É
prazeroso corresponder
prontamente?
A pergunta que enseja o
presente artigo deveria
ser objeto de exame de
todos nós. Corresponder,
na sua acepção mais
simplória, deveria ser
entendido como o ato de
atender, dar atenção ou
reciprocar e, de minha
parte, respondo desde já
à questão proposta
afirmativamente. Creio,
sim, que carregar tal
entendimento faz de seu
portador um ser
diferenciado,
particularmente nesses
tempos de afastamento
social e enorme aridez
nas relações humanas.
Parto, aliás, de uma
premissa básica e
elementar devidamente
esclarecida por Jesus, a
saber: “E
como vós quereis que os
homens vos façam, da
mesma maneira lhes fazei
vós, também” (Lucas
6:31).
Ou ainda, como abordado
em outro ensinamento: “Não
devias tu, igualmente,
ter compaixão do teu
companheiro, como eu
também tive misericórdia
de ti?” (Mateus
18: 33).
Como fiel e perfeito
transmissor da sabedoria
divina, Jesus
lembrou-nos no versículo
acima dos construtos da
compaixão e da
misericórdia, que
poderiam ser
perfeitamente associados
ao ato de corresponder
de maneira imediata.
Afinal de contas, somos
instados à solução e/ou
encaminhamento de
inúmeras situações e
acontecimentos – terreno
fértil, aliás, para
colocá-los em prática –
em nossa rotina diária.
Sendo assim, analisá-los
sob as lentes
espiritistas e ponderar
como reagimos a eles,
certamente nos ajudarão
a evoluir
espiritualmente. Com
efeito, todos nós
precisamos do auxílio de
alguém, especialmente
nos momentos de
adversidade.
Todos nós estamos
sujeitos a ser
fortemente atingidos
pelas intempéries ou
rigores existenciais.
Não há nenhum ser
inteligente neste
planeta isento de
aborrecimentos ou
dissabores. Desse modo,
na vida, de uma hora
para outra, as coisas
podem subitamente mudar,
e os reveses nos
alcançar. Sendo essa a
realidade inexorável
decorrente da nossa
condição evolutiva ainda
muito imperfeita, quando
estamos passando por
dificuldades – sejam
elas quais forem –
esperamos que sejam
muito breves. Desejamos
que as eventuais
angústias e aflições
sejam rapidamente
superadas, e as coisas
voltem ao seu curso
normal. Mas,
infelizmente, nem sempre
é assim.
As agruras momentâneas
podem ser
consideravelmente
aumentadas se faltar o
sopro compassivo e
misericordioso por parte
daqueles a quem
recorremos. Às vezes
batemos à porta de
alguém com sofreguidão
ou desespero, e a ajuda
não chega. Para melhor
ilustrar o raciocínio
descreverei em breves
palavras um caso
recentemente ocorrido
com pessoas de minha
relação de amizade. Ou
seja, a mãe
(octogenária) de um
amigo meu foi submetida
a um delicado
procedimento cirúrgico
visando à limpeza e
eventual retirada de
resquícios de um tumor
na bexiga (extraído dois
meses antes). Realizada
a intervenção médica, logo
depois, já na sala de
recuperação, a pobre
mulher (consciente)
começou a sentir fortes
dores na citada região
do corpo. O efeito da
anestesia havia cessado
e a suplementar
(pós-operatório) não
havia lhe sido aplicada.
Previsivelmente as
dores aumentaram ainda
mais tornando-se
lancinantes com o passar
do tempo. Embora a pobre
mulher já houvesse se
queixado às seis
técnicas de
enfermagem presentes
na sala de recuperação –
que estavam, a
propósito, animadas numa
conversa extemporânea –,
nenhuma ajuda concreta
lhe fora prestada. Pelo
contrário. Em dado
momento, sentindo imenso
desconforto e mal-estar
elevou a voz quase aos
gritos. Só depois dessa
dramática iniciativa
apareceu uma mulher –
algo meio contrariada,
segundo a sua percepção
– identificando-se como
médica.
Ao ser informada pela
paciente sobre o seu
doloroso estado, ainda
tentou argumentar que
aquilo era “normal”
devido ao escopo da
cirurgia. Diante de
tamanha insensibilidade,
a mãe do meu amigo,
indignada, acabou,
enfim, ponderando se
estava num centro
cirúrgico ou num
açougue, já que o seu
estado não estava sendo,
de fato, levado em
conta. A partir desse
arroubo, a médica,
enfim, prescreveu
urgente aplicação de
morfina e outras
substâncias para alívio
da paciente anciã.
Moral da história: não
poderiam ter sido
tomadas providências
adequadas a priori? É
claro que sim. Todavia,
não havia naquele
ambiente pessoas
verdadeiramente
dispostas a corresponder
às necessidades – alívio
da dor – da paciente de
maneira pontual. Apesar
de tratar-se de um
exemplo extremo de falta
de solidariedade humana,
o fato é que muitas
vezes apelamos – até
mesmo em situações menos
desesperadoras – aos
outros e não somos
ouvidos.
Não raro, nossos
interlocutores não
demonstram empatia ou
sequer senso de dever.
Por conseguinte, a nossa
cruz torna-se
desnecessariamente mais
pesada. No que concerne
ao simpatizante ou
sincero profitente da
Boa Nova (o
Espiritismo), espera-se
atitudes mais decisivas
e rápidas,
particularmente quando o
bem-estar do “outro”
está em questão.
Servir aos semelhantes é
providência benéfica não
apenas aos necessitados,
mas também ao
protagonista do ato
misericordioso.
Recordemos Jesus, uma
vez mais, que nos
ensinou: “Eu,
porém, entre vós, sou
como aquele que serve” (
Assim sendo, estendamos
os nossos braços e mãos
para amparar aqueles que
precisam de nós. É
sempre prazeroso minorar
o sofrimento de alguém
prontamente.