Por que
não elogiar?
A doutrina espírita nos
previne – com acerto,
diga-se – a evitar os
elogios que poderiam,
eventualmente, nos
desviar da missão
abraçada. De fato, tal
ponderação faz sentido
tendo-se em vista que
não poucos se perdem
completamente ao dar azo
aos arroubos do ego
(terrível inimigo do bom
senso e do equilíbrio
humanos). Quantos
médiuns, expositores e
dirigentes de centros já
tombaram dramaticamente
sob o acicate do orgulho
e da vaidade? Certamente
muitos. Nesse sentido, é
indiscutível que
Espíritos malévolos,
profundos conhecedores
das nossas
vulnerabilidades,
exploram com
indiscutível
proficiência nossas
fraquezas. Por isso, é
preciso se precatar
contra tais investidas
das trevas pela via da
conduta humilde e
modesta. Além disso, é
mais prudente deixar o
mérito das realizações à
espiritualidade maior,
que, cumpre ressaltar,
nos guia nas tarefas
redentoras às quais nos
propusemos a realizar.
Se tais cuidados são
vitais para o
enfrentamento sadio das
nossas obrigações
espirituais, nada nos
impede, por outro lado,
de aplicarmos o
estimulante recurso do
elogio (sincero) em
outros contextos. O
coração humano,
convenhamos, anda muito
árido e a
insensibilidade
emocional grassa
praticamente em todas as
latitudes do planeta. De
fato, muitos artigos
jornalísticos e
acadêmicos, sem falar
nos comentários
cotidianos que coletamos
aqui e acolá, revelam
essa face obscura que
tomou conta dos
ambientes terrenos.
Já não bastassem as
mazelas geradas pela
pandemia, bem como as
constantes disrupções em
nossa sociedade, que
tornam, a propósito, a
vida desnecessariamente
mais complicada, ainda
temos de conviver com a
secura predominante no
coração dos indivíduos.
Com efeito, não tem
cabimento destilar
frieza sentimental em
nossas interações e
conexões diuturnas. Ao
contrário. É pertinente
recordar que a hora
presente é altamente
apropriada à expansão
dos bons sentimentos, da
solidariedade, do
espírito de fraternidade
e das emoções positivas.
Todos nós temos
condições de externar em
profusão esses atributos
do Espírito. Então,
deixemo-los brotar de
dentro de nós
naturalmente no contato
com os outros.
Pensando assim, creio
que a prática do elogio
possa ser empregada para
tal finalidade. Mais
ainda, o recurso do
elogio pode ajudar a
dissipar as asperezas
que eventualmente
guardamos no imo do ser
devido a inúmeros
fatores existenciais.
Ademais, a alegria de
ser apreciado por outrem
sempre nos faz bem. Quem
não gosta de ser
ressaltado? Então usemos
a nossa inteligência
emocional para levantar
o moral dos
companheiros(as) de
estrada nesse momento
crítico. Usemos o elogio
para ajudar as pessoas a
apagar as lembranças
tristes advindas das
perdas irreparáveis.
Miremos no que os
indivíduos têm de melhor
e os exaltemos. Eles,
tanto quanto nós, podem
estar precisando de algo
que os faça se sentir
mais acolhidos. Há tanta
coisa boa a observar
nesse mundo; no entanto,
damos muita atenção às
negativas. Assim sendo,
atilemos nossa
capacidade de olhar para
ressaltar o que cada um
tem de mais apreciável.
Um pequeno e ínfimo
gesto nessa direção pode
animar a alma de alguém
em silencioso desespero
ou dor. Lembremos que
Jesus sempre elogiava os
seus seguidores quando
esses demonstravam
entendimento às suas
imorredouras lições.
É inegável que há muita
coisa nos puxando
literalmente para baixo
na atualidade. Notem
quantas notícias,
informações e conversas
depreciativas são
produzidas diariamente.
A impressão que causam é
desesperadora, uma vez
que disseminam apenas
pessimismo e
desesperança. Diante
disso, poder-se-ia
indagar se o mundo e a
vida só se resumem em
tais coisas?
Absolutamente não. É
verdade que estamos sob
uma intensa experiência
expiatória de caráter
coletivo. As imagens da
miséria e da violência
são verdadeiras e não
podemos apagá-las de
nossa civilização num
passe de mágica.
Mas, felizmente, há algo
mais acalentador que não
tem sido devidamente
valorizado. Ou seja, a
nossa incrível
capacidade de
recuperação e
sobrevivência. Por que,
então, não elogiamos os
fortes, os
misericordiosos, os
justos, as medidas
acertadas e os
indivíduos de boa
vontade? É hora de
acendermos a luz dentro
de nós para avançarmos.
Usemos, enfim, as
palavras de maneira
elogiosa para contribuir
para um quadro melhor.