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por Maria de la Concepcion Parada

 

Obreiros e instrumentos


“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, o nosso trabalho não é em vão.”     (I Coríntios, 15:58.) – 
Paulo


O bom serviço mediúnico é consequência da responsabilidade com a qual o médium realiza seu trabalho, colocando-se como intermediário entre as esferas física e espiritual, solucionando experiências, observando suas necessidades para não tatear na sombra, e seguir o caminho de quantos o dirigem, recolhendo as mensagens que enobrecem.

Ninguém se eleva sem atender às imposições de subida. À face disso, todo o esforço, por mínimo que seja, redundará, invariavelmente, a favor de quem o realiza, porque toda a ação pela felicidade geral é concurso na obra Divina. A obra é de todos, mas cada qual, entretanto, está situado em tarefas diferentes. É imprescindível estudar de modo a conhecer a nós e aos outros para o que nos for necessário. Ninguém dispõe de luz que não acender em si mesmo. No entanto, nenhum de nós está desprovido de recursos para evoluir. Sermos hoje melhores do que ontem, sem nos prendermos à possibilidade de oferecer sentimentos elevados de um instante para outro, é tarefa de redenção e de amor a que nos comprometemos no dia a dia, com a consciência do dever a realizar. O dever é a lei da vida e o encontramos nos mínimos detalhes, como nos atos mais elevados. O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo XVII, item 7, esclarece: “Aquele que cumpre seu dever, ama mais a Deus do que aos homens e aos homens mais que a si mesmo”.

Ser medianeiro do bem é ser verdadeiro nas comunicações que recebe e transmite, para não ser vulgar nem orgulhoso, mostrando-se aos outros, autovalorizando-se como médium. A vaidade é uma presa fácil para aqueles que têm tendências ao egoísmo. O médium não deve querer formar discípulos e nem seguidores, deixando claro para todos que o procuram que a resposta para tudo está em Jesus; que ele é apenas um medianeiro e discípulo do Mestre; instrumento ainda imperfeito utilizado pelos Espíritos Superiores. Para trabalhar a sua intimidade facilitando a comunicação, o médium deve estudar as obras da codificação de Allan Kardec, aprendendo a ter disciplina em tudo, vigiar e orar constantemente, trabalhar na caridade aos semelhantes, ser humilde e grato a Deus, amar fraternalmente e perdoar sempre. Essas virtudes são o trampolim que aguarda todos os médiuns sinceros. E aqueles que queiram fazer a transformação moral e se comprazem com a vaidade em busca do orgulho e poder, estes estão na retaguarda do que realmente deveriam ser. Mediunidade não é laboratório de serviço pessoal, mas não podemos esquecer de que médiuns corruptos sempre existiram em todas as épocas da humanidade atraindo público em busca de benefícios.

O Espiritismo renasceu do Cristianismo puro e o médium tem que estar de acordo com os ensinamentos de Jesus, buscando na transformação moral os recursos necessários sobre os obstáculos, tanto nas pequenas como nas grandes coisas da vida. O bom médium ainda não é homem perfeito, mas se encontra em luta constante pela sua renovação, realizada através de sua modificação íntima, como esclarece O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 4: “Reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações”.

O que constitui um médium propriamente dito não é a faculdade. A esse respeito ele pode ser mais ou menos formado, mais ou menos desenvolvido, mas o que constitui um médium seguro, pelo que se pode classificar verdadeiramente de bom, é a forma com que se aplica essa faculdade na disposição de servir aos bons Espíritos. Assim, o poder do médium para atrair os bons Espíritos e reprimir os maus está na razão de sua superioridade moral, exercendo a disciplina diante do seu dever, compenetrado no bom desempenho, no auxílio aos necessitados que sofrem esperando o lenitivo de uma mão amiga para que possa levantá-los e ampará-los na sua trajetória evolutiva. Somos livres na escolha das diretrizes que queremos seguir: poderemos trabalhar ou ficar não esperando que os Espíritos façam a tarefa que nos compete. Ora, nenhum médium pode ser tão passivo ao ponto de acreditar que os desencarnados façam tudo por ele.

