Julgar ou não julgar, eis a questão!
A Doutrina Espírita ou Espiritismo não é mais uma
religião nem mais uma seita, mas uma filosofia de vida,
assente na observação dos fatos mediúnicos, na filosofia
e na moral que Jesus de Nazaré deixou à Humanidade.
Os ensinamentos de Jesus são de tal modo profundos e
universais que atravessaram o tempo e nele se perpetuam.
Podemos resumi-los, em fazer ao próximo o que
desejaríamos que nos fizessem, se estivéssemos no seu
lugar.
Nos seus três anos de ativismo social, Jesus ensinou,
falando e fazendo.
Todos temos na memória o episódio da mulher adúltera que
ia ser lapidada e, com a intervenção de Jesus, salvou-se
do apedrejamento habitual naquela Sociedade. “Vai e
não voltes a pecar”, moralmente falando, terá
aconselhado Jesus, referindo-se que também ele não a
julgava. A ética e a moral de Jesus de Nazaré são o mote
pacificador e transversal para toda a Humanidade. Se
colocadas em prática, conduzem à fraternidade, à
solidariedade, à colaboração, à desculpa, ao perdão, ao
Amor ao próximo. Temos aqui o roteiro existencial da
Sociedade do futuro, quando na Terra estiverem
maioritariamente Espíritos espiritualizados, colocando
em prática esta filosofia de vida, base para o bem-estar
social e a felicidade possível.
Não julgar é precioso ensinamento da doutrina espírita,
não julgar o próximo, as suas escolhas, as suas
opiniões. É um não julgar no sentido de não criar
dissensões, não criar inimizades, aversões, guerras,
mal-estar, entendendo que cada um de nós tem o seu nível
de evolução próprio e não podemos exigir dos outros
aquilo que eles ainda não conseguem dar. Também nós
temos as nossas limitações, as nossas falhas, as nossas
ideias que causam discórdia nos outros.
É um ensinamento, uma prática essencial para a
pacificação social, para a evolução espiritual do Homem
e, consequentemente, das Sociedades em que está
inserido, culminando na evolução do planeta em que
habitamos.
Se isto nos parece pacífico de entender, outras
situações causam algumas divergências de opinião.
Por um lado, existem pessoas que, sendo apologistas das
ideias de Jesus, pensam que devem ser ativos
socialmente, procurando fazer a sua parte para que a
Sociedade seja melhor. Nesses, enquadram-se aqueles que
pugnam por uma Sociedade mais justa, sem corrupção, sem
desigualdades, sem mentiras, sem privilégios sociais.
Ser cristão não é a falsa santificação de quem ignora os
problemas sociais, mas uma atividade digna e pacífica,
em prol de uma Sociedade mais justa, onde todos sejam
tratados como irmãos.
Para tal desiderato, há de se falar e agir em
conformidade, dentro dos parâmetros da boa educação, da
não violência. Ação sem omissão.
Se Jesus deitou as bancas comerciais ao chão, no Templo,
chamando de hipócritas aos que se serviam da religião
para fazerem ali negócios, Gandhi foi um exemplo, bem
mais recente, de como deve agir socialmente um cristão
(ele era hindu, embora profundo admirador de Jesus de
Nazaré): agir, desobedecer, se necessário, perante o
erro, mas pacificamente, sem o íntimo maculado de baixas
paixões, sem ódio, sem aversão, agindo por aquilo que se
acredita, em prol de um bem comum maior e melhor.
Por outro lado, temos aqueles que acham que o cristão
não se deve meter “nessas coisas” (reencarnamos
precisamente para ajudar a mudar o tecido social) e que
deve meter a cabeça debaixo da areia, em oração e
esperar que Deus e o Tempo tudo resolvam.
Tal atitude demonstra um desconhecimento do que é ser
cristão, bem como do Espiritismo e do seu impacto
social, profundo, dinâmico, ativo.
Bastaria um pouco de bom senso, longe do fanatismo
religioso para entender isso.
No livro “O Evangelho segundo o Espiritismo”,
Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores se nos é
lícito julgar alguém e colocar em público os erros
alheios.
A resposta não poderia ser mais bela e profunda de
sentido ético e moral: depende da intenção com que o
façamos e do alcance.
Se o nosso julgamento, divulgação pública dos erros
alheios tem por objetivo o bem comum da Sociedade e
salvar vidas que, de outro modo seriam prejudicadas,
então isso é lícito. Se tem apenas por objetivo expor as
mazelas alheias, não nos é lícito.
O Espiritismo é um amplo movimento cultural, um
movimento revolucionário do ponto de vista moral, que
visa auxiliar o Homem no seu desenvolvimento intelectual
e moral, desabrochando assim a sua espiritualidade
(diferente de religião) e, desse modo, aproximando o
Homem mais rapidamente de Deus.
Não temos o direito de julgar ninguém, mas temos o dever
de pugnar pela justiça social.
Como fazer?
Mohandas Gandhi, tal como Jesus de Nazaré, deixou uma
dica que ressoa no nosso íntimo: “Não há um caminho para
a paz, a paz é o caminho”.
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