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por Elsa Rossi

Depressão curada por um cão


Olhem que assunto interessante. Os que se interessam pela vivência no bem sempre aproveitam os momentos oportunos, às vezes inesperados, de criar ideias, construir pontes e ligar a necessidade com a potência em ajudar.

Assim, percebo, enquanto escritora atenta e observadora do comportamento humano, muitas ocasiões onde o acontecimento, a ligação do bem se estabelece. E posso até acrescentar que alguns amigos de longa data, ao se engajarem numa tarefa altruísta, para o bem da alma, conseguiram dar a volta por cima, esmagar a depressão e voltar a viver, deixando de serem zumbis de seus próprios destinos.

O que é preciso?  Ânimo, boa vontade e ajustar a própria agenda da vida, para encaixar tarefas no bem, ter coragem de sair da “casinha”, e ver o sol nascer todos os dias, em sorrisos de crianças, em um olhar de um idoso, que sem pronunciar palavras agradecem a visita, o toque, o passe, o diálogo, o carinho. Alguns são relegados a terceiros, sem familiares que cuidem deles, e poderemos ser a extensão de um carinho maternal, paternal, sem julgamentos.

Uma de minhas amigas do Reino Unido, ao sentir-se abandonada pelo namorado de longa data, entrou em depressão e estava ficando difícil tirá-la dessa situação. Ia arrastada ao trabalho, pois precisava sobreviver, pagar contas, mas o peso dessa responsabilidade era tal qual o peso do sofrimento, da monoideia do abandono.

Eu fiquei praticamente em cima dela, com ligações, mensagens de ânimo, chamando a atenção para a vida, levantar não só a cabeça aos céus da paz de alma, mas a própria alma caída em desespero. Quando se coloca muita expectativa numa relação, faz do outro um ídolo num pedestal, criado por nós mesmos. Se a relação é destruída, nosso mundo também parece ruir.  Não há culpados, há os fragilizados, os que buscam se estabelecer na vida, usando o sapato do outro...

Essa situação com minha amiga me fez crescer tanto, entender a dor humana, como nos ensina Joanna de Ângelis em tantos livros sobre a psicologia vista numa perspectiva espiritual, dando-nos ferramentas de entendimento e não desistência.

Precisei de ajuda com meu cãozinho para que eu pudesse fazer algo em um local aonde não poderia levá-lo. Pedi à minha amiga que viesse fazer essa caridade ao pequenino Solomon. Que viesse atendê-lo, e lhe expliquei alguns procedimentos para essa tarefa. Com muito custo para convencê-la, ela veio e ficou dois dias com meu pequenino num final de semana.

Para atender o Solzinho, teve de ir ao parque aqui ao lado caminhar com ele, duas vezes ao dia, onde ficavam por uma hora ou mais, e onde, por conta da lindeza do cãozinho, eram parados a toda hora por pessoas, casais com crianças, e assim, respirando a vida como ela é, cheia de idas e vindas, pessoas, sol, árvores, canal, água, vento, folhas, mato, grama, correr, sentir o ar entrando pelas narinas, isso deu à minha amiga um ânimo, que eu fiquei surpresa de ver quando retornei a casa, encontrando-a diferente, com batom, denotando o cuidado que retornou à sua própria vida. Certamente já estava fixado em sua alma que a força de vontade e a caridade de cuidar de um cãozinho a desviaram dos seus próprios pensamentos de sofrimentos, criados por ela própria, pois tudo na vida está de acordo com nossas escolhas, nosso livre-arbítrio, como nos é ensinado pela Doutrina Espírita.

Assim, em nosso diálogo, falamos de uma ONG que, no Reino Unido, precisa de pessoas para visitar idosos, passar algumas horinhas com eles, fazer um mercadinho, e assim aprender com os sábios idosos, enquanto lhes oferecemos atenção e carinho. 

Não há depressão que resista à caridade, que é o amor em ação.

Assim, seja onde for, dignidade não tem idade, e podemos levar dignidade a todas as terras daqui e de além-mar.

 

Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da BUSS - British Union of Spiritist Societies.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita