Artigos

por Martha Triandafelides Capelotto

 

A parábola do filho pródigo


Esta parábola, anotada por Lucas no capítulo 15:11 a 32, em brevíssima síntese, diz assim: um pai tinha dois filhos e o mais novo pediu tudo o que lhe pertencia e partiu para uma terra longínqua e lá desperdiçou tudo, vivendo uma vida dissoluta. Como começou a passar necessidades, sem ter mesmo o que comer, resolve retornar à casa do pai para pedir guarida. O pai o recebe com alegria, mandando preparar uma grande festa. O irmão mais velho, no entanto, recebe o irmão com revolta, indignado com a atitude do pai, dizendo, entre tantas coisas, que ele, que sempre estivera com o pai, nunca havia recebido sequer um cabrito para festejar com os amigos.

Analisada de maneira superficial e, aliás, o foi por muitos líderes religiosos, que a utilizaram para exemplificar como os fiéis deveriam se comportar, ou seja, arrepender-se dos maus atos praticados. Porém, somente o arrependimento não basta. Sabemos que a reparação é palavra de ordem e de justiça divina.

Vejamos assim, o significado de alguns dos símbolos que nela se encontram e utilizemos em nosso favor como instrumentos de reflexão: O pai representa Deus e os dois filhos, a humanidade. As características desses dois filhos existem na humanidade inteira. O filho pródigo representa as negatividades do Ego; o filho mais velho representa as Máscaras do Ego. A Casa do Pai é a essência divina que todos nós somos.

O ego é uma energia densa formada da ignorância que envolve a nossa essência divina e que decorre da simplicidade, da ausência do saber que caracteriza o Ser em seu princípio. Segundo a mentora Joanna de Ângelis, o Ego... “é herança do primarismo animal, a ser direcionado...”. Portanto, o ego em si mesmo não é negativo, é simplesmente ignorância a ser gradativamente transformada em nós pelo processo de autoencontro, caminho através do qual chegamos progressivamente à perfeição.

A fazenda representa todos os bens que Deus nos oferece para evoluir, a começar pelos nossos próprios corpos. Junto com esses bens, que como bênçãos recebemos, acompanha o livre-arbítrio para usarmos desses recursos como nos aprouver.

A terra longínqua significa o afastamento da Casa do Pai, isto é, dos ideais de espiritualidade e religiosidade. Como a Casa do Pai representa a Essência Divina, estar em casa guarda a ideia de estarmos em comunhão conosco mesmos em essência. Na parábola, o pai sabe que o filho está cometendo um equívoco, mas Deus respeita as nossas escolhas e, mesmo sabendo que estamos desviados de suas leis, Ele sabe que cedo ou tarde retornaremos ao seu convívio.

A postura do filho mais velho, de indignação com a volta do irmão mais novo ao lar, representa as máscaras do orgulho, pois parece que ele é o bom filho, cumpridor de suas obrigações, que estava com o pai por amor. No entanto, retornando o irmão, ele se revela na sua essência, ainda plena de orgulho e de todos os sentimentos que dele derivam, tais como: ciúmes, inveja, cobiça etc. A postura dele é de pseudoamor e não de amor. É o indigno que nem se percebe indigno, pelas máscaras de que se utiliza, assim como tantos em nossa humanidade. Além disso, a utilização das máscaras do ego leva à martirização e à vitimização.

Assim, essas atitudes do filho mais velho estão perfeitamente enquadradas em muitos de nossos comportamentos, quando nos acreditamos cumpridores de nossas obrigações, mas, não cumpridores dessas obrigações de maneira consciente, em comunhão com o Pai. O cultivo das máscaras é pior do que vivenciar as negatividades do ego, pois quem se utiliza das máscaras, cultiva a aparência da bondade acreditando ser o que não é, e maior dificuldade tem para retornar ao essencial.

Concluindo, essa parábola representa a trajetória de todos nós, ora agindo como pródigos, ora como servos dedicados somente na aparência. Até quando?




 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita