa e o resignado exemplo da ignorada heroína para
quem escreveu o soneto A minha Avó.
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Auta de Souza publicou um único livro, Horto,
que é, em verdade, a história de uma grande
dor, fato que concorreu para acentuar sua
maravilhosa sensibilidade. |
A
primeira edição do livro,
prefaciado
por Olavo Bilac,
apareceu em 1900 e se esgotou em três meses. A segunda
edição, ocorrida em Paris em 1910, traz uma biografia da
autora escrita por seu irmão Henrique Castriciano. Em
1936 foi publicada a 3ª edição, prefaciada por Alceu de
Amoroso Lima, e em 1970, com patrocínio da Fundação José
Augusto, da capital norte-riograndense, foi publicada a
4ª edição. Em 14 de novembro de 1936 houve a instalação
da Academia Norte-Rio Grandense de Letras, com a
poltrona XX, dedicada a Auta de Souza.
A primeira edição de Horto foi
recebida com elogios pela melhor crítica do país;
leram-no os intelectuais com avidez; mas a verdadeira
consagração veio do povo, que se apoderou dele com
devotado carinho, passando a repetir muitos de seus
versos ao pé dos berços, nos lares pobres e até nas
igrejas.
No ano seguinte ao surgimento do livro ocorreu em
fevereiro o falecimento da poetisa.
Livre do corpo, totalmente desgastado pela enfermidade,
Auta de Souza, irradiando luz própria, lúcida e gloriosa
alçou voo em direção à Espiritualidade Maior. Mas a
compaixão que sempre sentira pelos sofredores fez com
que ela, em companhia de outros Espíritos caridosos,
visitasse constantemente a crosta da Terra. E foi então,
através de Chico Xavier, que ela, pela primeira vez,
revelou sua identidade, transmitindo suas poesias que
foram enfeixadas em 1932, na primeira edição do Parnaso
de Além-Túmulo.
Em 1976 foi publicado o livro Auta de Souza, com
poemas de sua autoria psicografados por Chico Xavier.
Nessa obra é reproduzido o relato feito pelo médium ao
dr. Elias Barbosa a respeito do primeiro encontro que
ele teve com o Espírito de Auta Souza. Chico disse-lhe
na oportunidade:
“Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou
de mim o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz.
Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi.
Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a
chorar de emoção, sem saber,
naquele momento, se meus olhos eram os dela ou se os
olhos dela eram os meus. Mais tarde, soube, por nosso
caro Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, a
admirável poetisa do Rio Grande do Norte".
O soneto a que Chico Xavier se referiu intitula-se
"Nossa Senhora da Amargura", que, segundo o médium, foi
publicado pelo Almanaque de Lembranças, de Lisboa, na
sua edição de 1932.