Pedro II
e a população do seu Reino
Não são poucos os relatos na imprensa e nos livros sobre
as qualidades do Imperador do Brasil Pedro II,
especialmente as morais. Histórias e depoimentos são
facilmente encontrados dando conta das decisões
políticas sensatas e dos seus cuidados especiais com a
população do seu reino, principalmente os pobres.
Pedro II (1825-1891) governou por 49 anos. De grande
porte, l,90m, cabelos loiros e barba de profeta, era
avesso às festas e às bajulações normalmente associadas
à realeza. Letrado, tratava a todos com cortesia,
detestava ostentação e se vestia com simplicidade.
O historiador José Murilo de Carvalho afirma que “O
prestígio da monarquia, por ele representado, ajudara a
manter a unidade do país. Sua obsessão pelo cumprimento
das obrigações constitucionais e seu senso de justiça e
equilíbrio permitiram que o Brasil se transformasse em
exemplo de estabilidade institucional, de regularidade
de eleições, de liberdade de imprensa e de tranquilidade
política em vivo contraste com o que se passava nos
países de origem hispânica”.
Segundo Humberto de Campos, em O Brasil anedótico (1928),
“Quatro dias após a proclamação da República (1889), a
legislação brasileira recebia o seguinte decreto:
‘Considerando que o senhor D. Pedro II pensionava de seu
bolso a necessitados e enfermos, viúvas e órfãos, para
muitos dos quais esse subsídio se tornava o único meio
de subsistência e educação;
Considerando que seria crueldade envolver na queda da
monarquia o infortúnio de tantos desvalidos;
Considerando a inconveniência de amargurar com esses
sofrimentos imerecidos a fundação da República:
Resolve o Governo Provisório da República dos Estados
Unidos do Brasil:
Artigo 1º – Os necessitados, enfermos, viúvas e órfãos,
pensionados pelo Imperador deposto continuarão a
perceber o mesmo subsídio, enquanto durar a respeito de
cada um a indigência, a moléstia, a viuvez ou a
menoridade em que hoje se acharem.
Artigo 2º – Para cumprimento dessa disposição se
organizará, segundo a escrituração da ex-mordomia da
casa imperial, uma lista discriminada quanto à situação
de cada indivíduo ou à quota que lhe couber.
Artigo 3º – Revogam-se as disposições em contrário.
Sala das sessões do Governo Provisório, em 19 de
novembro de 1889. – Manuel Deodoro da Fonseca –
Aristides da Silveira Lobo – Rui Barbosa – Manuel Ferraz
de Campos Sales – Quintino Bocaiúva – Benjamim Constant
Botelho de Magalhães – Eduardo Wandenkolk’.
Humberto de Campos conclui no seu livro a nota sobre
Pedro II com uma ‘Observação de um republicano’:
– Não precisa o túmulo de Pedro II de epitáfios
pomposos, em latim grandiloquente. Basta que se grave
esse decreto do Governo Provisório sobre a pedra mármore
de Pedro, o Pobre”.
Eu concluo esta crônica com uma nota de admiração a
todos os personagens que, reencarnados no mundo,
ilustram sua passagem com atos de amor, justiça e
dignidade, independentemente do campo de atuação onde
servem.
Obras consultadas:
O Brasil anedótico,
Humberto de Campos, Editora Mérito, 1962.
A História do Brasil em 50 frases,
Jaime Klintowitz, Editora Leya, 2014.
A Construção nacional, 1830-1889,
José Murilo de Carvalho, Objetiva, 2012.
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