Cérebro, limitações e
planejamento reencarnatório
Uma das grandes personalidades do século XX foi Simone
Weil; nasceu em Paris, em fevereiro de 1909, oriunda de
uma família de judeus não praticantes e morreu de
tuberculose, aos 34 anos, na Inglaterra, em agosto de
1943.
Caracterizava a personalidade de Simone Weil uma
inteligência brilhante e um profundo sentimento de
compaixão pelo sofrimento humano, de solidariedade
irrestrita e de absoluto despojamento exterior.
Ao ganhar um anel de presente, com três anos, fez todos
rirem com sua resposta: O luxo não me agrada.
Com 5 anos deixou de comer doces para com o dinheiro da
mesada comprar meias e enviar para soldados franceses no
front da primeira guerra.
Aos sete anos, Simone resolve andar descalça e assim o
faz. Ao ver seus pés arroxeados pelo frio, os
passageiros do bonde olham com reprovação para a mãe,
que se envergonha, mas não consegue vencer a resolução
da criança. Com vestidos novos fica encantadora, mas
desgostosa; queria que todos se vestissem iguais e com
roupas baratas: Assim a gente poderia trabalhar e
ninguém perceberia diferenças.
Mas, ao lado desse
comportamento altruísta e dos notáveis recursos
intelectuais, outro aspecto de sua personalidade
desperta interesse. Na escola escreve mais devagar que
suas colegas, é inábil e lenta. Logo é reconhecida como
“incapaz manualmente e admirável pelo espírito”. Os
gestos inábeis, o esforço incomum para escrever, a
absoluta incapacidade para correr (embora se esforçasse,
era sempre a última a chegar nas disputas e a pior em
todos os esportes), fazem com que os colegas sintam a
princípio tentados a caçoar dela. Mais tarde, ao tentar
uma experiência como fresadora em uma fábrica da
Renault, sofreu profundamente com sua falta de jeito
habitual; sempre muito desajeitada para os trabalhos
manuais, lenta, com mãos muito pequenas e frágeis,
feria-se e queimava-se com frequência. Uma biógrafa de
Simone comenta: aos
poucos, seu próprio desajeitamento poderia aparecer como
sinal de um ser superior que se movia com dificuldade no
meio dos homens.[i]
Proponho uma reflexão em torno dessas dificuldades
motoras em uma personalidade com tão ricos recursos
intelecto-morais.
Sabemos que Espíritos superiores, com tarefas
reencarnatórias de maior valor e de grande alcance,
recebem da Espiritualidade superior uma maior
assistência técnica no que se refere à dinâmica
reencarnatória, com especificidades relacionadas ao
corpo que necessitam para o melhor desempenho de sua
missão.
André Luiz esclarece que,
em milhares de renascimentos, os princípios
embriogênicos funcionam, automáticos, cada dia. A lei de
causa e efeito executa-se sem necessidade de
fiscalização do Mundo Maior. No entanto, se a existência
do reencarnante estiver destinada a influenciar a
comunidade, se ele for detentor de méritos
indiscutíveis, com responsabilidades justas nos caminhos
alheios, o problema será efetivamente outro. Forças de
ordem superior seriam fatalmente mobilizadas para a
interferência nos cromossomos, garantindo-se o embrião
do veículo físico de maneira adequada à missão que lhe
coubesse. Acrescenta, como ilustração, que se o
reencarnante for um homem de larga intelectualidade
merece cautelosa atenção na estrutura cerebral, para que
lhe não falte um instrumento à altura de seus deveres na
materialização do pensamento.[ii]
Considerando a importância da breve vida de Simone Weil,
podemos aventar que técnicos da dinâmica reencarnatória
participaram da construção de seu corpo. Assim, as
dificuldades motoras vivenciadas por ela, deveriam ser
de conhecimento dos técnicos. Colocamos como reflexão:
qual o sentido dessas inibições motoras?
A resposta mais simples
seria: expiação ou prova, pois, segundo Kardec, as
dificuldades vivenciadas pelo Espírito reencarnado se
relacionam, via de regra, aos conceitos de prova e
expiação.[iii]
Expiações são
as penas que sofrem os Espíritos como punição das faltas
cometidas durante a vida corporal e provas consistem
nas vicissitudes da vida corporal pelas quais os
Espíritos se purificam segundo a maneira pela qual as
suportam. [iv]
Assim, poderiam as dificuldades motoras que nos
reportamos ter uma origem expiatória (apesar da
grandiosidade dessa alma, alguns equívocos de
experiências passadas, fixados em seu psiquismo como
zonas de remorso, poderiam ter se projetado como centros
motores cerebrais disfuncionais), ou provacionais –
peculiaridades da organização corpórea necessárias ao
aprimoramento de qualidades, tais como a paciência, a
resignação e a perseverança.
