Superando aflições
“Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia.” –
Jesus (Mateus, 5:7.)
Uma senhora ainda jovem, de 41 anos, procurou-nos,
quatro dias após ter alta da Covid. Uma dificuldade
enorme para caminhar, andando muito devagar. Muita falta
de ar ainda, sequela da Covid. Ficara 10 dias na UTI.
Seu depoimento nos emocionou. Não precisou ser entubada,
mas viu muitos morrerem ao seu lado. Ficou encantada com
a dedicação dos médicos e enfermeiros. Contou-nos que
viu muitos médicos chorarem, com a morte de pacientes
que estavam na UTI.
Falou com tanto carinho e gratidão sobre os trabalhos e
sacrifícios dos médicos e do pessoal da UTI!
Relatou que um dos médicos, ela o viu lá por três dias
consecutivos. Ele não saiu para descansar. Não foi para
a sua casa, não foi ver sua família. Ficou lá, cuidando
deles.
“Até meus cabelos, os médicos penteavam!” - disse-nos
ela. “Um dia, fiz uma parada cardiorrespiratória lá.
Eu vi o famoso túnel, com a luz no final. Chamou-me a
atenção que ele era cheio de luzes, como se fossem
lâmpadas, e eu queria tocá-las. Vi minha vida toda
rapidamente. E revi minhas linhas de crochê, faço muito
crochê. Na hora pensei: para quem vou deixar minhas
linhas? Parecia que alguém me puxava. Ouvi palavras de
desespero. Eram os médicos, pelejando para eu não
morrer. Ouvi quando disseram: Tentem mais um pouco! Ela
só tem 41 anos! E aí retornei.”
E ela continuou:
“Todos eles me explicavam tudo com detalhes. Toda a
medicação que me davam, diziam o que era. Havia pegado a
variante nova, muito agressiva. Fui orientada sobre tudo
pelos médicos. A sequela vai demorar, essa falta de ar é
isso. Os pulmões já estão limpos, o oxigênio está
normal, mas estou fazendo fisioterapia respiratória, não
consigo respirar direito. Não desejaria uma doença dessa
nem para algum inimigo, se eu tivesse algum”.
“Esse micróbio, disse ela, não é de Deus. Representa a
nossa luta, entre o bem e o mal. Somente venceremos se
mantivermos a confiança no amor de Deus. Não podemos
perder a esperança. Sou profundamente agradecida pelo
amparo que recebi e vi o quanto os médicos sofrem,
ajudando os outros, sem nunca desistirem, chorando
quando um morria.”
Foi um depoimento que nos emocionou. Quase choramos
ouvindo sua história. Dava dó ver a dificuldade dela
para andar. Andando tão lentamente pela falta de ar!
Essa doença, verdadeiramente, veio para abalar as
profundas estruturas do eu, nas emoções internas,
despertando solidariedade, sacrifício, devotamento e
abnegação! Muitas virtudes benditas! Essa foi apenas
uma, entre tantas histórias que temos ouvido! Histórias
lindas, de amor e fé. Deus permite que passemos
situações assim, para o nosso próprio despertar
espiritual, para a nossa ascensão para ele.
Há que mantermos as esperanças e nunca desanimar. Todas
as dores hão de passar um dia.
Do Livro da Esperança, psicografado por Chico
Xavier, pelo Espírito de Emmanuel, compilamos aqui uma
mensagem que nos lembra a atitude dos que usam suas mãos
de modo compassivo, auxiliando a reduzir as dores
alheias, qualquer que seja o trabalho que realizem,
dentro da área da saúde, ou em trabalhos solidários do
bem e da caridade em toda a parte. Trata-se da mensagem
intitulada Donativo da Alma. Inicia-se com as
bem-aventuranças que colocamos no início do texto. E
continua:
“A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto
aquele que não for misericordioso, não poderá ser brando
e pacífico. (O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo
X, v. 4.)
Reflete nas provações alheias e auxilia incessantemente.
Louvado para sempre o trabalho honesto com que te
dispões a minorar as dificuldades dos semelhantes,
ensinando-lhes a encontrar a felicidade, através do
esforço digno.
Bendita a moeda que deixas escorregar nas mãos
fatigadas, que se constrangem a implorar o socorro
público.
Inesquecível a operação da beneficência, com a qual te
desfazes de recursos diversos, para que não haja penúria
na vizinhança.
Abençoado o dia de serviço gratuito que prestas no
amparo aos companheiros menos felizes.
Enaltecido o devotamento que empregas na instrução aos
viajores do mundo, que ainda se debatem nos labirintos
da ignorância.
Glorificado o conselho fraterno com que te decides a
mostrar o melhor caminho.
Santo o remédio com que alivias a dor.
Inolvidável todo investimento que realizes no Instituto
Universal da Providência Divina, quando entregas a
benefício dos outros o concurso financeiro, a página
educativa, a peça de roupa, o litro de leite, o cobertor
agasalhante, o momento de consolo, o gesto de
solidariedade, o prato de pão...
Não se pode esquecer que Jesus consignou por crédito
sublime da alma, no reino de Deus, o simples copo de
água que se dê no mundo em seu
nome.
Entretanto, mil vezes bem-aventurada seja cada hora de
tua paciência diante daqueles que não te compreendam ou
te esqueçam, te firam ou te achincalhem, porque a
paciência, invariavelmente feita de bondade e silêncio,
abnegação e esquecimento do mal, é donativo
essencialmente da alma, bênção da fonte divina do amor,
que jorra das nascentes do sacrifício, seja formada no
suor da humildade ou no pranto oculto do coração”.
São esses Espíritos caridosos como os dessa mensagem,
como os da história da senhora recém-saída da UTI, que,
trabalhando incessantemente pelo bem na Terra, ajudam
nas superações das dores e provas que ainda vigem no
globo.
Benditos sejam esses que agem com misericórdia, porque
alcançarão também misericórdia!
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