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por Rogério Coelho

 

Realidade teimosamente desconsiderada


Na mediunidade responsável não se permitem aventuras insensatas


“O labor de desobsessão é terapia avançada que exige equipes hábeis de pessoas e Espíritos adestrados nas suas realizações.” Manoel P. de Miranda [1]


Toda tarefa, seja qual for, exige trabalhador preparado para ser bem-feita e a tarefa de desobsessão não é diferente: o preparo do trabalhador não deve, em absoluto, ser negligenciado, sob pena de se cair em graves consequências, haja vista a instrução expressa e específica de Kardec nesse sentido: estudar primeiro; praticar depois... Tal é o seu conselho no encerramento de “O Livro dos Médiuns”. Infelizmente não é o que se observa em muitas Instituições Espíritas, onde criaturas totalmente despreparadas frequentam as reuniões de desobsessão. O desastre com tal atitude não se faz esperar!...

Eis o que ensina Manoel Philomeno de Miranda1: “(...) as incursões socorristas ao mundo espiritual, lidando com seres equivocados e perversos, é um capítulo do Espiritismo experimental muito delicado. Por isso mesmo, na mediunidade responsável não se permite aventuras insensatas, nem se faculta entusiasmos descabidos.

O labor de desobsessão é terapia avançada que exige equipes hábeis de pessoas e Espíritos adestrados nas suas realizações, de modo a se conseguir os resultados positivos esperados. Não raro, candidatos apressados e desaparelhados aventuram-se em tentames públicos e privados de intercâmbio espiritual, desconhecendo as armadilhas e a astúcia dos desencarnados, procurando estabelecer contatos e procedimentos para os quais não se encontram preparados, comprometendo-se desastradamente com aqueles aos quais pretendem doutrinar ou impor suas ideias.

Arrogantes uns, ingênuos outros, permitem-se a leviandade de abrir portas mediúnicas a intercâmbio desordenado, na pressuposição de que se podem fazer respeitados, obedecidos, incorrendo em grande risco de natureza psíquica.

A vida espiritual é pujante, rica de movimento e de ação, base para a formação da vida física. Quanto se expressa na esfera corporal é pálida condensação da realidade que vibra fora dos fluidos materiais. Todo o cuidado, pois, nesse campo como noutros, é sempre proveitoso para o principiante ou mesmo para quem não possua os instrumentos morais indispensáveis.

Frustração, revide, amargura, ciúme, inveja, ódio e todo um elenco de paixões infrenes caracterizam incontáveis seres em perturbação além do corpo somático, que a morte não consumiu. A sós ou em grupos, submetidos a organizações cruéis, ou desarvorados, prosseguem vivos e pensantes, perseguindo propósitos infelizes que abraçam, ameaçadoramente.

Com certeza, contrapondo-se a essas hordas asselvajadas, pululam os recursos do amor, alcançando-as e defendendo-as umas das outras, assim como às criaturas em ignorância dessa realidade teimosamente desconsiderada ou posta em plano secundário na viagem ilusória do mundo sensorial.

Como consequência, recorrendo à sua situação de seres invisíveis, muitos Espíritos se aproveitam para realizar conúbios perturbadores com os indivíduos invigilantes, executar planos nefastos, recorrer a expedientes malsãos, de forma que se refestelam nas sensações que neles predominam.

Dessa forma, utilizam-se dos presunçosos e inadvertidos que pretendem manter contato com eles, sem estrutura moral, sem conhecimentos próprios, iniciando-se processos de obsessão de longo curso em que se comprazem.

Todos aqueles, portanto, que desejam manter intercâmbio com os Espíritos, equipem-se com valores morais e intelectuais, de modo a se precatarem contra as surpresas e ciladas que lhes podem ser apresentadas.

(...) Nesses futuros próximos dias, a mediunidade exercida com consciência de responsabilidade oferecerá valioso contributo para a compreensão do ser holístico. Esse exercício mediúnico, porém, será com Jesus, não remunerado, não exaltado, destituído de estrelismo, de exibicionismo... Tomando cuidado com o “dar de graça o que de graça se recebe”, o ínclito Codificador do Espiritismo advertiu, elucidando que a mediunidade nobre “jamais subirá aos palcos” e a sua gratuidade, conforme lemos, é sempre condição “sine-qua-non” para merecer respeito, confiança e apoio espiritual relevante.

Trabalhemos todos por esses programados dias do amanhã, oferecendo a nossa cota, na certeza de que logo chegarão, felicitando-nos, bem como ao planeta que nos tem sido formoso lar-escola de evolução”.


 

[1] - FRANCO, Divaldo Pereira. Trilhas da libertação. 2. ed. Rio [de Janeiro]: 1997, pp. 291-292.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita