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por Altamirando Carneiro

 

Ressurreições


Foi em Betânia, palavra hebraica que significa "Casa do pobre", ou ainda "Casa da Graça", que aconteceu o episódio denominado a Ressurreição de Lázaro.                

A passagem, descrita no Evangelho de João (11: 1 a 54) - transcrevemos o relato da Bíblia de Jerusalém - mostra que depois do fato, intensificou-se a ira dos que queriam condenar Jesus.

"Havia um doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e de sua irmã Marta. Maria era aquela que ungira o Senhor com bálsamo e lhe enxugara os pés com os cabelos. Seu irmão Lázaro se achava doente. As duas irmãs mandaram, então, dizer a Jesus: 'Senhor, aquele que amas está enfermo'. A essa notícia, Jesus disse: 'Essa doença não é mortal, mas para a glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o Filho de Deus'.

Ora, Jesus amava Marta e sua irmã e Lázaro.

Quando soube que este estava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar em que se encontrava; só depois, disse aos discípulos: 'Vamos outra vez à Judeia!' Seus discípulos disseram-lhe: 'Rabi, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te e vais outra vez para lá?' Respondeu Jesus: 'Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; mas se alguém caminha à noite, tropeça, porque a luz não está nele'.

Disse isso e depois acrescentou: 'Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo'. Os discípulos responderam: 'Senhor, se ele está dormindo, se salvará!' Jesus, porém, falara de sua morte e eles julgaram que falasse do repouso do sono. Então Jesus lhes falou claramente: 'Lázaro morreu. Por vossa causa, alegro-me de não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para junto dele!' Tomé, chamado Dídimo, disse então aos condiscípulos: 'Vamos também nós, para morrermos com ele!'

Ao chegar, Jesus encontrou Lázaro já sepultado havia quatro dias. Betânia ficava perto de Jerusalém a uns quinze estádios. Muitos judeus vieram até Marta e Maria, para as consolar da perda do irmão. Quando Marta soube que Jesus chegara, saiu ao seu encontro; Maria, porém, continuava sentada, em casa. Então, disse Marta a Jesus: 'Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas ainda agora sei que tudo o que pedires a Deus, ele te concederá'. Disse-lhe Jesus: 'Teu irmão ressuscitará'. 'Sei, disse Marta, que ressuscitará na ressurreição do último dia!' 

Disse-lhe Jesus: 'Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá. Crês nisso?'

Disse ela: 'Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo'. Tendo dito isso, afastou-se e chamou sua irmã Maria, dizendo baixinho: 'O Mestre está aí e te chama!' Esta, ouvindo isso, ergueu-se logo e foi ao seu encontro. Jesus não entrara ainda no povoado, mas estava no lugar em que Maria o fora encontrar. Quando os judeus, que estavam na casa com Maria, consolando-a, viram-na levantar-se rapidamente e sair, acompanharam-na, julgando que fosse ao sepulcro para aí chorar.

Chegando ao lugar onde Jesus estava, Maria, vendo-o, prostrou-se aos seus pés e lhe disse: 'Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido'. Quando Jesus a viu chorar e também os judeus que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado. E perguntou: 'Onde o colocastes?' Responderam-lhe: 'Senhor, vem e vê!' Jesus chorou. Diziam, então, os judeus: 'Vede como ele o amava!' Alguns deles disseram: 'Esse, que abriu os olhos do cego, não poderia ter feito com que ele não morresse?' Comoveu-se de novo Jesus e dirigiu-se ao sepulcro. Era uma gruta, com uma pedra sobreposta. Disse Jesus: Retirai a pedra! Marta, a irmã do morto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal: é o quarto dia! Disse-lhe Jesus: 'Não te disse que, se credes, verás a glória de Deus?' Retiraram, então, a pedra. Jesus ergueu os olhos para o alto e disse:

‘Pai, dou-te graças porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves; mas digo isso por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que me enviaste'.

Tendo dito isso, gritou em alta voz: 'Lázaro, vem para fora!' O morto saiu, com os pés e mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário. Jesus lhe disse: 'Desatai-o e deixai-o ir'.

Os chefes judeus decidem a morte de Jesus

Muitos dos judeus que tinham vindo à casa de Maria, tendo visto o que ele fizera, creram nele. Mas alguns dirigiram-se aos fariseus e lhes disseram o que Jesus fizera. Então, o chefe dos sacerdotes e os fariseus reuniram o Conselho e disseram: 'Que faremos? Esse homem realiza muitos sinais. Se o deixarmos assim, todos crerão nele e os romanos virão, destruindo o nosso lugar santo e a nação'. Um deles, porém, Caifás, que era Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: 'Vós nada entendeis. Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?' Não dizia isso por si mesmo, mas, sendo Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus morreria pela nação – e não só pela nação, mas também para congregar na unidade todos os filhos de Deus dispersos. Então, a partir desse dia, resolveram matá-lo. Jesus, por isso, não andava em público, entre os judeus, mas retirou-se para a região próxima do deserto, para a cidade chamada Efraim, e aí permaneceu com seus discípulos.”

No capítulo Ressurreições, no livro A Gênese, Allan Kardec explica que o fato da volta à vida corporal, de um indivíduo, realmente morto, seria contrário às leis da natureza. Não é necessário recorrer a essa derrogação para explicar as ressurreições operadas pelo Cristo.
Em certos estados patológicos, quando o Espírito não está mais no corpo, e o perispírito não adere a ele senão por alguns pontos, o corpo tem todas as aparências de morto, situação esta verdadeiramente bem descrita quando se diz que a vida está por um fio. Tal estado pode durar por mais ou menos tempo; certas partes do corpo podem mesmo estar em decomposição, sem que a vida seja definitivamente extinta. Enquanto o derradeiro fio não for rompido, o Espírito pode ser trazido de volta ao corpo, seja por uma ação enérgica da sua própria vontade, seja pelo influxo fluídico estranho, igualmente poderoso. Assim se explicam certas prolongações da vida contra toda probabilidade, e certas pretensas ressurreições. É a planta que volta a viver, por vezes por uma só fibrila da raiz; mas quando as últimas moléculas do corpo fluídico são destacadas do corpo carnal, ou quando este último está num grau de degradação irreparável, todo retorno à vida torna-se impossível.
 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita