Depressão curada por um cão
Olhem que assunto interessante. Os que se interessam
pela vivência no bem sempre aproveitam os momentos
oportunos, às vezes inesperados, de criar ideias,
construir pontes e ligar a necessidade com a potência em
ajudar.
Assim, percebo, enquanto escritora atenta e observadora
do comportamento humano, muitas ocasiões onde o
acontecimento, a ligação do bem se estabelece. E posso
até acrescentar que alguns amigos de longa data, ao se
engajarem numa tarefa altruísta, para o bem da alma,
conseguiram dar a volta por cima, esmagar a depressão e
voltar a viver, deixando de serem zumbis de seus
próprios destinos.
O que é preciso? Ânimo, boa vontade e ajustar a própria
agenda da vida, para encaixar tarefas no bem, ter
coragem de sair da “casinha”, e ver o sol nascer todos
os dias, em sorrisos de crianças, em um olhar de um
idoso, que sem pronunciar palavras agradecem a visita, o
toque, o passe, o diálogo, o carinho. Alguns são
relegados a terceiros, sem familiares que cuidem deles,
e poderemos ser a extensão de um carinho maternal,
paternal, sem julgamentos.
Uma de minhas amigas do Reino Unido, ao sentir-se
abandonada pelo namorado de longa data, entrou em
depressão e estava ficando difícil tirá-la dessa
situação. Ia arrastada ao trabalho, pois precisava
sobreviver, pagar contas, mas o peso dessa
responsabilidade era tal qual o peso do sofrimento, da
monoideia do abandono.
Eu fiquei praticamente em cima dela, com ligações,
mensagens de ânimo, chamando a atenção para a vida,
levantar não só a cabeça aos céus da paz de alma, mas a
própria alma caída em desespero. Quando se coloca muita
expectativa numa relação, faz do outro um ídolo num
pedestal, criado por nós mesmos. Se a relação é
destruída, nosso mundo também parece ruir. Não há
culpados, há os fragilizados, os que buscam se
estabelecer na vida, usando o sapato do outro...
Essa situação com minha amiga me fez crescer tanto,
entender a dor humana, como nos ensina Joanna de Ângelis
em tantos livros sobre a psicologia vista numa
perspectiva espiritual, dando-nos ferramentas de
entendimento e não desistência.
Precisei de ajuda com meu cãozinho para que eu pudesse
fazer algo em um local aonde não poderia levá-lo. Pedi à
minha amiga que viesse fazer essa caridade ao pequenino
Solomon. Que viesse atendê-lo, e lhe expliquei alguns
procedimentos para essa tarefa. Com muito custo para
convencê-la, ela veio e ficou dois dias com meu
pequenino num final de semana.
Para atender o Solzinho, teve de ir ao parque aqui ao
lado caminhar com ele, duas vezes ao dia, onde ficavam
por uma hora ou mais, e onde, por conta da lindeza do
cãozinho, eram parados a toda hora por pessoas, casais
com crianças, e assim, respirando a vida como ela é,
cheia de idas e vindas, pessoas, sol, árvores, canal,
água, vento, folhas, mato, grama, correr, sentir o ar
entrando pelas narinas, isso deu à minha amiga um ânimo,
que eu fiquei surpresa de ver quando retornei a casa,
encontrando-a diferente, com batom, denotando o cuidado
que retornou à sua própria vida. Certamente já estava
fixado em sua alma que a força de vontade e a caridade
de cuidar de um cãozinho a desviaram dos seus próprios
pensamentos de sofrimentos, criados por ela própria,
pois tudo na vida está de acordo com nossas escolhas,
nosso livre-arbítrio, como nos é ensinado pela Doutrina
Espírita.
Assim, em nosso diálogo, falamos de uma ONG que, no
Reino Unido, precisa de pessoas para visitar idosos,
passar algumas horinhas com eles, fazer um mercadinho, e
assim aprender com os sábios idosos, enquanto lhes
oferecemos atenção e carinho.
Não há depressão que resista à caridade, que é o amor em
ação.
Assim, seja onde for, dignidade não tem idade, e podemos
levar dignidade a todas as terras daqui e de além-mar.
Elsa Rossi, escritora e palestrante
espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da
BUSS - British Union of Spiritist Societies.
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