Ressurreição do Espírito ou simplesmente Reencarnação
Muitos espíritas famosos defendem a tese da RESSURREIÇÃO
DO ESPÍRITO, ou seja, que esta seria o mesmo que dizer
REENCARNAÇÃO.
Ora! A nosso ver “não existe” o chamado primeiro termo
narrado acima, o que aprendemos e “afirmamos com toda a
certeza do mundo” é que apenas encontramos o segundo.
Certamente esses indivíduos cresceram e tiveram, até em
parte da sua vida adulta, ligados a religiões não
reencarnacionistas, para só depois da madureza se
converterem ao Kardecismo.
Esquecem ou simplesmente passam por cima do magistral
ensinamento que Kardec nos dá a esse respeito quando
fala:
4. A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob
o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja
crença era a de que tudo acaba com a morte, não
acreditavam nisso. As ideias dos judeus sobre esse
ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente
definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas
noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo.
Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem
saberem precisamente de que maneira o fato poderia
dar-se. Designavam pelo termo ressurreição, o que
o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. Com
efeito, a ressurreição dá ideia de voltar à vida
o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser
materialmente impossível, sobretudo quando os elementos
desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e
absorvidos. A reencarnação é a volta da alma ou
Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo
especialmente formado para ele e que nada tem de comum
com o antigo. A palavra ressurreição podia assim
aplicar-se a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros
profetas. Se, portanto, segundo a crença deles, João
Batista era Elias, o corpo de João não podia ser o de
Elias, pois que João fora visto criança e seus pais eram
conhecidos. João, pois, podia ser Elias reencarnado, porém,
não ressuscitado.[1]
Se essas pessoas, profitentes incautos da Doutrina
Espírita que são, fossem mais atentas, já teriam visto
na obra inaugural da Codificação Kardeciana, as duas
questões seguintes escritas pelo Espírito São Luís:
1010. O dogma da ressurreição da carne será a
consagração da reencarnação ensinada pelos Espíritos?
“Como quereríeis que fosse de outro modo? Conforme
sucede com tantas outras, estas palavras só parecem
despropositadas, no entender de algumas pessoas, porque
as tomam ao pé da letra. Levam, por isso, à
incredulidade. Dai-lhes uma interpretação lógica e os
que chamais livres pensadores as admitirão sem
dificuldades, precisamente pela razão de que refletem.
Porque, não vos enganeis, esses livres pensadores o que
mais pedem e desejam é crer. Têm, como os outros, ou,
talvez, mais que os outros, a sede do futuro, mas não
podem admitir o que a ciência desmente. A doutrina da
pluralidade das existências é consentânea com a justiça
de Deus; só ela explica o que, sem ela, é inexplicável.
Como havíeis de pretender que o seu princípio não
estivesse na própria religião?”2
Assim, pelo dogma da ressurreição da carne, a própria
Igreja ensina a doutrina da reencarnação?
“É evidente, demais essa doutrina decorre de muitas
coisas que têm passado despercebidas e que dentro em
pouco se compreenderão neste sentido. Reconhecer-se-á em
breve que o Espiritismo ressalta a cada passo do texto
mesmo das Escrituras sagradas. Os Espíritos, portanto,
não vêm subverter a religião, como alguns o pretendem.
Vêm, ao contrário, confirmá-la, sancioná-la por provas
irrecusáveis. Como, porém, são chegados os tempos de não
mais empregarem linguagem figurada, eles se exprimem sem
alegorias e dão às coisas sentido claro e preciso, que
não possa estar sujeito a qualquer interpretação falsa.
Eis por que, daqui a algum tempo, muito maior será do
que é hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e
crentes.”[2]
SÃO LUÍS[3]
Para corroborar as duas questões propostas acima, Allan
Kardec nos dá um esclarecedor comentário a seguir:
Efetivamente, a Ciência demonstra a impossibilidade da
ressurreição, segundo a ideia vulgar. Se os despojos do
corpo humano se conservassem homogêneos, embora
dispersos e reduzidos a pó, ainda se conceberia que
pudessem reunir-se em dado momento. As coisas, porém,
não se passam assim. O corpo é formado de elementos
diversos: o oxigênio, hidrogênio, azoto, carbono, etc.
Pela decomposição, esses elementos se dispersam, mas
para servir à formação de novos corpos, de tal sorte que
uma mesma molécula, de carbono, por exemplo, terá
entrado na composição de muitos milhares de corpos
diferentes (falamos unicamente dos corpos humanos, sem
ter em conta os dos animais); que um indivíduo tem
talvez em seu corpo moléculas que já pertenceram a
homens das primitivas idades do mundo; que essas mesmas
moléculas orgânicas que absorveis nos alimentos provêm,
possivelmente, do corpo de tal outro indivíduo que
conhecestes e assim por diante. Existindo em quantidade
definida a matéria e sendo indefinidas as suas
combinações, como poderia cada um daqueles corpos
reconstituir-se com os mesmos elementos? Há aí
impossibilidade material. Racionalmente, pois, não se
pode admitir a ressurreição da carne, senão como uma
figura simbólica do fenômeno da reencarnação. E, então,
nada mais há que aberre da razão, que esteja em
contradição com os dados da Ciência.
É exato que, segundo o dogma, essa ressurreição só no
fim dos tempos se dará, ao passo que, segundo a doutrina
Espírita, ocorre todos os dias. Mas, nesse quadro do
julgamento final, não haverá uma grande e bela imagem a
ocultar, sob o véu da alegoria, uma dessas verdades
imutáveis, em presença das quais deixará de haver
cépticos, desde que lhes seja restituída a verdadeira
significação? Dignem-se de meditar a teoria espírita
sobre o futuro das almas e sobre a sorte que lhes cabe,
por efeito das diferentes provas que lhes cumpre sofrer,
e verão que, exceção feita da simultaneidade, o juízo
que as condena ou absolve não é uma ficção, como pensam
os incrédulos. Notemos mais que aquela teoria é a
consequência natural da pluralidade dos mundos, hoje
perfeitamente admitida, enquanto que, segundo a doutrina
do juízo final, a Terra passa por ser o único mundo
habitado.[4]
Ainda no primeiro parágrafo do referido e elucidativo
comentário Kardeciano que acabamos de ver, não podemos
deixar de lado as frases: "Efetivamente, a Ciência
demonstra a impossibilidade da ressurreição, segundo a
ideia vulgar". E fala mais: [...] "Há aí impossibilidade
material. Racionalmente, pois, não se pode admitir a
ressurreição da carne, senão como uma figura simbólica
do fenômeno da reencarnação".
Sinto, sinto muito nós ainda contarmos em nossas
fileiras, com os chamados “Espiritólicos” (Espíritas e
Católicos) ou “Espiritantes” (Espíritas e Protestantes).
Obs.: Aqui não vai nenhum comentário pejorativo a essas
religiões citadas.
Uma certeza tenho: “com o tempo e consequentemente com a
reencarnação, todos, absolutamente todos, serão
Espíritas por inteiro”.
[1] ESE,
(PDF), FEB, 112ª. Ed. Cap. 4, it. 4.
[2] LE
(PDF), FEB, 76ª. Ed., q. 1010-1011.
[3] Protetor
da Sociedade Espírita de Paris.
[4] Comentário
de Allan Kardec após as questões 1.010 e 1.011.
|