A mediunidade depende do médium como o fruto depende da árvore que o produz. Se a qualidade do fruto está relacionada à natureza da árvore, a mediunidade em sua capacidade de produção se vincula ao empenho do medianeiro. Não é fácil superar a barreira das dimensões diferentes; se o médium não se predispuser a subir, os Espíritos não terão como descer. O ideal é que ambos, médium e Espíritos, se encontrem no meio do caminho; todavia, quanto mais se elevar em termos de sintonia, mais e mais o medianeiro se aproximará da fonte, em seu nascedouro, usufruindo da linfa cristalina antes que o percurso se efetue e ele se contamine.

Em Espiritismo, a questão de educação e adestramento dos médiuns é capital; os bons médiuns são raros. Quantas faculdades preciosas se perdem à míngua por falta de atenção e cultura. Quantas mediunidades desperdiçadas em frívolas experiências ou que, utilizadas ao sabor do capricho, não atraem mais que perigosas influências e só maus frutos produzem. Quantos médiuns inconscientes de seu ministério e do valor do dom que lhes é concedido, deixam inutilizadas forças capazes de contribuir para a obra de renovação. Léon Denis, no livro No Invisível, capítulo ‘O Médium’, observa que: “A mediunidade é uma delicada flor, que para desabrochar necessita de acuradas precauções e assíduos cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos nobres, e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes. Quase sempre, porém, querem fazê-la produzir frutos primitivos e, desde logo, se estiola ao contato com Espíritos atrasados”.

Não há mais nobre e elevado cargo que ser chamado a divulgar, sob a orientação dos Espíritos evoluídos, a verdade pelo mundo e fazer ouvir o eco dos divinos convites, incitando-nos à luz e à perfeição. Tal é o papel da mediunidade. Deus procede neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores fiéis, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que Ele confiará os postos mais difíceis na grande obra de regeneração pelo Espiritismo.

No livro Testemunhos de Chico Xavier, Suely Caldas Schubert escreve: “O tempo para o trabalhador dedicado ao Cristo é hoje, é agora. Não há tempo para acomodações. Nenhuma desculpa ou dúvida. Há uma ansiedade constante em se aproveitar de forma cada vez melhor o tempo disponível. O valor do minuto que passa é inestimável. A oportunidade perdida não retorna em idêntica condição. Urge contribuir para o bem, realizar alguma coisa antes que o relógio da vida assinale os últimos minutos das últimas horas.

“Entretanto, não há pressa, embora seja urgente o serviço no bem, Dr. Bezerra de Menezes lega-nos importante advertência: ‘é urgente, mas não apressado’.

“Por isso, o trabalhador fiel tem paciência ante as dificuldades. Prossegue na sua faina; não cruza os braços; não adota atitude passiva ou acomodada; continua, persevera... Ele sabe que com Jesus e o tempo não há problema insolúvel. Resguarda-se na fé e avança cônscio de que em breve, modificadas as circunstâncias, o problema será solucionado. Conclama-nos, Erasto: ‘Os verdadeiros adeptos do Espiritismo... sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra Divina. Convosco estão os Espíritos elevados’.

“Faz-se mister regueis com os nossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes de enxada e de charrua evangélicas. Marcha, pois, avante, falange imponente pede tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios de sol nascente. A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus. Aproxima-se a hora em que a luz Divina se espargirá entre os dois mundos. Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele nos conferiu; reparai, pois o nosso caminho e segue a verdade.

“Para esparzir as sementes de luz na terra sáfara dos corações, faz-se necessário que o trabalhador da Era Nova se assemelhe a um penedo, a fim de suportar o embate das marés furiosas dos adversários da luz, fortalecido, na fidelidade. Aquele que é o verdadeiro caminho, a verdade e a verdadeira e imperecível Vida”.

 

Bibliografia:

BACCELLI, Carlos – Conversando com os médiuns – ditado pelo Espírito Odilon Fernandes – 3ª edição – Editora Pedro e Paulo – 2002 – lição Mediunidade e Sintonia.

REZENDE, Isidoro – Estudando a Mediunidade Consciente – ditado pelo Espírito Jerônimo Mendonça – Editora Cristo Consolador – Santa Luzia – 2019.

XAVIER, Francisco Cândido – Palavras de Vida Eterna – ditado pelo Espírito Emmanuel – 35ª edição – Editora Comunhão Espírita Cristã – MG – 2010.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita