Entusiasmo frente às adversidades da vida
A sociedade parece ser movida por grandes ciclos de
transformações, tal como uma repetição de momentos com
formação de padrões, sejam tristes ou felizes. Por
exemplo, no final do século XIX havia uma grande
esperança no mundo com as exposições mundiais de ciência
e tecnologia, tais como a exposição de Londres em 1851,
ou a de Paris em 1889. Nesta última, em especial, foi
marcada pela inauguração da torre Eiffel na entrada do
parque. Posteriormente, a mesma foi aceita como símbolo
da cidade luz. Do sentimento de pujança humana e de
controle sobre a natureza vem o orgulho descuidado que
leva a desastres posteriores, como é o caso do naufrágio
do Titanic (1912), maior navio construído até então, ou
a explosão do dirigível Hindenburg (1937). O orgulho e a
vaidade desenfreada culminaram na extravasão da
violência em duas grandes guerras mundiais, e um rastro,
não apenas de destruição, mas também de pessimismo com o
futuro. O niilismo como cartilha filosófica, o
descrédito das matérias humanistas, sendo muitas vezes
apossadas como agendas distorcidas de poder e corrupção,
bem como o próprio esvaziamento da fé no velho
continente, o que provocou a transformação de muitas
imponentes catedrais e igrejas em pontos turísticos aos
viajantes sedentários por boas fotos, ao invés das
vibrações e conhecimentos edificantes. Isso fragilizou a
humanidade, em especial no velho continente, aos embates
necessários de reerguimento. Sem mistério, nesta mesma
condição, vem a sensação de vazio existencial, da busca
incessante e implacável pelo prazer a todo custo, a toda
hora e que perdura sem esforços. Vidas são esvaziadas
pelos vícios, pela comodidade do bem-estar momentâneo,
pela falsa higiene de não se misturar com o que é sujo,
feio e fedido. A separação da realidade - seja por meios
virtuais, seja pelas altas paredes de condomínios -
priva muitos seres de um senso maior de pertencimento. A
luz das estrelas parece já não brilhar tão alto nas
grandes cidades que não têm mais céu noturno. Sempre é
dia, sempre é tempo para exercitar-se na cidade, seja
no gym ou no office. Todavia, como bênção
e esperança de volta dos filhos pródigos, somos
compelidos a repensar nossa própria vida, bem como os
padrões a serem adotados e seguidos.
Se antes a catedral era ponto turístico, por exemplo, a
chama ainda não se apagou. A fé e a boa palavra também
podem ser propagadas por meio da internet e de outros
meios. A família se reuniu novamente em torno da mesa. O
debate do desencarne, por exemplo, que antes era tabu,
hoje é uma reflexão diária. As férias em praias
paradisíacas, hoje, são realizadas no próprio lar, para
aqueles que souberam transformar a casa em altar de
comunhão e fé.
Somos compelidos para o alto, mas não podemos esquecer
de quem está no comando. O orgulho, a vaidade e o
egoísmo precisam ser combatidos como a principal praga
que atinge a humanidade há séculos e vem ceifando
esperanças e oportunidades no caminho da verdade e da
vida. As transformações pessoais pedem urgência, pois a
velocidade de mudanças é gradativa e ela começou há
tempos. Nada se faz de improviso no plano espiritual.
Assim, tenhamos em conta, por exemplo, as lições
deixadas por Emmanuel - o Deus conosco - e enfrentamos a
adversidade com entusiasmo. Esta palavra tem sua origem
no Grego enthousiasmos que significa “ter um Deus
interior” ou estar possuído por um Deus interior. Com
entusiasmo e com as luzes do amor e do conhecimento de
Cristo e da Boa Nova, não há nada a temer. Com
entusiasmo frente às dificuldades podemos ser aqueles
que aprenderam a riscar o ‘s’ da crise ou o ‘z’ da paz.
O entusiasmo maternal que a tudo abraça, educa e
transforma sem nada exigir em troca. O bem querer e a
caridade pura. Nestas horas de transição, lembremos de
Maria de Nazaré e de todas as outras mães que, com
firmeza e dedicação, amaram seus filhos com a certeza de
um mundo melhor.
As mudanças pedem passagem. Sejamos como aqueles que
escutaram o toque do clarim e que prontamente se
dispuseram ao trabalho sério e disciplinado, com
entusiasmo e amor. Nosso Deus interior frente ao
trabalho honra nossas mães e nos abre caminhos para
voltarmos ao seio do paraíso e do reencontro desejado. (1)
(1) Em
homenagem a todas as mães, em especial para a minha -
Ioko Ikefuti Hayashi (in memoriam).
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