Condição comum
Observamos junto à humanidade, independente do país,
nacionalidade ou crença, um traço muito forte que acaba
unindo os homens na hora da dor, a falta de uma fé,
resiliência ou resignação. As filas nas portas dos
hospitais e prontos-socorros crescem a cada dia e,
acompanhando as reportagens pelos meios de comunicação,
somos levados a perceber a grande dificuldade das
pessoas enfrentarem a prova ou expiação com uma fé
raciocinada, fruto de um testemunho pessoal, construído
ao longo da vida pelo exercício de uma espiritualidade
para, no momento do testemunho, dar uma prova de seu
amadurecimento do senso moral, para a nuvem de Espíritos
que nos cercam no decorrer dessa existência física.
A compreensão da imortalidade da alma e da
transitoriedade da matéria é um atributo conquistado
individualmente por cada um de nós ao longo das
sucessivas encarnações, que pode até ser ensinado ou
compartilhado, quando as pessoas tiverem olhos de ver e
ouvidos de ouvir a Boa Nova, a Terceira Revelação!
Ensinamento esse que ajudará, na capacitação do Espírito
imortal, a melhor lidar com a ideia de que a vida não
começa no berço e não termina no túmulo e dessa forma
estamos estagiando num corpo de carne para evoluir, e
que um corpo infantil pode ser ocupado por um Espírito
imortal milenar, com muitas encarnações, e o aparente
sofrimento nada mais é do que uma prova que o espírito
precisa passar, assim como seus familiares, numa
programação preestabelecida pela espiritualidade,
envolvendo todas as pessoas da mesma família, numa mesma
cultura e mesma nacionalidade.
Espíritos solicitam junto às esferas mais elevadas
passar por provas duríssimas em uma nova existência
corpórea, para corrigirem falhas e acelerarem sua
evolução moral aqui no plano terreno em um corpo doente,
numa condição de pobreza e miséria, renascendo em
regiões onde a guerra e a destruição subtraem a
esperança da expectativa de vida das pessoas, isso sem
falar na fome e nas doenças que assolam o mundo que
vivemos.
– “...Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado
e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais coisas
se haja confiado.” (Lucas, cap. XII, v v. 47 e 48.)
A permanência na condição de vigília, ao longo da
encarnação, deveria ser usada pelo Espírito para se
capacitar de conhecimentos nobres, no engrandecimento da
sua evolução moral, fato que nem sempre acontece, pois,
o homem está mais preocupado com sua sobrevivência
material ou infelizmente se deixando arrastar pelos
convites frívolos, transitórios ou passageiros do mundo
dos encarnados, fato que nos reporta à passagem bíblica
de João!
“Estou no mundo, mas não sou do mundo.” (João 17:14)
O mundo de regeneração que desejamos construir será um
movimento coletivo de todos nós, onde, nós encarnados,
daremos aos benfeitores espirituais um testemunho
silencioso de humildade e resiliência, não de
passividade, mas conhecimento da verdade, sabendo que em
um planeta de provas e expiações existirão muitas
dificuldades que vão desafiar nossa fé e colocar em
prova nossa capacidade de perseverar no bem, pois muitos
trabalham em favor do semelhante, mas esse número ainda
é muito pequeno, diante das mazelas que podemos
testemunhar nas mídias sociais. Grandes bolsões de
miséria convivem com bairros de luxo, nas capitais do
país.
Cabe a cada um de nós promovermos nossa reforma íntima e
transformação moral, independente daqueles que nos
acompanham seguirem no mesmo ritmo, pois essa proposta
de transformação reflete o desejo da maturidade moral
alcançado pelo espírito, quando sente e percebe que deve
se modificar e dar um testemunho de transformação
àqueles que o acompanham, pois quando estamos diante da
verdade, nossa bagagem moral vai pesar nas escolhas que
realizamos em nosso favor, nos lembrando da passagem do
cego de Jericó:
“...E Jesus, falando, disse-lhe: “Que queres que te
faça? E ele respondeu: — Senhor, que eu veja”. — (Lucas,
capítulo 18, versículo 41.)
Enxergar, para o cego Bartimeu, não era apenas ver, mas
compreender o que se passava de fato com os homens,
perceber o contexto reencarnatório em que estava
inserido e que o aparente sofrimento teria um fim com a
revelação de que a vida continuava e as condições de
sofrimento não poderiam ser eternas. Lembrando que o
Cristo exortou a todos, quando disse:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o
meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde
de coração; e achareis descanso para a vossa alma.
Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve". (Mateus
11:28-30)
Deveríamos tomar como exemplo as atitudes dos Espíritos,
amadurecidos moralmente, que solicitam do alto
reencarnações duras e necessárias para conseguir avançar
moralmente e não facilidades ou privilégios momentâneos,
mas perseverança e fé para levar adiante nossas vidas,
cumprindo nossas programações reencarnatórias com a
consciência da transitoriedade do corpo de carne em que
nos encontramos ancorados e que um dia vai deixar de
existir, nos liberando ao retorno ao mundo espiritual.
Lembrando sempre que o autoconhecimento das verdades
espirituais será um importante esclarecimento para a
nossa libertação das amarras ao corpo físico.
A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra. —
Tal é a lei da Justiça Divina. (O Céu e o Inferno, 1ª
parte, cap. 5 – n. 4.)
Somos obrigados a reconhecer que existe uma “condição
comum” a todos os encarnados que pode se apresentar de
forma coletiva ou individual, o testemunho ou prova pelo
qual estão passando, que vem exigindo uma demonstração
de compreensão do contexto reencarnatório em que nos
encontramos. Tanto o homem abastado como o pobre acabam
dando um testemunho silencioso, refletindo em sua
bagagem espiritual. Os conhecimentos amealhados em
outras existências físicas podem e serão fundamentais
para lidar com a dor, a perda dos entes queridos, uma
maturidade de senso moral, patrimônio inalienável do
espírito, uma conquista que muitos deram testemunho pelo
próprio sofrimento, porém que, na grande maioria das
vezes, passam desapercebidos por muitos de nós.
Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um
centurião e rogou-lhe: Senhor, o meu criado jaz em casa
paralítico, padecendo horrivelmente. Disse-lhe: eu irei
curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, eu não sou
digno de que entres em minha casa; mas dize somente uma
palavra e o meu criado há de sarar. (Mateus,
VIII, 5-13.)
“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de
justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. Se
interroga a sua consciência sobre os próprios atos,
pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal,
se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar
voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem
do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros aquilo
que queria que os outros fizessem a ele”.
Tanto encarnados como desencarnados na mesma faixa
vibratória e evolutiva, quando desejam, se encontram com
dilemas muito parecidos. Para progredir, se faz
necessário renunciar aos arrastamentos materiais,
expandindo sua consciência para perceber a realidade
espiritual que os cerca, nos dois planos da vida,
exercitando a prática da caridade e do amor ao próximo,
pois o grande mérito individual na prática do bem e da
caridade está no grau de dificuldade em realizar essa
tarefa, pois, segundo Allan Kardec, não há mérito em se
fazer o bem, sem trabalho, e quando nada custa. Isso sem
falar no grande movimento de reforma íntima ou de
transformações das emoções, os quais precisamos
realizar. Resignificando os acontecimentos em nossas
vidas, como incidentes que aconteceram para o nosso
crescimento e, se abusamos do nosso livre-arbítrio,
prejudicando a vida do nosso próximo em algum momento
desta ou de outra encarnação, teremos de reparar ou
corrigir. Responsabilidade nossa, dever nosso, que um
dia vira à tona e teremos de acertar contas com a nossa
consciência.
Referências:
1) Francisco
Cândido Xavier; Pão Nosso. Pelo Espírito de
Emmanuel. FEB.
2) Francisco
Cândido Xavier; Caminho, Verdade e Vida. Pelo
Espírito de Emmanuel. FEB.
3) Allan
Kardec; O Céu e o Inferno. FEB.
4) Allan
Kardec; O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
5) Allan
Kardec; O Livro dos Espíritos. FEB.
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