O nada e
a vida futura
Na vida, temos dúvidas e
incertezas com a morte
do corpo físico, se tudo
acabará no nada ou se a
vida continuará pela
imortalidade do
Espírito. Por
conseguinte,
questionamos sobre o
verdadeiro sentido da
vida: Quem somos? De
onde viemos? Para onde
vamos? Por que sofremos?
Qual o objetivo da nossa
existência?
Allan Kardec, no livro
“O Céu e o Inferno”, no
Capítulo I, em “O porvir
e o nada”, no item 1,
inicia a sua análise com
as reflexões: “Vivemos,
pensamos e operamos –
eis o que é positivo; e
que morremos, não é
menos certo. Mas,
deixando a Terra, para
onde vamos? Que seremos
após a morte? Estaremos
melhor ou pior?
Existiremos ou não? Ser
ou não ser, tal a
alternativa. Para sempre
ou para nunca mais; ou
tudo ou nada: Viveremos
eternamente ou tudo se
aniquilará de vez? (...) Todo
homem experimenta a
necessidade de viver, de
gozar, de amar e ser
feliz. Dizei ao
moribundo que ele viverá
ainda; que a sua hora é
retardada; dizei-lhe
sobretudo que será mais
feliz do que porventura
o tenha sido, e o seu
coração rejubilará”.
Afastando-se o horror do
nada, tendo-se a certeza
de que a vida continuará
após a morte do corpo
físico, o ânimo para
viver será outro,
porquanto a crença na
vida futura fará viver
com fé, confiança,
esperança, resignação e
alegria, mesmo diante
das duras provações e
expiações que provocam
sofrimentos e dores nos
seres humanos.
Por outro lado, a crença
de que tudo se acabará
com a morte, a motivação
na vida será exatamente
oposta, como observa
Kardec: “De
que serviriam, então,
essas aspirações de
felicidade, se um leve
sopro pudesse
dissipá-las? Haverá algo
de mais desesperador do
que esse pensamento da
destruição absoluta?
Afeições caras,
inteligência, progresso,
saber laboriosamente
adquiridos, tudo
despedaçado, tudo
perdido! De nada nos
serviria, portanto,
qualquer esforço na
repressão das paixões,
de fadiga para nos
ilustrarmos, de
devotamento à causa do
progresso, desde que de
tudo isso nada
aproveitássemos,
predominando o
pensamento de que amanhã
mesmo, talvez, de nada
nos serviria tudo isso.
Se assim fora, a sorte
do homem seria cem vezes
pior que a do bruto,
porque este vive
inteiramente do presente
na satisfação dos seus
apetites materiais, sem
aspiração para o futuro.
Diz-nos uma secreta
intuição, porém, que
isso não é possível”. (Kardec.
O Céu e o Inferno. Cap.
I, em “O porvir e o
nada”, item 1.)
Assim, há grande
diferença entre o
pensamento materialista,
entendendo que tudo se
acabará ao final de uma
vida física na Terra, e
a visão espiritualista,
que acredita na vida
futura, prosseguindo
além do fim de uma
existência corpórea.
Conceitualmente, o nada
não existe, podendo
significar vazio, ou o
nada não é coisa alguma,
logo não existe; ou
traduz a ideia que se
tem da não existência de
coisa alguma.
Mentalmente, concebemos
o nada pela ausência de
qualquer coisa que seja,
como o vazio absoluto,
ou o fim de tudo.
Na mesma direção, em “O
Livro dos Espíritos”, na
questão 23, ao responder
acerca da natureza do
Espírito, tem-se a
afirmação: “Ficai
sabendo: coisa nenhuma é
o nada e o nada não
existe”. Na
questão 36, Kardec
pergunta se o vácuo
absoluto existe em
alguma parte no Espaço
universal, tendo como
resposta: “Não,
não há o vácuo. O que te
parece vazio está
ocupado por matéria que
te escapa aos sentidos e
aos instrumentos”.
Kardec, no livro “A
Gênese”, no Capítulo I,
em “Caráter da revelação
espírita”, nos itens 35
e 37, comenta: “Com
a doutrina do nada após
a morte, todas as
relações cessam com a
vida e, assim, os seres
humanos não são
solidários no futuro.
(...) Nada esperando
depois da morte, faz de
tudo para aumentar os
gozos do presente; se
sofre, só tem a
perspectiva do desespero
e o nada como refúgio.
Com a certeza do futuro,
com a convicção de
encontrar novamente
aqueles a quem amou e
com o temor de tornar a
ver aqueles a quem
ofendeu, todas as suas
ideias mudam”.