Mas gostaríamos de
considerar outros aspectos. Informam os bons autores
espíritas que a atuação dos técnicos do processo
reencarnatório é limitada por leis próprias da matéria,
particularmente leis da hereditariedade. Lembra-nos o
valoroso Léon Denis que pode
suceder que as leis de hereditariedade embaracem a
manifestação do gênio, porque o Espírito molda o
seu corpo, mas só se pode servir dos elementos postos à
sua disposição por essa hereditariedade. [v]
Vejamos uma dessas leis. Certos genes, estando muito
próximos em região específica do cromossomo, serão
selecionados em conjunto, como um verdadeiro pacote.
Quando da formação dos gametas (espermatozoide e óvulo),
esses genes permanecem sempre muito juntos e não podem
ser separados. Isso se chama Linkage, ou seja,
genes unidos. Assim, ao “selecionar” determinados genes
necessários à sua nova experiência encarnatória, o
Espírito pode “carregar” outros genes, que não foram
necessariamente “escolhidos”, mas que vêm no pacote.
Vejamos um exemplo hipotético: determinado Espírito
deseja (ou precisa) viver experiências na esfera da
música, na condição de pianista. Ao sintonizar-se com o
gameta paterno e materno, o fará com aqueles que contêm
genes vinculados à fisiologia musical do cérebro. Assim,
a construção e o funcionamento de um cérebro com
circuitos mais adequados ao exercício da música lhe
estarão assegurados. Se, por hipótese, junto a esses
genes se encontram genes relacionados, por exemplo, à
calvície, eles virão juntos. Ele deverá se constituir em
um pianista calvo. Os genes da calvície, nesse
nosso exemplo, não foram selecionados pelo reencarnante,
mas vieram, por Linkage, no pacote.
Outro exemplo: certa entidade precisa ou deseja
desenvolver experiências profissionais em dada atividade
esportiva, necessitando de um aparelho osteomuscular
adequado. Assim, ele vai selecionar os genes paternos e
maternos que permitirão construir um corpo com as
características físicas que necessite. Se, por hipótese,
esses genes estiverem ligados (em Linkage) no
mesmo cromossomo a genes relacionados, por exemplo, à
obesidade e à gagueira, esse hipotético atleta deverá
lutar em toda a sua existência contra as dificuldades
relacionadas às duas condições citadas.
Pelo exposto, não é absurdo imaginar que as
inibições motoras da personalidade de Simone Weil possam
ser decorrentes de dificuldades na construção do
cérebro, por genes vindos “no pacote”.
Aventamos, ainda, outra hipótese: tais inibições motoras
poderiam decorrer da ação propositada dos técnicos, com
a finalidade de oferecer maiores recursos cerebrais ao
exercício da inteligência e da afetividade.
Tal pensamento foi
aventado pela Dra. Tais Moriyama, psiquiatra espírita,
radicada no estado de São Paulo, com especialização em
Psiquiatria da infância e adolescência.[vi] Ao
examinar as possíveis explicações espíritas para o Transtorno
autista, a Dra. Tais coloca, examinando
especificamente os autistas de alta habilidade, que talvez
possamos estar diante de Espíritos em missão na Terra
que peçam para nascer com as faculdades sociais
atordoadas de forma a se dedicar com maior fluidez à
ciência, à tecnologia, à música e a outras artes. O
cérebro social custa muito caro ao Espírito, ele traz
uma série de instintos que retiram de nós parte da
originalidade e nos inclina à imitação, a copiar os
outros indivíduos e zelar por pertencimento a grupos
acima de tudo.
O pensamento original da psiquiatra paulista nos parece
bastante lógico, e talvez pudesse ser aplicado à
personalidade de Simone Weil. Talvez a inibição dos
centros cerebrais relacionados à motricidade tivesse
como finalidade oferecer recursos cognitivos extras, a
mais ampla expressão da intelectualidade e da
afetividade, tão evidentes em sua personalidade.
O tema é contagiante. Como pouco conhecemos da dinâmica
reencarnatória, devemos examinar sempre possibilidades
diferentes para problemas antigos, obviamente sem
abrirmos mão do bom senso, do pensamento racional e do
conhecimento sedimentado.
Oxalá, outros estudiosos espíritas se interessem pelo
tema.
[i] Simone
Weil: A condição operária e outros estudos sobre
a opressão, Ecléa Bosi.
[ii] Entre
a Terra e o Céu, cap. 28.
[iii] O
Livro dos Espíritos, item 113.
[iv] Instruções
práticas sobre as manifestações espíritas,
Glossário espírita.
[v] Léon
Denis, O grande enigma, cap. 15.
[vi] Revista
eletrônica oconsolador.com, em 10/09/2017.
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