Artigos

por Paulo Hayashi Jr.

 

Entusiasmo frente às adversidades da vida


A sociedade parece ser movida por grandes ciclos de transformações, tal como uma repetição de momentos com formação de padrões, sejam tristes ou felizes. Por exemplo, no final do século XIX havia uma grande esperança no mundo com as exposições mundiais de ciência e tecnologia, tais como a exposição de Londres em 1851, ou a de Paris em 1889. Nesta última, em especial, foi marcada pela inauguração da torre Eiffel na entrada do parque. Posteriormente, a mesma foi aceita como símbolo da cidade luz. Do sentimento de pujança humana e de controle sobre a natureza vem o orgulho descuidado que leva a desastres posteriores, como é o caso do naufrágio do Titanic (1912), maior navio construído até então, ou a explosão do dirigível Hindenburg (1937). O orgulho e a vaidade desenfreada culminaram na extravasão da violência em duas grandes guerras mundiais, e um rastro, não apenas de destruição, mas também de pessimismo com o futuro. O niilismo como cartilha filosófica, o descrédito das matérias humanistas, sendo muitas vezes apossadas como agendas distorcidas de poder e corrupção, bem como o próprio esvaziamento da fé no velho continente, o que provocou a transformação de muitas imponentes catedrais e igrejas em pontos turísticos aos viajantes sedentários por boas fotos, ao invés das vibrações e conhecimentos edificantes. Isso fragilizou a humanidade, em especial no velho continente, aos embates necessários de reerguimento. Sem mistério, nesta mesma condição, vem a sensação de vazio existencial, da busca incessante e implacável pelo prazer a todo custo, a toda hora e que perdura sem esforços. Vidas são esvaziadas pelos vícios, pela comodidade do bem-estar momentâneo, pela falsa higiene de não se misturar com o que é sujo, feio e fedido. A separação da realidade - seja por meios virtuais, seja pelas altas paredes de condomínios - priva muitos seres de um senso maior de pertencimento. A luz das estrelas parece já não brilhar tão alto nas grandes cidades que não têm mais céu noturno. Sempre é dia, sempre é tempo para exercitar-se na cidade, seja no gym ou no office. Todavia, como bênção e esperança de volta dos filhos pródigos, somos compelidos a repensar nossa própria vida, bem como os padrões a serem adotados e seguidos.

Se antes a catedral era ponto turístico, por exemplo, a chama ainda não se apagou. A fé e a boa palavra também podem ser propagadas por meio da internet e de outros meios. A família se reuniu novamente em torno da mesa. O debate do desencarne, por exemplo, que antes era tabu, hoje é uma reflexão diária. As férias em praias paradisíacas, hoje, são realizadas no próprio lar, para aqueles que souberam transformar a casa em altar de comunhão e fé.

Somos compelidos para o alto, mas não podemos esquecer de quem está no comando. O orgulho, a vaidade e o egoísmo precisam ser combatidos como a principal praga que atinge a humanidade há séculos e vem ceifando esperanças e oportunidades no caminho da verdade e da vida. As transformações pessoais pedem urgência, pois a velocidade de mudanças é gradativa e ela começou há tempos. Nada se faz de improviso no plano espiritual. Assim, tenhamos em conta, por exemplo, as lições deixadas por Emmanuel - o Deus conosco - e enfrentamos a adversidade com entusiasmo. Esta palavra tem sua origem no Grego enthousiasmos que significa “ter um Deus interior” ou estar possuído por um Deus interior. Com entusiasmo e com as luzes do amor e do conhecimento de Cristo e da Boa Nova, não há nada a temer. Com entusiasmo frente às dificuldades podemos ser aqueles que aprenderam a riscar o ‘s’ da crise ou o ‘z’ da paz. O entusiasmo maternal que a tudo abraça, educa e transforma sem nada exigir em troca. O bem querer e a caridade pura. Nestas horas de transição, lembremos de Maria de Nazaré e de todas as outras mães que, com firmeza e dedicação, amaram seus filhos com a certeza de um mundo melhor.

As mudanças pedem passagem. Sejamos como aqueles que escutaram o toque do clarim e que prontamente se dispuseram ao trabalho sério e disciplinado, com entusiasmo e amor. Nosso Deus interior frente ao trabalho honra nossas mães e nos abre caminhos para voltarmos ao seio do paraíso e do reencontro desejado. (1)

 


(1) Em homenagem a todas as mães, em especial para a minha - Ioko Ikefuti Hayashi (in memoriam).


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita