A
parábola
do filho
pródigo
Esta parábola, anotada por Lucas no capítulo 15:11 a 32,
em brevíssima síntese, diz assim: um pai tinha dois
filhos e o mais novo pediu tudo o que lhe pertencia e
partiu para uma terra longínqua e lá desperdiçou tudo,
vivendo uma vida dissoluta. Como começou a passar
necessidades, sem ter mesmo o que comer, resolve
retornar à casa do pai para pedir guarida. O pai o
recebe com alegria, mandando preparar uma grande festa.
O irmão mais velho, no entanto, recebe o irmão com
revolta, indignado com a atitude do pai, dizendo, entre
tantas coisas, que ele, que sempre estivera com o pai,
nunca havia recebido sequer um cabrito para festejar com
os amigos.
Analisada de maneira superficial e, aliás, o foi por
muitos líderes religiosos, que a utilizaram para
exemplificar como os fiéis deveriam se comportar, ou
seja, arrepender-se dos maus atos praticados. Porém,
somente o arrependimento não basta. Sabemos que a
reparação é palavra de ordem e de justiça divina.
Vejamos assim, o significado de alguns dos símbolos que
nela se encontram e utilizemos em nosso favor como
instrumentos de reflexão: O pai representa Deus e os
dois filhos, a humanidade. As características desses
dois filhos existem na humanidade inteira. O filho
pródigo representa as negatividades do Ego; o filho mais
velho representa as Máscaras do Ego. A Casa do Pai é a
essência divina que todos nós somos.
O ego é uma energia densa formada da ignorância que
envolve a nossa essência divina e que decorre da
simplicidade, da ausência do saber que caracteriza o Ser
em seu princípio. Segundo a mentora Joanna de Ângelis, o
Ego... “é herança do primarismo animal, a ser
direcionado...”. Portanto, o ego em si mesmo não é
negativo, é simplesmente ignorância a ser gradativamente
transformada em nós pelo processo de autoencontro,
caminho através do qual chegamos progressivamente à
perfeição.
A fazenda representa todos os bens que Deus nos oferece
para evoluir, a começar pelos nossos próprios corpos.
Junto com esses bens, que como bênçãos recebemos,
acompanha o livre-arbítrio para usarmos desses recursos
como nos aprouver.
A terra longínqua significa o afastamento da Casa do
Pai, isto é, dos ideais de espiritualidade e
religiosidade. Como a Casa do Pai representa a Essência
Divina, estar em casa guarda a ideia de estarmos em
comunhão conosco mesmos em essência. Na parábola, o pai
sabe que o filho está cometendo um equívoco, mas Deus
respeita as nossas escolhas e, mesmo sabendo que estamos
desviados de suas leis, Ele sabe que cedo ou tarde
retornaremos ao seu convívio.
A postura do filho mais velho, de indignação com a volta
do irmão mais novo ao lar, representa as máscaras do
orgulho, pois parece que ele é o bom filho, cumpridor de
suas obrigações, que estava com o pai por amor. No
entanto, retornando o irmão, ele se revela na sua
essência, ainda plena de orgulho e de todos os
sentimentos que dele derivam, tais como: ciúmes, inveja,
cobiça etc. A postura dele é de pseudoamor e não de
amor. É o indigno que nem se percebe indigno, pelas
máscaras de que se utiliza, assim como tantos em nossa
humanidade. Além disso, a utilização das máscaras do ego
leva à martirização e à vitimização.
Assim, essas atitudes do filho mais velho estão
perfeitamente enquadradas em muitos de nossos
comportamentos, quando nos acreditamos cumpridores de
nossas obrigações, mas, não cumpridores dessas
obrigações de maneira consciente, em comunhão com o Pai.
O cultivo das máscaras é pior do que vivenciar as
negatividades do ego, pois quem se utiliza das máscaras,
cultiva a aparência da bondade acreditando ser o que não
é, e maior dificuldade tem para retornar ao essencial.
Concluindo, essa parábola representa a trajetória de
todos nós, ora agindo como pródigos, ora como servos
dedicados somente na aparência. Até quando?