Deolindo
e os
cursos
de
Espiritismo
Resolvi escrever sobre isso motivado por uma visita
recente (com máscara e tudo o mais, e vacinado!) à Livraria
espírita cristã, entidade que tem mais de sessenta
anos de existência, em nossa cidade de Juiz de Fora, no
estado de Minas. Interessava-me adquirir obras de
Deolindo Amorim, para uma apreciação mais atenta de suas
ideias. Surpreendeu-me o fato de que a livraria não
dispusesse de um único exemplar de nenhuma de suas
obras.
Não pude furtar-me ao pensamento de que esquecemos,
muito facilmente, aqueles que construíram os edifícios
que hoje nos albergam. Deolindo, para quem não sabe, foi
um dos grandes divulgadores dos cursos sistematizados de
estudos espíritas, nos últimos anos da década de 50, do
século passado, no Instituto de cultura espírita do Brasil (ICEB) fundado
por ele (e outros), no Rio de Janeiro.
Disse, na época, que seu maior objetivo era justamente
despertar interesse pelos estudos espiritualistas em
geral, e, de um modo especial, melhorar o nível
intelectual de doutrinadores e expositores da Doutrina
Espírita, dando-lhes oportunidade franca de formar um
lastro de cultura capaz de atender às próprias
exigências da vida moderna em relação à divulgação da
doutrina.[i]
Questionado por que o Instituto de Cultura Espírita
do Brasil desempenhava seu papel através de um curso
regular de Espiritismo, Deolindo respondeu:
O Instituto é uma entidade nova, mas não tem a pretensão
de ser original, visto como a ideia de cursos de
Espiritismo é muito mais antiga do que a nossa geração,
conquanto muitas pessoas ainda vejam nisto um arremedo
acadêmico, sem utilidade para o progresso do Espírito.
Não é verdade, e é o bom senso, é a experiência que o
demonstra. Que nos baste apenas recordar que partiu do
próprio Allan Kardec a primeira ideia de um curso
regular de Espiritismo. Está em “Obras Póstumas”, no
projeto de 1868, já muitas vezes citado. Um curso –
dizia ele – para “desenvolver os princípios da ciência e
difundir o gosto pelos estudos sérios”. A ideia,
portanto, vem de longe. Kardec, com a sua iluminação
espiritual, já previa há quase um século, a repercussão
do Espiritismo também na cultura humana, e por isso ele
próprio chegara a dizer que o Espiritismo ainda viria
retificar os erros da História.[ii]
Os cursos regulares de Espiritismo se generalizaram, e
poucas agremiações espíritas não os oferecem. Os mais
jovens devem acreditar que esses cursos sempre
existiram, pois Kardec, em sua época, se referiu
enfaticamente à importância deles, mas, na verdade,
quase oito décadas foram necessárias para que os cursos
se tornassem uma realidade.
Alguns anos depois de Deolindo, em 1970, no Paraná,
Alexandre Sech cria o COEM – Curso de orientação e
educação mediúnica, cujos resultados notáveis são
observados por quase todos nós.
Finalmente, nos anos 80, a Federação espírita
brasileira, oferece o ESDE – Estudo sistematizado da
Doutrina espírita.
Felizmente, confrades de boa vontade disponibilizaram
alguns livros de Deolindo, gratuitamente, através da
internet. Podemos assim, revisitar suas ideias e
compartilhar os pensamentos desta importante figura do
movimento espírita brasileiro.