Ainda Kardec, no livro
“O Céu e o Inferno”, no
Capítulo I, em “O porvir
e o nada”, no item 2,
esclarece:
“Pela crença em o nada,
o homem concentra todos
os seus pensamentos,
forçosamente, na vida
presente.
Logicamente não se
explicaria a preocupação
de um futuro que se não
espera.
Esta preocupação
exclusiva do presente
conduz o homem a pensar
em si, de preferência a
tudo: é, pois, o mais
poderoso estímulo ao
egoísmo, e o incrédulo é
consequente quando chega
à seguinte conclusão:
gozemos enquanto aqui
estamos; gozemos o mais
possível, pois que
conosco tudo se acaba;
gozemos depressa, porque
não sabemos por quanto
tempo existiremos.
Ainda consequente é esta
outra conclusão, aliás
mais grave para a
sociedade: gozemos
apesar de tudo, gozemos
de qualquer modo, cada
qual por si; a
felicidade neste mundo é
do mais astuto”.
No item 4, Kardec
continua: “Todos
somos livres na escolha
das nossas crenças;
podemos crer em alguma
coisa ou em nada crer,
mas aqueles que procuram
fazer prevalecer no
espírito das massas, da
juventude
principalmente, a
negação do futuro,
apoiando-se na
autoridade do seu saber
e no ascendente da sua
posição, semeiam na
sociedade germens de
perturbação e
dissolução, incorrendo
em grande
responsabilidade”.
A visão acerca da vida
terminar no nada, sem
uma perspectiva futura,
é desastrosa para a
evolução da Humanidade,
posto que, dominada pelo
egoísmo materialista,
afasta a necessidade da
aquisição de virtudes e
atributos morais para o
progresso dos seres
humanos, quer
individualmente ou sob o
aspecto coletivo para o
avanço da sociedade.
“Equivale isso a dizer
que o materialismo, com
o proclamar para depois
da morte o nada, anula
toda responsabilidade
moral ulterior, sendo,
conseguintemente, um
incentivo para o mal;
que o mau tem tudo a
ganhar do nada. Somente
o homem que se despojou
dos vícios e se
enriqueceu de virtudes
pode esperar com
tranquilidade o
despertar na outra
vida.” (Allan
Kardec. O Evangelho
segundo o Espiritismo.
Introdução.)
Por conseguinte, nada
esperando depois da
morte, o ser humano fará
de tudo para aumentar os
gozos do presente. Se
sofre, só terá a
perspectiva do desespero
e o nada como refúgio. A
incredulidade, a simples
dúvida sobre o futuro,
as ideias materialistas
serão os maiores
incitantes às quedas do
ser humano. Que
compensação lhes podem
oferecer? Que esperança
lhes podem dar? Nenhuma,
a não ser o nada.
A Doutrina Espírita traz
luz a questões
existenciais à medida
que esclarece sobre:
Deus, sua Natureza, seus
atributos e sua ação
providencial; a criação
do Universo, as leis e
os princípios que o
regem; o bem e o mal; a
criação, a imortalidade
e a progressão dos
Espíritos; a crença na
vida futura; a lei de
causa e efeito; a lei do
progresso; a lei do
amor; a lei do trabalho;
o objetivo da
reencarnação; a
pluralidade de
existências; a
compreensão dos
sofrimentos e das dores;
e a busca da perfeição
relativa à Humanidade,
tendo Jesus como modelo
e guia: o caminho, a
verdade e a fonte de
vida eterna em direção
ao Pai.
A imortalidade do
Espírito e a vida futura
são de difícil aceitação
e compreensão, apesar
dos testemunhos e das
revelações evangélicas,
bem como do ceticismo
para com os fenômenos
espirituais e da
descrença nas
comunicações mediúnicas
recebidas por inúmeros
médiuns, independente de
eles serem religiosos ou
não.
O Espírito Joanna de
Ângelis, no livro “Amor
imbatível amor”, na
psicografia de Divaldo
Pereira Franco, ensina: “Existir
significa ter vida,
fazer parte do Universo,
contribuir para a
harmonia do Cosmos. A
existência humana é uma
síntese de múltiplas
experiências evolutivas,
trabalhadas pelo tempo
através de automatismos
que se transformam em
instintos e se
transmudam nas elevadas
expressões do sentimento
e da razão. À medida que
os automatismos
biológicos se convertem
em impulsos dirigidos -
ressalvados alguns que
permanecerão sem a
contribuição da
consciência - o ser
psicológico passa a
sobressair, conduzindo,
de início, a carga dos
atavismos que deverão
ser remanejados,
diluindo aqueles de
natureza perturbadora e
aprimorando aqueloutros
que se transformarão em
fontes de alegria, de
prazer e de paz...”.
Algumas citações da
Bíblia relacionadas com
o tema:
“O Espírito é o que
vivifica, a carne para
nada aproveita; as
palavras que eu vos digo
são Espírito e vida” (João,
6: 63).
“Disse-lhe Jesus: Eu
sou a ressurreição e a
vida. Aquele que crê em
mim, ainda que morra,
viverá; e quem vive e
crê em mim, não morrerá
eternamente. Você crê
nisso?” (João, 11:
25-26).
“Seis dias depois, Jesus
tomou consigo Pedro,
Tiago e João e os levou
a um alto monte, onde
ficaram a sós. Ali ele
foi transfigurado diante
deles. Suas roupas se
tornaram brancas, de um
branco resplandecente,
como nenhum lavandeiro
no mundo seria capaz de
branqueá-las. E
apareceram diante deles
Elias e Moisés, os quais
conversavam com Jesus.
Então Pedro disse a
Jesus: ‘Mestre, é bom
estarmos aqui. Façamos
três tendas: uma para
ti, uma para Moisés e
uma para Elias’. Ele não
sabia o que dizer, pois
estavam apavorados. A
seguir apareceu uma
nuvem e os envolveu, e
dela saiu uma voz, que
disse: ‘Este é o meu
Filho amado. Ouçam-no!’
Repentinamente, quando
olharam ao redor, não
viram mais ninguém, a
não ser Jesus. Enquanto
desciam do monte, Jesus
lhes ordenou que não
contassem a ninguém o
que tinham visto, até
que o Filho do homem
tivesse ressuscitado dos
mortos.” (Marcos,
9: 2-9).
“O anjo disse às
mulheres: Não tenham
medo! Sei que vocês
estão procurando Jesus,
que foi crucificado. Ele
não está aqui;
ressuscitou, como tinha
dito. Venham ver o lugar
onde ele jazia. Vão
depressa e digam aos
discípulos dele: Ele
ressuscitou dentre os
mortos e está indo
adiante de vocês para a
Galileia. Lá vocês o
verão. Notem que eu já
os avisei” (Mateus,
28: 5-7).
“Amedrontadas, as
mulheres baixaram o
rosto para o chão, e os
homens lhes disseram:
Por que vocês estão
procurando entre os
mortos aquele que vive?
Ele não está aqui!
Ressuscitou! Lembrem-se
do que ele disse, quando
ainda estava com vocês
na Galileia: É
necessário que o Filho
do homem seja entregue
nas mãos de homens
pecadores, seja
crucificado e ressuscite
no terceiro dia. Então
se lembraram das
palavras de Jesus” (Lucas,
24: 5-8).
“Quando Jesus
ressuscitou, na
madrugada do primeiro
dia da semana, apareceu
primeiramente a Maria
Madalena, de quem havia
expulsado sete demônios.
Ela foi e contou aos que
com ele tinham estado;
eles estavam lamentando
e chorando. Quando
ouviram que Jesus estava
vivo e fora visto por
ela, não creram. Depois
Jesus apareceu noutra
forma a dois deles,
estando eles a caminho
do campo. Eles voltaram
e relataram isso aos
outros; mas também
nestes eles não creram.
Mais tarde Jesus
apareceu aos onze
enquanto eles comiam;
censurou-lhes a
incredulidade e a dureza
de coração, porque não
acreditaram nos que o
tinham visto depois de
ressurreto” (Marcos,
16: 9-14).
“Então, se não há
ressurreição dos mortos,
nem mesmo Cristo
ressuscitou; e, se
Cristo não ressuscitou,
é inútil a nossa
pregação, como
igualmente é improdutiva
a vossa fé” (1
Coríntios, 15: 13-14).
“E o pó volte à terra,
como o era, e o espírito
volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes,
12: 7).
“Jesus morreu e
ressuscitou e assim
acontecerá com os que
são dele” (1
Tessalonicenses, 4:14).
Apesar das revelações
evangélicas, o Espírito
Manoel Philomeno de
Miranda, na psicografia
de Divaldo Pereira
Franco, no livro
“Transição Planetária”,
constata: “Religiosamente,
todos estamos informados
de que o túmulo não
significa aniquilamento,
portanto, sabemos que a
vida prossegue. Seria
lógico, em consequência,
vivermos de maneira
compatível com essa
convicção, o que
realmente não ocorre”.
Manoel Philomeno de
Miranda acrescenta:
“Jesus morreu, a fim de
que pudesse ressuscitar
ao terceiro dia,
demonstrando a
imortalidade e
comunicando-se com os
amigos queridos que
haviam ficado na
retaguarda, aguardando a
confirmação das Suas
palavras luminosas.
Graças ao Seu retorno, é
que o Evangelho pôde ser
confirmado e a mensagem
de que é portador
tornou-se esperança de
todos aqueles que sofrem
e se encontram à borda
do abismo, sem
entregar-se ao medo ou
ao desânimo.
Confiar, portanto, que
há um reino além da
carne que nos espera a
todos, é dever de todo
cristão, cuja doutrina
se assenta na certeza da
vitória sobre o decesso
tumular”.
Embora, para os
cristãos, Jesus na
transfiguração do Monte
Tabor conversou com os
Espíritos de Elias e
Moisés, ressuscitou ao
terceiro dia e realizou
as suas aparições
espirituais depois de
ressuscitado,
comunicando-se com os
amigos queridos, para
nos demonstrar a
imortalidade do
Espírito, mesmo assim
duvidamos da
imortalidade do Espírito
e da vida futura.
Sobre a imortalidade dos
Espíritos, em “O Livro
dos Espíritos”, nas
questões 80, 83 e 115,
somos esclarecidos que
todos os Espíritos são
permanentemente criados
simples e ignorantes por
Deus e que as suas
existências não têm fim.
O Espírito nasce simples
e ignorante, começando a
sua jornada evolutiva na
busca da perfeição
(resposta à questão 132)
em pluralidade de
existências.
Além disso, sem a
reencarnação não é
possível atingir o
aperfeiçoamento e a
evolução espiritual,
pois na questão 132 de
“O Livro dos Espíritos: “Deus
lhes impõe a encarnação
com o fim de fazê-los
chegar à perfeição”.
Logo, a encarnação é um
determinismo divino para
se atingir a perfeição.
Assim, a crença na vida
futura pela imortalidade
do Espírito, em
constante progresso
intelectual, moral e
espiritual, conduz para
a busca da perfeição e
da felicidade
decorrentes das ações
renovadoras e
edificantes do passado,
presente e futuro. Para
tanto, importante viver
o permanente agora como
uma oportunidade
consciente de que a
vivência atual terá
consequências na vida
futura.
Para tanto, será
necessária a aquisição
dos bens imperecíveis,
representada pelo
tesouro do conhecimento
e da moral. No entanto,
trata-se de tarefa
árdua, de investimento
contínuo, mas garantidor
de felicidade duradoura,
no presente e no futuro,
em ambos os planos da
vida. A chave da
felicidade revela-se,
segundo o Espiritismo,
na prática do bem, no
qual se é possível
exercitar a caridade,
porquanto as ações
desenvolvidas pelo
homem, no presente,
influenciarão a sua vida
futura.
Por fim, “Sob
o domínio da crença de
que tudo se acaba com a
vida, a imensidade é o
vácuo, o egoísmo reina
soberano entre vós e a
vossa palavra de ordem
é: ‘Cada um por si’. Com
a certeza do futuro, os
espaços infinitos se
povoam ao infinito, em
parte alguma há o vazio
e a solidão; a
solidariedade liga todos
os seres, aquém e além
da tumba. É o reino da
caridade, sob a divisa:
‘Um por todos e todos
por um’. Enfim, ao termo
da vida dizíeis eterno
adeus aos que vos são
caros; agora,
simplesmente direis:
‘Até breve!’” (Allan
Kardec. A Gênese.
Capítulo I. Item 62.)
Bibliografia:
ÂNGELIS,
Joanna de (Espírito); na
psicografia de Divaldo
Pereira Franco. Vida
feliz. 18ª Edição.
Salvador/BA: Editora
Leal, 2020.
BÍBLIA
SAGRADA.
KARDEC,
Allan; tradução de
Evandro Noleto Bezerra. A
Gênese. 2ª Edição.
Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira,
2013.
KARDEC,
Allan; tradução de
Evandro Noleto Bezerra. O
Céu e o Inferno. 2ª
Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita
Brasileira, 2013.
KARDEC,
Allan; tradução de
Guillon Ribeiro. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita
Brasileira, 2019.
KARDEC,
Allan; tradução de
Guillon Ribeiro. O
Livro dos Espíritos.
1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita
Brasileira, 2019.
KARDEC,
Allan; tradução de
Evandro Noleto Bezerra. Obras
póstumas. 2ª Edição.
Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira,
2013.
KARDEC,
Allan; tradução de
Evandro Noleto Bezerra. O
que é o Espiritismo.
2ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita
Brasileira, 2017.
MIRANDA,
Manoel Philomeno de
(Espírito); Divaldo
Pereira Franco
(psicografado por). Transição
Planetária. 5ª
Edição. Salvador/BA:
Editora Leal, 2017.