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por Cláudio Bueno da Silva

 

Por um orçamento justo


Era um domingo à tarde, ouvi que batiam no portão. Pela janela da sala não reconheci quem era, mas como esperava um pedreiro indicado por um amigo, saí e o recebi.

Identificou-se como Borges e desde logo mostrou-se bastante humilde, dizendo que estava à minha disposição e procuraria fazer o melhor. Expliquei ao seu Borges a breve reforma que pretendia fazer na casa e também sobre uma edícula que queria erguer nos fundos da propriedade.

Levei-o a conhecer o local da obra e, enquanto informava das minhas pretensões, vi que ele anotava num papelzinho meio amassado umas coisas que imaginei serem números, talvez. Uma característica sua que me agradou de cara foi seu bom humor. Sem ser inconveniente, em algumas ocasiões soltou umas pilhérias que me fizeram rir.

Depois disso sentamo-nos e, tomando um cafezinho, discutimos o orçamento. Essa foi para mim a parte mais curiosa daquela entrevista. Perguntado sobre quanto ficaria o seu trabalho, seu Borges sacou o papelzinho que guardara no bolso e, com um toco de lápis, passou a fazer contas, pelo menos assim eu entendi. Passado um instante, me dirigiu um olhar que eu diria bem profissional, e me deu o valor. Levei um susto.

Se naquele dia tivesse fechado o acordo naquelas condições, não sei se não sentiria remorso mais tarde. As condições eram tão desfavoráveis para ele que percebi seu acanhamento quando eu aumentei por conta própria, o valor do seu ganho. Praticamente quem avaliou o serviço fui eu, mas era uma atitude que eu precisava tomar em nome do que era justo. O que se deu foi que ele conhecia o seu ofício e isso ficou provado depois, mas nada sabia de orçamento. E comigo se dava o contrário. Fechamos acordo.

Seu Borges acabou se tornando amigo da minha casa. Humilde, cordato, aceitava sugestões e críticas, coisa rara entre certos profissionais.

A obra durou várias semanas e nesse período travamos conversas, e ouvi-o algumas vezes cantando baixinho o que parecia ser música evangélica. Apesar desse aparente perfil religioso, seu Borges demonstrou não ter dificuldade em compreender as explicações de viés espírita que externei em resposta a perguntas que me fazia. Ele confessou participar, vez ou outra, de reuniões no centro espírita e fazer algumas leituras do Evangelho.

Hoje, ao me lembrar disso, fico feliz por não ter querido me aproveitar daquela pessoa simples para levar vantagem sobre o seu suor, seu ganha-pão. Ganhei um amigo, me contentei com o serviço prestado, e não aviltei a minha consciência.

O que fiz foi extraordinário? Absolutamente, não! Apenas alinhei uma atitude de empatia por um ser humano às teorias morais do Espiritismo que sempre defendi. Se tivesse cedido à tentação de ser esperto, além de ludibriar um irmão, daria a ele totais condições de me qualificar como um hipócrita.
 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita