Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

   

Chico Xavier levantara-se cedo e, ao sair, de charrete, para a fazenda, encontra-se no caminho com o Flaviano, que lhe diz:

— Sabe quem morreu?

— Não!...

— O Juca, seu ex-patrão. Morreu na miséria, Chico, sem ter nem o que comer.

— Coitado! E Chico tira do bolso o lenço e enxuga os olhos. — A que horas é o enterro?

— Creio que vão enterrá-lo a qualquer hora, como indigente, no caixão da Prefeitura, isto é, no rabecão...

Chico medita, emocionado e pede:

— Flaviano, faça-me um favor: vá à casa onde ele desencarnou e peça para esperarem um pouco. Vou ver se lhe arranjo um caixão, mesmo barato.

Flaviano despede-se e parte. Chico desce da charrete. Manda um recado para seu Chefe. Recorda seu ex-patrão, figura humilde de bom servidor, que tanto bem lhe fizera. E ali mesmo, no caminho, envia uma prece a Jesus: “Senhor, trata-se de meu ex-patrão, a quem tanto devo; que me socorreu nos momentos mais angustiosos; que me deu emprego com o qual socorri minha família; que tanto sofreu por minha causa. Que eu lhe pague, em parte, a gratidão que lhe devo. Ajude-me, Senhor”.

E, tirando o chapéu da cabeça e virando-o de copa para baixo, à guisa de sacola, foi bater de porta em porta, pedindo uma esmola para comprar um caixão para enterrar o extinto amigo. Daí a pouco, toda Pedro Leopoldo sabia do sucedido e estava perplexa, senão comovida com o ato do Chico.

Seu pai soube e veio ao seu encontro, tentando demovê-lo daquele peditório.

— Não, meu pai, não posso deixar de pagar tão grande dívida a quem tanto colaborou conosco.

Um pobre cego, muito conhecido em Pedro Leopoldo, é inteirado da nobre ação do Chico, a quem estima. Esbarra com ele:

— Por que tanta pressa, Chico?

— Meu Nego, estou pedindo esmolas para enterrar meu ex-patrão.

— Seu Juca? Já soube. Coitado, tão bom! Espere aí, então, Chico. Tenho aqui algum dinheiro que me deram de esmolas ontem e hoje. E despejou no chapéu do Chico tudo o que havia arrecadado ate ali...

Chico olhou-lhe os olhos mortos e sem luz. Viu-os cheios de lágrimas. Comoveu-se mais.

— Obrigado, meu Nego! Que Jesus lhe pague o sacrifício.

Comprou com o dinheiro esmolado o caixão. Providenciou o enterro. Acompanhou-o até o cemitério. E já tarde, regressou à casa. Tinha vivido um grande dia. Sentou-se à entrada da porta. Lá dentro, os irmãos e o pai observavam-no comovidos. Em prece muda, agradeceu a Jesus. Emmanuel lhe aparece e lhe sorri. O sorriso de seu bondoso Guia lhe diz tudo. Chico o entende. Ganhara o dia, pagara uma dívida e dera de si um testemunho de humildade, de gratidão e de amor ao Divino Mestre.

 

Do livro Lindos casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita