A consolação da justiça
divina
Introdução
- Isso é castigo de
Deus!... - afirmam
muitas pessoas diante de
tragédias, desastres e
flagelos.
Sem dúvida alguma,
quando estamos diante de
uma calamidade ou
vivenciamos eventos
causadores de sofrimento
intenso, não é raro
ouvirmos diversas
exclamações como essa,
resultantes do medo e do
sentimento momentâneo de
incapacidade que acabam
assumindo o controle das
nossas emoções. Mesmo o
materialista, ao eleger
o “acaso” como seu Deus,
expressa idêntica
afirmação, trocando a
crença religiosa pela
ideia generalista do
“azar”, direcionando seu
desespero e impotência
ao “caos”.
Conforme CAMOLEZE
(2020), a Covid-19 é o
flagelo pandêmico
mundial do século XXI,
devido à geração de
morbidade e letalidade.
Esta doença causada pelo
coronavírus pode causar
reações como o pânico,
fobias e o pavor mórbido
da morte, com sequelas
psicológicas
indesejáveis. O citado
artigo será a base da
nossa reflexão, sob as
luzes da Doutrina
Espírita.
O consolo nas aflições
O terror psicológico é
apontado por CAMOLEZE
(2020) como um dos
resultados do contágio.
Sob a ótica espírita,
torna-se necessário que
sejam feitas algumas
considerações, em
benefício do compromisso
permanente com as ações
de esclarecimento e
consolação, e, de acordo
com o educador Hippolyte
Léon Denizard Rivail, o
Allan Kardec, na questão
933 de “O Livro dos
Espíritos”:
[...] Como civilizado, o
homem raciocina sobre a
sua infelicidade e a
analisa. Por isso é que
esta o fere. Mas,
também, lhe é facultado
raciocinar sobre os
meios de obter
consolação e de
analisá-los. Essa
consolação ele a
encontra no sentimento
cristão, que lhe dá a
esperança de melhor
futuro, e no
Espiritismo, que lhe dá
a certeza desse futuro.
(KARDEC, 1992.)
Com base nos
ensinamentos da Terceira
Revelação, a consolação
a que se refere Kardec,
na questão acima,
ultrapassa aquela que
vigora no senso comum e
nos acontecimentos
rotineiros, onde
consolar é estar
presente nos momentos
difíceis; saber ouvir
uma determinada pessoa
que passa por
dificuldades; e enxugar
lágrimas, dentre outras
atitudes bondosas.
A consolação proposta
prossegue além da
necessária atitude
caridosa, oferecendo
também o esclarecimento
reconfortante que
transforma e ergue o
próprio ser, ajudando-o
em seu desenvolvimento
espiritual,
particularmente quando
destaca em letras
marcantes: a morte não
existe!
Nesse momento de
autoiluminação,
proporcionado pela
Doutrina Espírita,
constatamos que a vida
espiritual é a nossa
condição natural e que a
situação no plano
material é transitória e
fugaz, sendo comparada a
uma morte quando
colocada ao lado da vida
espiritual (KARDEC,
1991). Quer na vida
espiritual, como na vida
material, a coragem pode
ser considerada uma
virtude, localizada
entre a excelência e o
meio termo, conforme
ensinou Aristóteles (PAKALUK,
2020). A excelência é a
própria indicação da
coragem como virtude, já
o meio termo pode ser
entendido como o
equilíbrio que deve nos
distanciar dos extremos
negativos, como o medo.
Na Revista Espírita de
1858, Kardec já havia
alertado sobre o mal do
medo em nossas vidas, e
a conveniência de
evitá-lo. As ações do
fluido magnético
dirigidas pelo
pensamento eivado pelo
terror, pânico ou
agonia, variantes do
medo, são
potencializados por
Espíritos levianos
(KARDEC, 2008). Jesus, o
Messias da humanidade
terrestre, nos concitou
a termos coragem diante
dos flagelos, ao ensinar
por meio do Evangelho
que: “No mundo tereis
tribulações, mas tendes
coragem: eu venci o
mundo!”. Esta motivação
esclarecedora precisa
ser entendida em
conformidade com os
ensinamentos do Mundo
Maior, a respeito de
algumas tribulações
constantes na questão
741 de “O Livro dos
Espíritos”, onde consta
a existência dos
flagelos naturais e os
provocados pelo próprio
homem. Dentre os
primeiros há a peste, a
fome e as inundações,
dentre outros.
Considerando nossas
aflições como mecanismos
ainda necessários para a
remoção das nossas
imperfeições, a Justiça
Divina pode utilizar-se
de meios dolorosos, como
os flagelos, para que
ocorra mais rápido o
advento de um melhor
estado humano, reduzindo
para poucos anos o que
poderia exigir séculos
(KARDEC, 1992).
Diante dessas diretrizes
do mais Alto, a fé
raciocinada nos convida
a oferecer, em nosso
íntimo, toda a certeza e
confiança na direção do
nosso Criador, a fim de
que seja feita a vontade
Dele e não a nossa.
Albino Teixeira
expressou o que nós,
Espíritos imperfeitos,
mais sofremos diante das
tragédias:
O que mais sofremos no
mundo: Não é a
dificuldade. É o
desânimo em superá-la.
Não é a provação. É o
desespero diante do
sofrimento. Não é a
doença. É o pavor de
recebê-la. […]
(Espíritos Diversos,
2011.)
O escudo consolador da
resignação e da fé
A contabilidade divina
requer o nosso
arrependimento, a par da
expiação necessária e da
reparação adequada
diante das imperfeições.
A fuga dos Decretos
Maiores não é possível.
De fato, a Covid-19
externa as condições
para ser classificada
como o flagelo pandêmico
mundial do século XXI,
pelos óbices observados
e de acordo com o artigo
que baseou nossa
reflexão. Assim, o
consolo proporcionado
pela Doutrina Espírita é
essencial para a remoção
dos obstáculos que nos
impedem de estabelecer o
necessário enfrentamento
espiritual aos seus
efeitos adversos, como
Espíritos imortais
vinculados ao Cristo.
Saibamos, sob o escudo
da resignação e da fé,
compreender os desígnios
da providência divina
encaminhados para a
correição dos nossos
rumos, reconhecendo que
neste mundo transitório
a nossa boa vontade
diante das adversidades
representa a certeza de
um novo alvorecer, ao
lado de Jesus.
Referências:
CAMOLEZE,
Edino. Covid-19: o
flagelo pandêmico
mundial do século XXI.
2020. Disponível
em
Link-1.
Acesso em: 19 jan. 2020.
ESPÍRITOS
DIVERSOS. Passos da
Vida. São Paulo:
Instituto de Difusão
Espírita, 2011.
PAKALUK,
Michael. A Ética a
Nicômaco: Uma chave de
leitura. 1.ed. Rio
de Janeiro: Editora
Vozes, 2020.
KARDEC,
Allan. O Livro dos
Espíritos:
princípios da Doutrina
Espírita. 72. ed. Rio de
Janeiro: Federação
Espírita Brasileira,
1992.
KARDEC,
Allan. O Evangelho
segundo o Espiritismo.
105. ed. Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira, 1991.
KARDEC,
Allan. Revista
Espírita: índice
geral 1858-1869.
Coordenação: Geraldo
Campetti Sobrinho. Rio
de Janeiro: FEB, 2008.
p. 581.
Texto
contemplado no concurso
A Doutrina Explica –
2020-2021, promovido
pelo Jornal Brasília
Espírita
(www.atualpa.org.br),
com o objetivo de
sensibilizar para a
leitura, o uso da
biblioteca espírita e
levar a conhecer alguma
metodologia de pesquisa
para apoiar o estudo
doutrinário, além de
incentivar os
participantes para o
potencial de
racionalização e
explicação da realidade
social e espiritual pela
Doutrina Espírita.
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