A visão espírita do aborto
A questão da legalização do aborto, que tanto tem
preenchido os espaços na mídia, assim como discutida em
vários segmentos da sociedade, merece que façamos
algumas considerações, para mais uma vez, demonstrar o
posicionamento da Doutrina Espírita em relação ao tema.
Primeiramente, importa dizer que as leis humanas, assim
como boa parte do pensamento de nossa humanidade, não
obedecem aos imperativos de ordem espiritual, faltando,
ainda muito, para que tenhamos um comportamento mais
adequado e responsável uns diante dos outros.
Ignorar os preceitos espirituais ou taxá-los à conta de
assuntos sem relevância diante das necessidades do mundo
é ignorar por completo que não somos apenas matéria.
Assim, vista a questão sob a ótica material e
espiritual, as coisas tomam outra conotação.
Em O Livro dos Espíritos, na questão 344, quando Kardec
indaga aos Espíritos Superiores em que momento a alma se
une ao corpo, eles respondem que a união começa na
concepção, mas não se completa senão no momento do
nascimento. Essa ideia não é diferente da de muitos
profissionais da área médica, que também afirmam ser o
momento da concepção o início da vida. Assim, se já
temos aí um princípio de vida, mesmo que ainda em
formação, inconcebível a prática do aborto.
De outro modo, uma única exceção na qual admite-se seja
praticado o aborto, recai na hipótese de a mãe correr
perigo de vida. Nesse caso, prefere-se a mãe em
detrimento do feto ou da criança, posição coincidente
com a legislação penal. Nem mesmo quando a gravidez for
decorrente de estupro, é aceita a justificativa para o
ato abortivo. Sabemos que não há “acasos”, tampouco
“injustiças” em nossas vidas. Tudo o que passamos, mesmo
nos parecendo cruel e terrível, é sempre efeito da lei
de ação e reação, por isso, importante o entendimento e
aceitação da lei da reencarnação, única capaz de
explicar tudo o que nos parece absurdo ou injusto.
Então, o que poderíamos fazer para evitar que essa
prática, tão contrária às Leis Divinas tenha o seu curso
alastrado? Penso que uma educação pautada em princípios
espirituais, iniciando-se no lar a conscientização de
valores que vão além dos materiais, mais o conhecimento
das consequências espirituais que ocorrerão com aquela
que aborta e todos os que induzem ou auxiliam na prática
abortiva. Para a Justiça Divina todos os envolvidos no
ato criminoso sofrerão as suas consequências sombrias,
imediatas ou a longo prazo, de acordo com o seu grau de
culpabilidade.
Os Espíritos abortados são almas vinculadas aos nossos
compromissos cármicos, muitos deles, antigos
companheiros de aventuras infelizes e que no mundo
espiritual prometemos socorro, reedificando a esperança
de elevação e resgate, burilamento e melhoria. Porém, se
anestesiamos a consciência, já instalados na Terra e os
descartamos de nossa companhia, não poderemos prever as
reações negativas.
Sejam quais forem as justificativas para a prática do
aborto, que vão desde o recuo dos pais terrestres diante
das sagradas obrigações assumidas, excessos de
leviandade, inconsciência criminosa das mães menos
preparadas, motivos egoísticos que podem ser diversos,
tais como problemas financeiros, vaidade etc., as
consequências advirão.
O assunto é complexo, principalmente porque, para
discuti-lo adequadamente sob a visão espírita, seria
necessário abordar outros temas e princípios inseridos
na Doutrina. De toda sorte, que fique registrado que,
qualquer que seja o método utilizado para provocar o
aborto, sempre as consequências serão as piores, tanto
físicas como espirituais. Dentre elas, podemos citar as
predisposições a alterações significativas do centro
genésico, em seu perispírito, com consequências atuais e
posteriores que poderão desencadear o aborto espontâneo,
a prenhez tubária, deslocamento prematuro da placenta, a
esterilidade, a impotência etc., sem contar as
consequências espirituais, tais como as obsessões,
lesões no campo perispiritual, depressões que podem,
dependendo do grau de culpa, levar à loucura.
Recentemente aprovado o aborto na Argentina, causou
espanto saber que a autoridade máxima do catolicismo se
quedou inerte, sem nenhum pronunciamento. O que será que
temos por trás disso? Muito triste saber que até no meio
religioso o combate ao aborto tem sido ineficaz.
Em assim sendo, não nos esqueçamos de que hoje estamos
plantando o que colheremos no futuro, numa próxima
reencarnação. Quando houver choro e ranger de dentes,
não culpem Deus pelas mazelas que estiverem enfrentando.
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