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por José Lucas

 

Julgar ou não julgar, eis a questão!


A Doutrina Espírita ou Espiritismo não é mais uma religião nem mais uma seita, mas uma filosofia de vida, assente na observação dos fatos mediúnicos, na filosofia e na moral que Jesus de Nazaré deixou à Humanidade.

Os ensinamentos de Jesus são de tal modo profundos e universais que atravessaram o tempo e nele se perpetuam. Podemos resumi-los, em fazer ao próximo o que desejaríamos que nos fizessem, se estivéssemos no seu lugar.

Nos seus três anos de ativismo social, Jesus ensinou, falando e fazendo.

Todos temos na memória o episódio da mulher adúltera que ia ser lapidada e, com a intervenção de Jesus, salvou-se do apedrejamento habitual naquela Sociedade. “Vai e não voltes a pecar”, moralmente falando, terá aconselhado Jesus, referindo-se que também ele não a julgava. A ética e a moral de Jesus de Nazaré são o mote pacificador e transversal para toda a Humanidade. Se colocadas em prática, conduzem à fraternidade, à solidariedade, à colaboração, à desculpa, ao perdão, ao Amor ao próximo. Temos aqui o roteiro existencial da Sociedade do futuro, quando na Terra estiverem maioritariamente Espíritos espiritualizados, colocando em prática esta filosofia de vida, base para o bem-estar social e a felicidade possível.

Não julgar é precioso ensinamento da doutrina espírita, não julgar o próximo, as suas escolhas, as suas opiniões. É um não julgar no sentido de não criar dissensões, não criar inimizades, aversões, guerras, mal-estar, entendendo que cada um de nós tem o seu nível de evolução próprio e não podemos exigir dos outros aquilo que eles ainda não conseguem dar. Também nós temos as nossas limitações, as nossas falhas, as nossas ideias que causam discórdia nos outros.

É um ensinamento, uma prática essencial para a pacificação social, para a evolução espiritual do Homem e, consequentemente, das Sociedades em que está inserido, culminando na evolução do planeta em que habitamos.

Se isto nos parece pacífico de entender, outras situações causam algumas divergências de opinião.

Por um lado, existem pessoas que, sendo apologistas das ideias de Jesus, pensam que devem ser ativos socialmente, procurando fazer a sua parte para que a Sociedade seja melhor. Nesses, enquadram-se aqueles que pugnam por uma Sociedade mais justa, sem corrupção, sem desigualdades, sem mentiras, sem privilégios sociais.


Ser cristão não é a falsa santificação de quem ignora os problemas sociais, mas uma atividade digna e pacífica, em prol de uma Sociedade mais justa, onde todos sejam tratados como irmãos.


Para tal desiderato, há de se falar e agir em conformidade, dentro dos parâmetros da boa educação, da não violência. Ação sem omissão.

Se Jesus deitou as bancas comerciais ao chão, no Templo, chamando de hipócritas aos que se serviam da religião para fazerem ali negócios, Gandhi foi um exemplo, bem mais recente, de como deve agir socialmente um cristão (ele era hindu, embora profundo admirador de Jesus de Nazaré): agir, desobedecer, se necessário, perante o erro, mas pacificamente, sem o íntimo maculado de baixas paixões, sem ódio, sem aversão, agindo por aquilo que se acredita, em prol de um bem comum maior e melhor.

Por outro lado, temos aqueles que acham que o cristão não se deve meter “nessas coisas” (reencarnamos precisamente para ajudar a mudar o tecido social) e que deve meter a cabeça debaixo da areia, em oração e esperar que Deus e o Tempo tudo resolvam.

Tal atitude demonstra um desconhecimento do que é ser cristão, bem como do Espiritismo e do seu impacto social, profundo, dinâmico, ativo.

Bastaria um pouco de bom senso, longe do fanatismo religioso para entender isso.

No livro “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores se nos é lícito julgar alguém e colocar em público os erros alheios.

A resposta não poderia ser mais bela e profunda de sentido ético e moral: depende da intenção com que o façamos e do alcance.

Se o nosso julgamento, divulgação pública dos erros alheios tem por objetivo o bem comum da Sociedade e salvar vidas que, de outro modo seriam prejudicadas, então isso é lícito. Se tem apenas por objetivo expor as mazelas alheias, não nos é lícito.

O Espiritismo é um amplo movimento cultural, um movimento revolucionário do ponto de vista moral, que visa auxiliar o Homem no seu desenvolvimento intelectual e moral, desabrochando assim a sua espiritualidade (diferente de religião) e, desse modo, aproximando o Homem mais rapidamente de Deus.

Não temos o direito de julgar ninguém, mas temos o dever de pugnar pela justiça social.

Como fazer?

Mohandas Gandhi, tal como Jesus de Nazaré, deixou uma dica que ressoa no nosso íntimo: “Não há um caminho para a paz, a paz é o caminho”.


 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita