Tempo, senhor do destino
Tempo, quando pensamos a seu respeito de forma
superficial, algumas vezes afirmamos que gostaríamos que
o dia tivesse 48 horas, assim conseguiríamos cumprir
todos os afazeres. Outras vezes, falamos com um certo ar
de sabedoria que se pudéssemos voltar no tempo faríamos
tudo diferente. Também de forma contraditória e com o
mesmo ar de sabedoria, algumas vezes afirmamos que se
pudéssemos voltar no tempo faríamos tudo igual, não
mudaríamos nada.
Quando os sumérios e, depois, os egípcios, há mais de
5.000 anos, organizaram o tempo em meses, dias, horas,
nos presentearam não somente com um calendário que nos
permite organizar, planejar, controlar nosso tempo, como
também agendar atividades como o melhor mês para plantar
determinado alimento, para pescar e caçar com
responsabilidade, para colher com mais sabor, esperar o
período certo de preparação de uma nova vida, para
iniciar um curso, para ver nosso time ser campeão.
Aprendemos a necessidade de equilibrar nosso tempo em
tempo para trabalhar, tempo para estudar, tempo para
passear, tempo para descansar, tempo para a família,
tempo para os amigos, tempo para Deus.
Com o passar do tempo, fomos retirando o tempo que
dedicávamos a algumas atividades que exigiam mais
dedicação, maior determinação, uma dose de paciência, um
agir mais caridoso, mais tolerante, e o distribuímos em
atividades que nos davam mais prazer, poder, riqueza;
começamos a nos achar injustiçados por termos que
dedicar tanto tempo à família, aos pais, aos filhos, ao
trabalho, ao estudo, a Deus. Passamos a procurar
atalhos, subterfúgios, a escolher ações que nos trariam
sucesso financeiro, prestígio social. Começamos a abusar
do sexo, da bebida, descobrimos drogas maravilhosas que
nos levavam ao paraíso, nos aperfeiçoamos na corrupção,
no desapego, no levar vantagens a qualquer preço, nas
mentiras sinceras e nos distanciamos de Deus.
Quando o homem pisou na lua em 20 de julho de 1969, por
misericórdia de Jesus e não por merecimento, ganhamos um
novo tempo: 50 anos para refletir, mudar nossas ações,
nossas atitudes, nossa maneira de conduzir o tempo,
aprender o bom convívio, a sermos mais caridosos e mais
fraternos, pois se continuássemos nesta toada seríamos
conduzidos a uma guerra mundial, a terceira guerra
mundial que, provavelmente, seria uma guerra atômica.
Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da
Saúde, alertou o mundo sobre vários casos de pneumonia
na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República
Popular da China. Era uma nova cepa de coronavírus, que
não havia sido identificada antes em seres humanos.
Era o início de uma pandemia mundial. Foram retirados do
nosso convívio pessoas que amávamos, pessoas que a nosso
ver tomaram todos os cuidados, seguiram as orientações
das autoridades da saúde e, mesmo assim, passaram a
fazer parte desta estatística cruel. Demoramos a
perceber que uma pessoa aparentemente saudável, que
entrou em contato com alguém portador do vírus, podia
transmiti-lo para aquele seu amado que estava seguindo
todos os cuidados. Desconfiamos das vacinas, da ciência,
culpamos outros povos, dividimos o mundo entre nossos
iguais, que fazem tudo certo e os outros, os radicais,
os trogloditas. Passamos a nos olhar com desconfiança,
com medo.
O tempo corre, seguindo seu propósito e nos presenteando
novamente com uma porção de isolamento social, nos dando
a oportunidade de repensar nossos valores, nossa
conduta. Porém, insistimos em não perceber que se não
mudarmos seremos relocados para outros mundos, a Terra
deixará de ser um lugar de expiação. Para merecermos
permanecer aqui, teremos que nos tornar melhores, não
podemos mais nos comportarmos como crianças mimadas que
ganham presentes, abrem, e deixam num canto qualquer
para, em seguida, chorar, pedindo um novo presente.
Nosso tempo é sagrado, precisamos usá-lo com equilíbrio,
reservar sua melhor porção para Deus, para a família,
para o trabalho, para o planeta que grita por socorro,
para nosso inimigo e aprender a tratá-lo com caridade,
pois ele poderá ser nosso companheiro em um exílio
compulsório.
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