O agonizante ideal religioso da
atualidade
O Cristianismo precisa ser um laço entre o homem, o
mundo invisível e Deus
"(...) A humanidade, no círculo da vida, debate-se entre
dois erros: um que afirma e outro que nega; um que diz
ao homem: crê sem compreender; outro que lhe grita:
morre sem esperar!" -
Léon Denis
Duas concepções opostas disputam o controle das rédeas
do poder temporal, ambas - a seu modo - dogmáticas,
procurando, de todas as formas possíveis, o domínio e a
prisão das mentes: o reinado da Teocracia e o do
Ateísmo.
Aprendemos com Léon Denis1: "de um lado a
idolatria, porque é um ídolo esse “deus” que ainda
parece desejar o sangue em seu nome outrora derramado,
que se ergue como obstáculo entre o homem e a ciência,
que combate o progresso e a liberdade - sombria
divindade de que se não pode fazer objeto de ensino, sem
velar a face do Cristo, sem calcar aos pés a razão e a
consciência. Do outro lado, o nada, o aniquilamento de
toda esperança, de toda aspiração a outra vida, a
destruição de toda ideia de solidariedade, de
fraternidade entre os homens; se eles podem sentir-se
ligados por uma crença, mesmo cega, não o podem por
negações”.
Perdidas nas garras do materialismo soez que as
direcionavam para o escuro e fundo abismo, voltaram-se
as criaturas para o poder da ideia religiosa.
Continuaram, porém, presas, cercadas pelos altos e
intransponíveis paredões dogmáticos. A intolerância
acendia as fogueiras; o terror e a desilusão fizeram
fenecer as esperanças de progresso, renovação e
iluminação...
Na hora atual não há renovação moral possível senão fora
dos arraiais que até então sufocaram os verdadeiros e
nobres ideais religiosos.
O Cristianismo dos três primeiros séculos era uma fé
viva e radiante, onde o intercâmbio mediúnico sadio
alimentava o Espírito Humano com as instruções e
orientações dos Planos Superiores.
Transformaram-no, a partir do século III até hoje, em
uma doutrina áspera, sombria, irreconciliável com os
preceitos do Evangelho. Os líderes religiosos
ambicionavam tão somente os perecíveis tesouros da Terra
em detrimento dos imperecíveis tesouros dos Céus.
Mas, acima dos equívocos dos despenseiros infiéis, vigia
a Misericórdia e Previdência Divinas: permitiu Deus que,
lentamente, fossem desabrochando os princípios, os
germes, ocultos e incompreendidos, como a semente sob a
terra, e que, depois de muitos sofrimentos, lenta e
dolorosamente fermentados, não reclamam senão aparecer,
desabrochar, produzir frutos!...
Faz-se necessário um novo impulso, uma reorientação do
pensamento, um retorno às origens. A tal se propõe o
Espiritismo.
Inspiradamente, esclarece ainda Léon Denis1:
"(...) a Nova Revelação, os ensinos dos Espíritos, as
provas que fornecem da sobrevivência, da imortalidade
do ser e da justiça eterna habilitam a distinguir o que
há de vivo ou morto no Cristianismo. Se os homens de fé
quiserem convencer-se do poder desses ensinos e colher
os seus frutos, poderão neles encontrar novamente a vida
esgotada, o ideal atualmente agonizante.
Esse ideal, que as vozes do mundo invisível proclamam,
não é diferente do dos fundadores do Cristianismo.
Trata-se sempre de realizar na Terra ‘o reino de Deus
e Sua justiça’, de purificar a alma humana dos seus
vícios, dos seus erros, de reerguer de suas quedas e,
ministrando-lhe o conhecimento das leis superiores e dos
seus verdadeiros destinos, nela desenvolver esse
espírito de amor e de sabedoria sem o qual não há
enobrecimento nem paz social... O Cristianismo, para
renascer e resplandecer deverá vivificar-se nessa fonte
em que se desalteravam os primeiros cristãos. Terá que
se transformar e libertar-se de todo caráter miraculoso
e sobrenatural, voltar a ser simples, claro, racional,
sem deixar de ser um laço, uma relação entre o homem, o
mundo invisível e Deus. Sem essa relação, não há crença
forte, nem filosofia elevada, nem religião viva.
Desembaraçando-se das formas obsoletas, deve a religião
inspirar-se nas modernas descobertas, nas leis da
Natureza e nas prescrições da razão. Deve familiarizar o
Espírito com essa lei do destino que multiplica as
existências e o coloca alternativamente nos dois mundos,
material e fluídico, permitindo-lhe assim completar,
desenvolver, conquistar a própria felicidade. Deve
fazer-lhe compreender que uma estreita solidariedade
liga os membros das duas Humanidades, a da Terra e a do
Espaço, os que vivem na carne e os que nela aspiram
renascer para trabalhar no progresso dos seus
semelhantes e no seu próprio. Deve mostrar-lhe, acima de
tudo, essa regra de soberana justiça, em virtude da qual
cada um colhe, através dos tempos, tudo o que semeou de
bem e de mal, como germes de felicidade ou sofrimento.
Essas noções, essas leis, mais bem compreendidas,
fornecerão nova base de educação, um princípio de
reconstituição, um laço religioso entre os homens,
porque o vínculo da solidariedade que os reúne
estende-se ao passado e ao futuro, abrange todos os
séculos, liga-os a todos os mundos. Membros de uma só
família imensa, solidários através das suas existências
no vastíssimo campo de seus destinos, partidos do mesmo
ponto para atingir as mesmas eminências, todos os homens
são irmãos e se devem, mutuamente, auxiliar, amparar em
sua marcha através das idades, para um ideal de ciência,
sabedoria e virtude”.
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