Coluna
social
espírita
Antecede o fenômeno das redes sociais o gosto dos
espíritas pela identificação de personalidades do
passado que estejam reencarnados no tempo presente. Uma
verdadeira gincana que agita não só os programas
populares do fim de semana, mas também os veículos de
comunicação social do movimento, nos quais, por meio de
revelações mediúnicas ou de meras suposições, se
asseveram a coincidência de identidades, como assunto de
grande relevância, para quebrar a rotina.
Incrivelmente, esse assunto consome horas e horas de
discussão no movimento espírita, como verdadeiros
“Sherlock Holmes” da espiritualidade, saem estes
elaborando rebuscadas teorias de que fulano teria sido
sicrano, muitas vezes construindo um certo elitismo, no
qual celebridade mantém a sua condição na fieira das
reencarnações, situação sem nenhum amparo doutrinário.
Por outro lado, os estudiosos de regressão de memória ou
de lembranças espontâneas são meticulosos em detalhes e
provas que relacionam o encarnado de hoje com uma pessoa
já desencarnada do passado, buscando ser bem cuidadosos
nessas afirmativas, fiéis ao seu caráter de
pesquisadores.
Documentários na televisão e obras como as de Ian
Stevenson, Hellen Wambach, Jim
Tucker e o livro “A volta: A incrível história da
reencarnação de James Huston Jr”, de Andrea Leininger e
Ken Gross, são exemplos de produções fora do movimento
espírita e que tratam das relações de identidades atuais
com passadas de forma bem prudente, pautadas por um
conjunto de indícios robustos que permitem fazer certas
ilações nesse sentido.
Mas, nós espíritas, insistimos em, por conta de uma
comunicação mediúnica, adotar determinadas teses sobre a
identidade de personalidades do passado reencarnadas, em
um processo potencializado pelas redes sociais que
inaugura genealogias reencarnatórias por conta de
características supostas do antepassado em relação ao
encarnado atual, de forma descontextualizada, e, às
vezes, com vieses na busca de se reforçar essas
assertivas, no qual só enxergamos o que corrobora a
nossa crença.
Essa prática, além de animar a coluna social espírita
com polêmicas e discussões inúteis, outra coisa
potencializada pelas redes sociais, serve a
interpretações que alimentam jogos políticos e ainda,
ajudam a explicar, de forma superficial, comportamentos
atuais que chocam ou são objeto de exaltação.
Essa situação é similar às questões
afetas à identidade dos
Espíritos nas comunicações mediúnicas, com a diferença
que não se prende a uma mensagem específica, mas a toda
a personalidade de uma pessoa encarnada e à busca de
relacionar esta a alguém do passado, para justificar
alguma tese. É uma forma de atender a nossa curiosidade,
à feição da nossa ansiedade pelo desenrolar de filmes e
as reviravoltas da sua conclusão.
Na questão da identidade dos Espíritos nas mensagens
psicografadas, Kardec nos traz uma preocupação com o
teor da mensagem, com a caligrafia, com a linguagem, com
relatos de pessoas que o conheceram em vida, conforme
descrito na introdução de O Livro dos Espíritos, sempre
com ceticismo, e percebendo, segundo o próprio
codificador, que isso não é uma questão tão relevante.
Na reencarnação, tem-se que a situação é mais complexa,
pois, no processo de nascer de novo, há uma reconstrução
da personalidade em um novo contexto, e essas relações
de identificação são mais complexas, sendo mais exitosas
no caso de lembranças espontâneas ou regressões, como já
citado, e que relacionam dados e documentos a essas
lembranças. E ainda assim, como já afirmado, os
pesquisadores são bem cautelosos nessas afirmativas.
Dessa breve discussão fica a seguinte reflexão: diante
de mais uma informação de rede social sobre o fulano de
hoje ser o sicrano do passado, nos importa saber,
primeiro, da relevância dessa informação para o que nos
interessa, nos minutos sagrados da reencarnação.
Segundo, vale avaliar não só a credibilidade da fonte,
mas que ideia se busca reforçar com esse argumento
reencarnatório. Pode ser para aumentar a credibilidade
de alguém por conta de sua suposta identidade de outra
vida, como é geralmente utilizado esse artifício. E isso
é preocupante.
Espírita, imbuído de uma fé raciocinada, que estuda e
reflete sobre o que lê, já tem elementos suficientes
para trafegar nesse mar de informações das redes
sociais, fugindo desse canto de Sereia de ficar
procurando personalidades reencarnadas, uma diversão não
muito diferente das mesas girantes de outrora, mas que
por detrás trazem discussões muito mais relevantes, que
não podem sumir na superficialidade dessas coisas.