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por Rogério Coelho

 

O agonizante ideal religioso da atualidade


O Cristianismo precisa ser um laço entre o homem, o mundo invisível e Deus

 

"(...) A humanidade, no círculo da vida, debate-se entre dois erros: um que afirma e outro que nega; um que diz ao homem: crê sem compreender; outro que lhe grita: morre sem esperar!"  - Léon Denis[1]

 

Duas concepções opostas disputam o controle das rédeas do poder temporal, ambas - a seu modo - dogmáticas, procurando, de todas as formas possíveis, o domínio e a prisão das mentes: o reinado da Teocracia e o do Ateísmo.

Aprendemos com Léon Denis1: "de um lado a idolatria, porque é   um ídolo esse “deus” que ainda parece desejar o sangue em seu nome outrora derramado, que se ergue como obstáculo entre o homem e a ciência, que combate o progresso e a liberdade - sombria divindade de que se não pode fazer objeto de ensino, sem velar a face do Cristo, sem calcar aos pés a razão e a consciência. Do outro lado, o nada, o aniquilamento de toda esperança, de toda aspiração a outra vida, a destruição de toda ideia de solidariedade, de fraternidade entre os homens; se eles podem sentir-se ligados por uma crença, mesmo cega, não o podem por negações”.

Perdidas nas garras do materialismo soez que as direcionavam para o escuro e fundo abismo, voltaram-se as criaturas para o poder da ideia religiosa. Continuaram, porém, presas, cercadas pelos altos e intransponíveis paredões dogmáticos. A intolerância acendia as fogueiras; o terror e a desilusão fizeram fenecer as esperanças de progresso, renovação e iluminação...

Na hora atual não há renovação moral possível senão fora dos arraiais que até então sufocaram os verdadeiros e nobres ideais religiosos.

O Cristianismo dos três primeiros séculos era uma fé viva e radiante, onde o intercâmbio mediúnico sadio alimentava o Espírito Humano com as instruções e orientações dos Planos Superiores.

Transformaram-no, a partir do século III até hoje, em uma doutrina áspera, sombria, irreconciliável com os preceitos do Evangelho. Os líderes religiosos ambicionavam tão somente os perecíveis tesouros da Terra em detrimento dos imperecíveis tesouros dos Céus.

Mas, acima dos equívocos dos despenseiros infiéis, vigia a Misericórdia e Previdência Divinas: permitiu Deus que, lentamente, fossem desabrochando os princípios, os germes, ocultos e incompreendidos, como a semente sob a terra, e que, depois de muitos sofrimentos, lenta e dolorosamente fermentados, não reclamam senão aparecer, desabrochar, produzir frutos!...

Faz-se necessário um novo impulso, uma reorientação do pensamento, um retorno às origens. A tal se propõe o Espiritismo.

Inspiradamente, esclarece ainda Léon Denis1: "(...) a Nova Revelação, os ensinos dos Espíritos, as provas que fornecem da   sobrevivência, da imortalidade do ser e da justiça eterna habilitam a distinguir o que há de vivo ou morto no Cristianismo. Se os homens de fé quiserem convencer-se do poder desses ensinos e colher os seus frutos, poderão neles encontrar novamente a vida esgotada, o ideal atualmente agonizante.

Esse ideal, que as vozes do mundo invisível proclamam, não é diferente do dos fundadores do Cristianismo. Trata-se sempre de realizar na Terra ‘o reino de Deus e Sua justiça’, de purificar a alma humana dos seus vícios, dos seus erros, de reerguer de suas quedas e, ministrando-lhe o conhecimento das leis superiores e dos seus verdadeiros destinos, nela desenvolver esse espírito de amor e de sabedoria sem o qual não há enobrecimento nem paz social... O Cristianismo, para renascer e resplandecer deverá vivificar-se nessa fonte em que se desalteravam os primeiros cristãos. Terá que se transformar e libertar-se de todo caráter miraculoso e sobrenatural, voltar a ser simples, claro, racional, sem deixar de ser um laço, uma relação entre o homem, o mundo invisível e Deus. Sem essa relação, não há crença forte, nem filosofia elevada, nem religião viva.

Desembaraçando-se das formas obsoletas, deve a religião inspirar-se nas modernas descobertas, nas leis da Natureza e nas prescrições da razão. Deve familiarizar o Espírito com essa lei do destino que multiplica as existências e o coloca alternativamente nos dois mundos, material e fluídico, permitindo-lhe assim completar, desenvolver, conquistar a própria felicidade. Deve fazer-lhe compreender que uma estreita solidariedade liga os membros das duas Humanidades, a da Terra e a do Espaço, os que vivem na carne e os que nela aspiram renascer para trabalhar no progresso dos seus semelhantes e no seu próprio. Deve mostrar-lhe, acima de tudo, essa regra de soberana justiça, em virtude da qual cada um colhe, através dos tempos, tudo o que semeou de bem e de mal, como germes de felicidade ou sofrimento.

Essas noções, essas leis, mais bem compreendidas, fornecerão nova base de educação, um princípio de reconstituição, um laço religioso entre os homens, porque o vínculo da solidariedade que os reúne estende-se ao passado e ao futuro, abrange todos os séculos, liga-os a todos os mundos. Membros de uma só família imensa, solidários através das suas existências no vastíssimo campo de seus destinos, partidos do mesmo ponto para atingir as mesmas eminências, todos os homens são irmãos e se devem, mutuamente, auxiliar, amparar em sua marcha através das idades, para um ideal de ciência, sabedoria e virtude”.


 

[1] - DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. 7. ed. Rio [de janeiro]: FEB, 1978, cap. VIII.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita