A mão esquerda
“Mas,
quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o
que faz a tua direita.” - Mateus
6:3
Este conselho de Jesus Cristo vem após a crítica sobre
as pessoas que dão esmola em frente aos outros para que
possam ser elogiadas.
O próprio elogio em si é a recompensa de quem o fez. Uma
recompensa justa, pois foi a intenção que estes tiveram
e colhem o que semearam.
Para além de não devermos mostrar o que fazemos, o
Mestre aconselha-nos a que a nossa mão esquerda não
chegue a saber o que a direita faz. Como é possível isto
acontecer?
Quem sabe o que fazemos, ou não, é a parte inteligente,
a mente. Então, tem que ser travado aí, a mão é uma
alegoria ao nosso funcionamento mental.
Jesus utilizou estas figuras do corpo, em relação à
forma de estarmos na vida, por várias passagens. Podemos
ver, em Mateus 5:29, a passagem:
“Portanto,
se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o
e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se
perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja
lançado no inferno”.
Não é culpa do olho, mas do funcionamento mental que
podemos ter em relação ao que vimos, tal como as mãos,
na passagem que estamos a ponderar no texto.
Como poderá a mão esquerda não saber o que a direita
faz?
A mão esquerda representa a forma como recebemos o ato.
Quando fazemos um ato de caridade é porque alguém
precisa e nós estamos em condições de o fazer. Seja um
simples bocado de pão, seja a ajuda a um amigo ou
familiar, com uma conversa.
Para existir esta oportunidade de fazer o bem, tem que
existir quem precise. Nós, normalmente, colocamo-nos
como os “principais da fita”, mas sem a pessoa
necessitada não existiria a carência de o fazer, ele é o
principal ator neste ato.
Trazer a importância para nós, de que “eu estive bem”, é
querer ser o protagonista da peça que não nos pertence.
A fome ou a necessidade de ajuda daquela pessoa não está
em nossas mãos. Pensar que aquele irmão foi ajudado,
graças a mim, é colocar parte do movimento da vida
daquele ser dependente de mim. Não vos parece isto
errado?
Deus tudo organiza e Ele deu-nos aquela oportunidade, se
não aceitarmos, virá alguém e o fará.
Podemos constatar, através da lógica de que nenhum
destino de ninguém está em nossas mãos, mas todos nas
“mãos” de Deus.
A mão esquerda não saber é o mesmo que dizer: a mente,
ou nós não sabermos.
Como é isto possível?
Quando fazemos o ato, acontece a ação. O ato é sempre
presente e, enquanto este decorre, não acontece o
orgulho, apenas a compaixão.
Foi levantada a compaixão em mim, o que me levou a agir
em favor aquela pessoa.
Aqui, ainda não existe a mão esquerda, esta mão aparece
depois.
Após a caridade, temos uma enorme tendência de
transportar aquele ato conosco, em nossa mente.
Alimentamos o nosso Ego com aquela ação, aumentando o
nosso orgulho, pois só olhamos pra nós. “Estive muito
bem”, “pude ajudar aquela pessoa” etc.
De que isto nos serve?
Não parece que entrou a mão esquerda em ação? Agora ela
sabe e saboreia este ato.
Se nós olhamos para o outro que ajudamos ou alimentamos,
podemos perceber que ele continuará a precisar de ajuda
ou alimentação. Com esta visão, que orgulho ou
satisfação posso sentir?
O problema é que passamos a olhar para nós e não para o
todo, onde inclui o outro, e concluo que estive muito
bem naquela ação que passou a ser memória.
O ruminar pensativo, fora da ação, como neste caso da
caridade, é um veneno que constrói o âmago que se
entrepõe entre o Filho de Deus e o Filho do Homem.
Vigiai para que não entreis em tentação.
“Mas,
quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o
que faz a tua direita.” - Mateus
6:3.
|