Os acontecimentos e os seus impactos em
nossas vidas
Muitos perguntam-se como interpretar a ocorrência dos
acontecimentos em suas vidas. Não há como negar que eles
constituem o pano de fundo das nossas existências. Como
tal, devem ser adequadamente compreendidos para que
tenhamos um bom aproveitamento em nossa experiência
corporal. Dito de outra forma, precisamos entender por
que eles se desenrolam e os seus significados em nossas
trajetórias. Posto isto, se prestarmos bem a atenção,
notaremos que o acaso não faz parte dessa fórmula
transcendental. A propósito, as evidências claramente
indicam que tal elemento não consta nas deliberações
divinas.
Portanto, antes de reiniciarmos nossa jornada nessa
dimensão – repleta, aliás, de caos e incertezas, mas
igualmente de oportunidades de autoiluminação – nos
comprometemos, via de regra, a passar por determinadas
situações e desafios, o que implica em receber o impacto
(nem sempre positivo) de certos acontecimentos. Nesse
sentido, somos levados a experienciar constantemente uma
série de eventos e fatos. Cumpre reconhecer que eles
moldam nossa trajetória, a fim de que os objetivos
inicialmente fixados pela espiritualidade maior, que
sempre visa o melhor às nossas necessidades, sejam
preservados.
É preciso, portanto, extrair as lições e aprendizados
neles embutidos, de modo tal que a nossa encarnação seja
exitosa. Definitivamente, Deus não brinca com os seres
humanos. Na verdade, ele nos dá os instrumentos para que
as nossas sombras interiores sejam diluídas pelo
autoconhecimento e as firmes iniciativas. Identificando
com clareza o que ainda carregamos de ruim dentro de nós
– o que nem sempre é fácil, pois a autocrítica ainda não
é apanágio da humanidade -, e tendo a coragem moral de
vencê-lo, certamente pavimentaremos o nosso caminho
ascensional. Baseando-me nessa premissa, não pretendo
oferecer uma perfeita taxonomia, mas, creio firmemente
que os acontecimentos em nossas vidas visam a atender
nossas deficiências pelo menos em termos de: aprendizagem,
expiação/sofrimento, avaliação e aplicação.
Como disse antes, eles obedecem a um propósito superior.
Assim sendo, se olharmos pelo lado das carências humanas
na esfera da aquisição de sabedoria, dificilmente
deixaremos de entender que os eventos que nos atingem
também nos facultam a oportunidade de algo aprendermos.
Por exemplo, quando estamos num consultório médico
aguardando serenamente a nossa vez de sermos atendidos,
estamos exercitando a virtude da paciência. Quando
ouvimos os relatos de um outro paciente queixando-se das
suas dores ou enfatizando as suas agruras pessoais,
estamos demostrando possuir, além de educação,
comiseração pelas dificuldades alheias. Quando optamos
em aproveitar o longo tempo ali despendido lendo algo
digno ou valoroso em seu conteúdo, estamos agregando
mais entendimento ao nosso Espírito. Quando suportamos
com sorriso a grosseria da espera excessiva sem queixa
(médicos, aliás, geralmente dão pouca ou nenhuma atenção
à agenda dos pacientes), demonstramos resiliência.
Quando ouvimos outros pacientes conversando em voz alta,
e nos mantemos em silêncio, respeitamos o direito de
cada um. Veja que um simples acontecimento – um atraso
na consulta médica – pode proporcionar momentos
concretos de autoaperfeiçoamento e aprendizado.
Avançando em nossa análise, os acontecimentos também
têm, às vezes, o caráter gerador de expiações e/ou sofrimento.
Constatar que o exame médico que realizamos dias antes
revelaram, por exemplo, um tumor maligno é absolutamente
devastador para qualquer um – pelo menos num primeiro
momento. Submeter-se aos terríveis tratamentos
quimioterápicos ou radioterápicos exigem muito de
qualquer um. No entanto, se formos o autor do mal que
ora se instalou em nosso organismo devido à nossa
incúria e risco, talvez a expiação que se manifesta nos
ensine a repensar, doravante, a nossa conduta e hábitos.
Em outras ocasiões, as doenças se manifestam sem que
tenhamos feito nada de errado. Pode-se, assim,
conjecturar que talvez não estejam vinculadas às nossas
atitudes atuais.
Ou seja, não é improvável que, em outra romagem,
tenhamos agido irresponsavelmente em relação ao nosso
veículo físico. Consoante à legítima lei de causa e
efeito, a moléstia poderia estar ali dormitando em nosso
perispírito pronta para eclodir no momento oportuno.
Seja como for, tenhamos em mente que a saúde humana é
uma concessão extraordinária dada pelo Criador em nosso
benefício. Preservá-la, então, é dever de todos nós, e
os acontecimentos que permeiam as nossas vidas
simplesmente reforçam tal percepção.
Por outro lado, os eventos podem ocorrer para que a
espiritualidade possa avaliar até que ponto
aprendemos certas lições. Nesse sentido, os reveses,
contratempos, adversidades e até mesmo as desgraças
obedecem a um mecanismo sutil e providencial elaborado
pelas entidades divinas. Eles têm, essencialmente, a
finalidade de testar o nosso grau de desenvolvimento
espiritual. Geralmente, eles surgem de maneira
inesperada e nos arrastam às espinhosas experiências.
Para ilustrar o raciocínio cabe recordar que
recentemente tivemos os Jogos Paralímpicos de Tóquio. O
traço comum de todos aqueles atletas era, como sabemos,
o fato de portarem algum grau de deficiência física ou
mental. Nasceram ou adquiriram alguma doença ao longo
das suas jovens vidas que os limitou significativamente
nessa dimensão.
Em função disso, poderiam perfeitamente aceitar as
imposições cármicas e seguir adiante sem grandes
mudanças em suas existências. No entanto, preferiram um
outro caminho muito mais louvável e digno. Grande número
deles conquistaram medalhas pelo seu extraordinário
desempenho – o que nos dá enorme alegria. Outros ainda,
aquinhoados pelas bênçãos de ter o corpo perfeito,
veem-se às voltas com enormes dificuldades de
sobrevivência, mas continuam lutando por um futuro
melhor. Conduzem-se com ética e equilíbrio em ambientes
intoxicados pelas gangues criminosas e intenso tráfico
de drogas. E apesar dos péssimos quadros sociais que
testemunham diariamente, suas convicções no exercício do
bem e na prática da cidadania permanecem inalteradas.
Como recentemente afirmou um editor de destacada
publicação acadêmica brasileira na área de estudos
organizacionais, “[...] Longe de qualquer nostalgia
infundada, mas realmente algo se perdeu. Referimo-nos à
civilidade, a certa noção de trato social, a um quadro
em que ser discordante de alguém não convertia as
pessoas em inimigas a serem extirpadas da sociedade como
tumores. Os níveis crescentes de intolerância em
praticamente todos os campos da sociedade sugerem que
estamos diante de relações sociais inflamadas”.
Pessoas pertencentes ao referido grupo, não obstante as
mazelas e diatribes que obscurecem ainda mais o nosso
contexto de vida, conforme observa-se no comentário
acima, continuam fazendo a sua parte e, sobretudo, dando
os bons exemplos.
Não posso deixar de arrolar aqui as oportunidades de
fazermos o bem. Às vezes, o indivíduo tem todas
as condições de aliviar o fardo de outrem, mas nem
sempre o faz. Em vez de implementar a caridade ou
solidariedade ao seu alcance, prefere a omissão ou
indiferença. Obviamente, sua avaliação de conduta pela
espiritualidade não lhe será favorável.
Por fim, e muito longe de exaurir o assunto, temos o
grupo devotado à aplicação da sua salutar bagagem
nas lides humanas: trabalho, família, comunidades e
nação. São os executores propriamente dito das grandes
realizações humanas. Usam os seus conhecimentos e
virtudes para o enfrentamento positivo dos
acontecimentos. Em decorrência dessa maneira de ser,
extraem o melhor das situações, pois têm um olhar
positivo e benéfico pronto a empregar. Dessa forma,
encaram os eventos mais dificultosos com absoluta
confiança e paz interior, pois são almas
psicologicamente maduras. Adoram a Deus e Jesus com fé
absoluta. Intuem que a sua cooperação na obra divina,
que abarca todo o planeta e a humanidade, é imperiosa
para que um dia possam alcançar a plenitude espiritual e
a felicidade sem manchas.
Um outro fator importante a considerar aqui é o papel
exercido pelas pessoas nos episódios que nos atingem.
Algumas serão lembradas por nós com muito carinho e amor
pela ajuda, solidariedade e amizade que nos dedicaram em
certos acontecimentos. Assim sendo, nunca esqueceremos
do seu afeto para conosco, pois foram verdadeiros anjos
em nossos caminhos. No entanto, há muitas que
representam um papel neutro. Simplesmente cruzam nossos
caminhos deixando uma vaga lembrança sem nada de
interessante a ressaltar. Mas há aquelas que têm um
papel decisivo em nossas angústias e adversidades.
Lembraremos delas pelo mal e sofrimento que nos
causaram. Devemos perdoá-las, assim como nos ensinou
Jesus, pois a vida se encaixa de entregar a colheita
adequada a cada um de nós...
Olhando os acontecimentos sob uma perspectiva menos
sombria, neles enxergaremos a mão de Deus a nos indicar
o caminho da luz.
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