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por Rodinei Moura

 

Responsabilidade no mesmo grau que o conhecimento


Parece muito simples concordar com essa afirmação, sem que, na maioria das vezes, apliquemos seu efeito prático a nós mesmos. Todo aquele que tem mais conhecimento será mais cobrado pela sua consciência, já que, de acordo com a questão 621 de O Livro dos Espíritos, é nessa sentinela que habitam as leis divinas. 

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo III, diferentes categorias de mundos habitados, mais especificamente no item treze desse capítulo, Mundo de Expiações e Provas, temos algumas afirmações que nos fazem refletir sobre aqueles que muitas vezes julgamos bárbaros nesse nosso mundo. E que até o são, mas que estão mais de acordo com sua evolução do que aqueles que são intelectualmente avançados. Ou, ainda, podemos afirmar que eles têm mais direito de errar do que os que se julgam inteligentes. 

Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa forma, são exóticos na Terra; já viveram noutros mundos, donde foram excluídos em consequência da sua obstinação no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de perturbação para os bons. Tiveram de ser degredados, por algum tempo, para o meio de Espíritos mais atrasados, com a missão de fazer que estes últimos avançassem, pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen dos conhecimentos que adquiriram. Daí vem que os Espíritos em punição se encontram no seio das raças mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que de mais amargor se revestem os infortúnios da vida. É que há nelas mais sensibilidade, sendo, portanto, mais provadas pelas contrariedades e desgostos do que as raças primitivas, cujo senso moral se acha mais embotado. E. S. E., capítulo III.

É muito natural que aqueles que têm mais conhecimento queiram instruir os que não têm. Assim como têm uma facilidade maior para enxergar o que é certo e o que é errado. Mas isso não significa que devam julgar e condenar quem quer que seja. Que se deva perder tempo com revoltas inúteis de que nada acrescentam na melhora do mundo que habitamos. Ou, ainda, olhando de cima, acreditando que somos melhores. 

O conhecimento contido nas obras básicas de Kardec nos mostra que tem uma espiritualidade cuidando dos mundos e que nada está fora das leis divinas. O Espiritismo não veio trazer a nós promessas de mudanças mágicas e repentinas. Mas nos esclarecer sobre o porquê de nosso sofrimento, das misérias humanas. 

A doutrina dos Espíritos, legado esse que entende que todo aquele que tem uma facilidade intelectual deve se preocupar em passar para frente, vem acima de tudo nos confortar e não nos isentar das provas e expiações pelas quais temos que passar, pois são na verdade o que nos proporciona a oportunidade de evolução. Nós somente crescemos através das reencarnações sucessivas em contato com as diferenças, que, mesmo não aceitando, somos obrigados a reconhecer que as pessoas têm o livre-arbítrio assim como nós mesmos. 

Façamos uma comparação com a escola tradicional. Se nós fomos reprovados numa série, por mais que não tenhamos o conhecimento necessário para seguir para a série seguinte, teremos mais facilidade, via de regra, do que aquele que está chegando agora nessa mesma série. Já vimos aulas e fizemos provas e trabalhos que eles ainda não viram. E, portanto, seria de uma pequenez tremenda qualquer deboche de nossa parte para com esses nossos colegas de jornada. Ainda que não possamos aprovar certas atitudes, não nos cabe julgar, a propósito do que já nos advertiu Jesus: na mesma medida que julgares, serás também julgado. Mateus, 7:1-5.

Dizem os psicólogos, aliás, que julgar é uma fuga. Pois quando agimos dessa forma estamos deixando de cuidar da nossa evolução, do nosso crescimento interior, para cuidar de uma vida que não nos pertence. Que não podemos mudar senão através de nossos exemplos e, ainda assim, se a pessoa quiser, e trabalhar isso em prol de sua mudança. 

A nossa mudança interior, a nossa evolução, é a única sob a qual temos o controle. Portanto, é para ela que temos de direcionar todos os nossos esforços, toda a nossa energia. Sem medo de sermos egoístas. Pois, como dito acima, podemos influenciar as pessoas através de nosso comportamento, muito mais do que através de nossas palavras e tentativas de imposições. 

Que o consolador prometido seja, então, nosso guia. Que possamos entender que esse é um manual do bem viver que lemos para nós. E que dependendo de quanto tenhamos aprendido a amar, ele será lido em nós. 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita