Mensagem
de
Georges
sobre os
Espíritos
puros
(Parte 2 e final)
Dito isso, vamos ao que nos interessa. Na Revista
Espírita 1860, mês de outubro, foi publicada a
mensagem “Os Espíritos Puros”, pela médium Sra. Costel e
assinada por Georges, um Espírito superior, que se não
prestarmos bem a atenção no que disse, poderá não
corresponder ao que, até aqui, nós vimos:
Os puros Espíritos são aqueles que, chegados ao mais
alto grau da perfeição,
são julgados dignos de ser admitidos aos pés de Deus. O
infinito esplendor que os envolve não os dispensa de ser
úteis nas obras da Criação: as funções que devem
preencher correspondem à extensão de suas faculdades.
Esses Espíritos são os ministros de Deus; sob
suas ordens, regem os mundos inumeráveis; dirigem do
alto os Espíritos e os humanos; […].
Sua forma é etérea, nada tendo de palpável; falam aos
Espíritos superiores e lhes comunicam sua ciência;
tornam-se infalíveis. Em suas fileiras é que são
escolhidos os anjos da guarda, que bondosamente baixam o
olhar sobre os mortais, e os recomendam aos Espíritos
superiores, que os amaram. Estes escolhem os
agentes de sua direção nos Espíritos de segunda ordem.
[…]. (KARDEC, Revista Espírita 1860, p. 471-472,
grifo nosso.)
No primeiro parágrafo, confirma-se o que já foi dito a
respeito da missão dos Espíritos puros: “ministros de
Deus, que sob suas ordens, regem os mundos inumeráveis”.
No último, a impressão que se tem é que os anjos da
guarda são escolhidos entre os Espíritos puros, caso se
queira denominar assim aqueles que governam e os que
protegem os mundos, que são missões especiais, porém,
não quanto ao anjo da guarda de famílias e indivíduos.
O trecho “Em suas fileiras é que são escolhidos os anjos
da guarda, que bondosamente baixam o olhar sobre os
mortais, e os recomendam aos Espíritos superiores, que
os amaram” para melhor entendimento, pode ser resumido
da seguinte forma “Em suas fileiras é que são escolhidos
os anjos da guarda e os recomendam aos Espíritos
superiores”.
Se disso entendermos que os Espíritos puros escolhem
entre os Espíritos superiores aqueles que terão a missão
de anjo da guarda, tudo bem, pois isso é condizente com
o que foi dito pelo Codificador a respeito dos Espíritos
puros: “Comandam todos os Espíritos que lhes são
inferiores, ajudando-os a se aperfeiçoarem e lhes
designam missões” (KARDEC, O Livro dos Espíritos,
Petit, p. 76, grifo nosso.)
Entretanto, caso optarmos em considerar que os anjos da
guarda são escolhidos entre os Espíritos puros, então
tudo quanto foi dito, nas várias obras da Codificação,
que julgamos necessário relembrar, deve ser
desconsiderado.
Isso para nós faz sentido, porquanto, ainda no mês de
outubro, numa outra mensagem intitulada “O Despertar
do Espírito”, Georges afirma que “[…] não há
relações amistosas entre os Espíritos errantes;
aqueles mesmos que se amaram não trocam sinais de
reconhecimento; […]” (KARDEC, Revista Espírita 1860,
p. 476, grifo nosso.)
Essa afirmação causou tanta estranheza, que forçou Allan
Kardec a escrever o artigo “Relações afetuosas dos
Espíritos”, publicado em novembro, para explicar a
todos, o que, na realidade, Georges queria dizer:
[…] É preciso daí concluir que os Espíritos errantes
não são forçosamente privados, mas podem ser privados
dessas comunicações, se tal for a punição a eles imposta.
Como diz Georges em outra passagem: “Essa privação
momentânea lhes dá mais ardor para atingirem o momento
em que as provas realizadas lhes devolverão o objeto de
sua afeição”. Portanto, essa privação não é o estado
normal dos Espíritos errantes, mas uma expiação para os
que a mereceram, uma das mil e uma variedades que
nos esperam na outra vida, quando tivermos desmerecido
nesta. (KARDEC, Revista Espírita 1860, p.
503-504, grifo nosso.)
Como Allan Kardec jamais considerou os Espíritos seres
infalíveis, sempre ficou atento ao que diziam. Nós o
vemos, muitas vezes, esclarecendo pontos obscuros ou
alguns que viessem a contrariar informações ou fatos
anteriores, como ocorreu no presente caso.
Em O
Evangelho segundo o Espiritismo,
o Codificador, referindo-se ao Controle Universal do
Ensino dos Espíritos, entre várias coisas, disse:
[…] com relação a tudo que esteja fora do âmbito do
ensino exclusivamente moral, as revelações que cada
um possa receber terão caráter individual, sem cunho de
autenticidade; que devem ser consideradas como opiniões
pessoais de tal ou qual Espírito e que seria
imprudente aceitá-las e propagá-las levianamente como
verdades absolutas. (KARDEC, O Evangelho segundo o
Espiritismo, p. 17, grifo nosso.)
[…] É que tiveram o apoio dos Espíritos, cuja boa
vontade não só compensou, como também superou o
malquerer dos homens. Assim sucederá a todas as
ideias que, emanando dos Espíritos ou dos homens, não
possam suportar a prova desse controle, cujo poder
ninguém pode contestar. (KARDEC, O Evangelho segundo
o Espiritismo, p. 19, grifo nosso.)
Para nós, fica bem claro que nenhuma opinião pessoal,
seja de Espíritos ou de homens, deve prevalecer diante
da opinião da maioria.
Por outro lado, a nosso ver, não faz o menor sentido se
ter o anjo da guarda como sendo Espírito puro. É o mesmo
que aceitar que seja atribuída a um professor com
doutorado a missão de dar aulas a crianças do maternal.
Imagine, caro leitor, cada um de nós ter como anjo de
guarda um Espírito com o mesmo nível evolutivo de Jesus.
Onde reside a lógica para se aceitar isso?
Mas encontramos algo bem interessante na mesma Revista
Espírita 1860,
mês de outubro. Trata-se do artigo intitulado “Sobre o
valor das comunicações espíritas”, assinado pelo Sr.
Jobard, de Bruxelas, do qual destacamos o seguinte
trecho:
[…] quanto aos Espíritos celestes, ou de uma ordem
transcendental, é raro vê-los se comunicarem com os
indivíduos que ainda não chegou o tempo para com
eles falar; eles presidem aos destinos das nações e
às grandes catástrofes, às grandes evoluções dos globos
e das Humanidades; eles trabalham neste momento,
esperemos com recolhimento as grandes coisas que vão
chegar: Renovabunt fadem terra. (KARDEC, Revista
Espírita 1860, p. 311, grifo nosso.)
As missões dos Espíritos puros são de grande alcance
coletivo, conforme podemos entender. E se “é raro vê-los
se comunicarem com os indivíduos”, jamais poderiam ser
anjos da guarda deles.
Na Revista Espírita 1861, meses de janeiro
(KARDEC, Revista Espírita 1861, FEB, p. 35-46) e
fevereiro (KARDEC, Revista Espírita 1861, FEB, p.
79-88), foi publicado o artigo “Carta sobre a
incredulidade”, assinado pelo Sr. Alexandre Canu,
secretário da Sociedade Espírita de Paris (KARDEC, Revista
Espírita 1863, p. 298):
O Espírito familiar, que até certo ponto confirma a
teoria católica do anjo-da-guarda, não é,
entretanto, exatamente aquilo que nos apresenta o dogma
católico. É simplesmente o Espírito de um mortal, que
viveu como nós, mas que é muito mais adiantado que nós
e, consequentemente, nos é infinitamente superior em
bondade e em inteligência; que realiza uma missão
meritória para si, proveitosa para nós, desse modo nos
acompanhando neste mundo e no outro, até sermos chamados
a uma nova encarnação, ou até que nós mesmos,
chegados a um certo grau de superioridade, sejamos
chamados a realizar, na outra vida, missão semelhante
junto a um mortal menos evoluído do que nós.
(KARDEC, Revista Espírita 1861, FEB, p. 86, grifo
nosso.)
Essa visão externada pelo Sr. Canu, ao nosso sentir, tem
uma chance muito grande de representar a opinião dos
membros da Sociedade Espírita de Paris. Julgamos até que
há boa possibilidade desse tema ter sido motivo de
discussões entre eles, incluindo, obviamente, Allan
Kardec, já que ele era o presidente da Sociedade.
Não descartamos a probabilidade de que, nas
manifestações de Espíritos, o assunto foi ventilado.
Como exemplo, podemos citar Girard de Codemberg, autor
da obra O Mundo espiritual, ou ciência cristã de
comunicar intimamente com as potências celestes e as
almas felizes, da qual Allan Kardec disse: “Esta
obra contém comunicações excêntricas que denotam uma
obsessão manifesta” (KARDEC, Revista Espírita 1862,
p. 118). Em novembro de 1861, em Bordeaux, o Espírito
Girard foi evocado, do diálogo registrado na Revista
Espírita 1862,
destacamos o seguinte trecho:
P. – Numa passagem de vossa obra, que tenho em mãos,
dissestes: “Perguntam à mesa o nome do meu anjo-da-guarda
que, conforme a crença americana, é apenas uma alma
feliz, tendo vivido nossa vida terrena e que, por
conseguinte, deve ter um nome na sociedade humana”.
Essa crença, dizeis, é uma heresia. Que pensais
hoje dessa heresia?
Resp. –
Disse-vos que tinha visto mal, porque, inexperiente na
prática do Espiritismo, aceitei como verdades os
princípios que me eram ditados por Espíritos levianos e
impostores. Mas, em presença de verdadeiros e sinceros
espíritas que aqui se acham reunidos nesta noite, confesso
que o anjo-da-guarda, ou Espírito protetor, outra coisa
não é senão o Espírito que chegou ao progresso moral e
intelectual pelas diversas fases percorridas em suas
encarnações nos diferentes mundos, e que a
reencarnação, que eu negava, é a mais sublime e a maior
prova da justiça de nosso Pai, que está no céu, e que
não quer a nossa perda, mas a nossa felicidade.
(KARDEC, Revista Espírita 1862, FEB, p. 168,
grifo nosso.)
Da afirmativa de que “chegou ao progresso moral e
intelectual” julgamos tratar-se de Espírito de segunda
ordem, uma vez que “[…] uns têm a ciência, outros a
sabedoria e a bondade. Os mais adiantados aliam o
saber às qualidades morais. […]” (KARDEC, O Livro dos
Espíritos, p. 94, grifo nosso). Como os Espíritos
puros têm “[…] Superioridade intelectual e moral
absoluta, com relação aos Espíritos das outras
ordens” (KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 96,
grifo nosso), entendemos que existe uma graduação em
cada um dos progressos, ou seja, moral e intelectual.
Fonte: SILVA NETO SOBRINHO, P. Anjos
da guarda, a que ordem e classe pertencem? Para
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Referência bibliográfica:
KARDEC, A. A Gênese. São Paulo:
FEAL, 2018.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno.
Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. O Evangelho segundo o
Espiritismo. Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos.
Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos.
(PDF) São Paulo: Petit, 2001.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns.
Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. Revista Espírita 1860.
Araras (SP): IDE, 2000.
KARDEC, A. Revista Espírita 1861.
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MAIA, J. N. Filosofia Espírita –
Volume X. (PDF) Belo Horizonte: Fonte Viva, 1987.