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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

É prazeroso corresponder prontamente?


A pergunta que enseja o presente artigo deveria ser objeto de exame de todos nós. Corresponder, na sua acepção mais simplória, deveria ser entendido como o ato de atender, dar atenção ou reciprocar e, de minha parte, respondo desde já à questão proposta afirmativamente. Creio, sim, que carregar tal entendimento faz de seu portador um ser diferenciado, particularmente nesses tempos de afastamento social e enorme aridez nas relações humanas.

Parto, aliás, de uma premissa básica e elementar devidamente esclarecida por Jesus, a saber: E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também” (Lucas 6:31). Ou ainda, como abordado em outro ensinamento: “Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?” (Mateus 18: 33).

Como fiel e perfeito transmissor da sabedoria divina, Jesus lembrou-nos no versículo acima dos construtos da compaixão e da misericórdia, que poderiam ser perfeitamente associados ao ato de corresponder de maneira imediata. Afinal de contas, somos instados à solução e/ou encaminhamento de inúmeras situações e acontecimentos – terreno fértil, aliás, para colocá-los em prática – em nossa rotina diária. Sendo assim, analisá-los sob as lentes espiritistas e ponderar como reagimos a eles, certamente nos ajudarão a evoluir espiritualmente. Com efeito, todos nós precisamos do auxílio de alguém, especialmente nos momentos de adversidade.

Todos nós estamos sujeitos a ser fortemente atingidos pelas intempéries ou rigores existenciais. Não há nenhum ser inteligente neste planeta isento de aborrecimentos ou dissabores. Desse modo, na vida, de uma hora para outra, as coisas podem subitamente mudar, e os reveses nos alcançar. Sendo essa a realidade inexorável decorrente da nossa condição evolutiva ainda muito imperfeita, quando estamos passando por dificuldades – sejam elas quais forem – esperamos que sejam muito breves. Desejamos que as eventuais angústias e aflições sejam rapidamente superadas, e as coisas voltem ao seu curso normal. Mas, infelizmente, nem sempre é assim.

As agruras momentâneas podem ser consideravelmente aumentadas se faltar o sopro compassivo e misericordioso por parte daqueles a quem recorremos. Às vezes batemos à porta de alguém com sofreguidão ou desespero, e a ajuda não chega. Para melhor ilustrar o raciocínio descreverei em breves palavras um caso recentemente ocorrido com pessoas de minha relação de amizade. Ou seja, a mãe (octogenária) de um amigo meu foi submetida a um delicado procedimento cirúrgico visando à limpeza e eventual retirada de resquícios de um tumor na bexiga (extraído dois meses antes). Realizada a intervenção médica, logo depois, já na sala de recuperação, a pobre mulher (consciente) começou a sentir fortes dores na citada região do corpo. O efeito da anestesia havia cessado e a suplementar (pós-operatório) não havia lhe sido aplicada.

   Previsivelmente as dores aumentaram ainda mais tornando-se lancinantes com o passar do tempo. Embora a pobre mulher já houvesse se queixado às seis técnicas de enfermagem presentes na sala de recuperação – que estavam, a propósito, animadas numa conversa extemporânea –, nenhuma ajuda concreta lhe fora prestada. Pelo contrário. Em dado momento, sentindo imenso desconforto e mal-estar elevou a voz quase aos gritos. Só depois dessa dramática iniciativa apareceu uma mulher – algo meio contrariada, segundo a sua percepção – identificando-se como médica.

Ao ser informada pela paciente sobre o seu doloroso estado, ainda tentou argumentar que aquilo era “normal” devido ao escopo da cirurgia. Diante de tamanha insensibilidade, a mãe do meu amigo, indignada, acabou, enfim, ponderando se estava num centro cirúrgico ou num açougue, já que o seu estado não estava sendo, de fato, levado em conta. A partir desse arroubo, a médica, enfim, prescreveu urgente aplicação de morfina e outras substâncias para alívio da paciente anciã.

Moral da história: não poderiam ter sido tomadas providências adequadas a priori? É claro que sim. Todavia, não havia naquele ambiente pessoas verdadeiramente dispostas a corresponder às necessidades – alívio da dor – da paciente de maneira pontual. Apesar de tratar-se de um exemplo extremo de falta de solidariedade humana, o fato é que muitas vezes apelamos – até mesmo em situações menos desesperadoras – aos outros e não somos ouvidos.

Não raro, nossos interlocutores não demonstram empatia ou sequer senso de dever. Por conseguinte, a nossa cruz torna-se desnecessariamente mais pesada. No que concerne ao simpatizante ou sincero profitente da Boa Nova (o Espiritismo), espera-se atitudes mais decisivas e rápidas, particularmente quando o bem-estar do “outro” está em questão.

Servir aos semelhantes é providência benéfica não apenas aos necessitados, mas também ao protagonista do ato misericordioso. Recordemos Jesus, uma vez mais, que nos ensinou: Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve” (Lucas 22:27). Ora, se uma entidade espiritual do porte de Jesus assim se colocou, não há por que imaginar que seria algo diferente em relação a nós.

Assim sendo, estendamos os nossos braços e mãos para amparar aqueles que precisam de nós. É sempre prazeroso minorar o sofrimento de alguém prontamente.


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita