Obreiros e instrumentos
“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis
e sempre abundantes na obra do Senhor, o nosso trabalho
não é em vão.” (I Coríntios, 15:58.) – Paulo
O bom serviço mediúnico é consequência da
responsabilidade com a qual o médium realiza seu
trabalho, colocando-se como intermediário entre as
esferas física e espiritual, solucionando experiências,
observando suas necessidades para não tatear na sombra,
e seguir o caminho de quantos o dirigem, recolhendo as
mensagens que enobrecem.
Ninguém se eleva sem atender às imposições de subida. À
face disso, todo o esforço, por mínimo que seja,
redundará, invariavelmente, a favor de quem o realiza,
porque toda a ação pela felicidade geral é concurso na
obra Divina. A obra é de todos, mas cada qual,
entretanto, está situado em tarefas diferentes. É
imprescindível estudar de modo a conhecer a nós e aos
outros para o que nos for necessário. Ninguém dispõe de
luz que não acender em si mesmo. No entanto, nenhum de
nós está desprovido de recursos para evoluir. Sermos
hoje melhores do que ontem, sem nos prendermos à
possibilidade de oferecer sentimentos elevados de um
instante para outro, é tarefa de redenção e de amor a
que nos comprometemos no dia a dia, com a consciência do
dever a realizar. O dever é a lei da vida e o
encontramos nos mínimos detalhes, como nos atos mais
elevados. O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo
XVII, item 7, esclarece: “Aquele que cumpre seu
dever, ama mais a Deus do que aos homens e aos homens
mais que a si mesmo”.
Ser medianeiro do bem é ser verdadeiro nas comunicações
que recebe e transmite, para não ser vulgar nem
orgulhoso, mostrando-se aos outros, autovalorizando-se
como médium. A vaidade é uma presa fácil para aqueles
que têm tendências ao egoísmo. O médium não deve querer
formar discípulos e nem seguidores, deixando claro para
todos que o procuram que a resposta para tudo está em
Jesus; que ele é apenas um medianeiro e discípulo do
Mestre; instrumento ainda imperfeito utilizado pelos
Espíritos Superiores. Para trabalhar a sua intimidade
facilitando a comunicação, o médium deve estudar as
obras da codificação de Allan Kardec, aprendendo a ter
disciplina em tudo, vigiar e orar constantemente,
trabalhar na caridade aos semelhantes, ser humilde e
grato a Deus, amar fraternalmente e perdoar sempre.
Essas virtudes são o trampolim que aguarda todos os
médiuns sinceros. E aqueles que queiram fazer a
transformação moral e se comprazem com a vaidade em
busca do orgulho e poder, estes estão na retaguarda do
que realmente deveriam ser. Mediunidade não é
laboratório de serviço pessoal, mas não podemos esquecer
de que médiuns corruptos sempre existiram em todas as
épocas da humanidade atraindo público em busca de
benefícios.
O Espiritismo renasceu do Cristianismo puro e o médium
tem que estar de acordo com os ensinamentos de Jesus,
buscando na transformação moral os recursos necessários
sobre os obstáculos, tanto nas pequenas como nas grandes
coisas da vida. O bom médium ainda não é homem perfeito,
mas se encontra em luta constante pela sua renovação,
realizada através de sua modificação íntima, como
esclarece O Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo XVII, item 4: “Reconhece-se o verdadeiro
Espírita pela sua transformação e pelos esforços que faz
para dominar suas más inclinações”.
O que constitui um médium propriamente dito não é a
faculdade. A esse respeito ele pode ser mais ou menos
formado, mais ou menos desenvolvido, mas o que constitui
um médium seguro, pelo que se pode classificar
verdadeiramente de bom, é a forma com que se aplica essa
faculdade na disposição de servir aos bons Espíritos.
Assim, o poder do médium para atrair os bons Espíritos e
reprimir os maus está na razão de sua superioridade
moral, exercendo a disciplina diante do seu dever,
compenetrado no bom desempenho, no auxílio aos
necessitados que sofrem esperando o lenitivo de uma mão
amiga para que possa levantá-los e ampará-los na sua
trajetória evolutiva. Somos livres na escolha das
diretrizes que queremos seguir: poderemos trabalhar ou
ficar não esperando que os Espíritos façam a tarefa que
nos compete. Ora, nenhum médium pode ser tão passivo ao
ponto de acreditar que os desencarnados façam tudo por
ele.
A mediunidade depende do médium como o fruto depende da
árvore que o produz. Se a qualidade do fruto está
relacionada à natureza da árvore, a mediunidade em sua
capacidade de produção se vincula ao empenho do
medianeiro. Não é fácil superar a barreira das dimensões
diferentes; se o médium não se predispuser a subir, os
Espíritos não terão como descer. O ideal é que ambos,
médium e Espíritos, se encontrem no meio do caminho;
todavia, quanto mais se elevar em termos de sintonia,
mais e mais o medianeiro se aproximará da fonte, em seu
nascedouro, usufruindo da linfa cristalina antes que o
percurso se efetue e ele se contamine.
Em Espiritismo, a questão de educação e adestramento dos
médiuns é capital; os bons médiuns são raros. Quantas
faculdades preciosas se perdem à míngua por falta de
atenção e cultura. Quantas mediunidades desperdiçadas em
frívolas experiências ou que, utilizadas ao sabor do
capricho, não atraem mais que perigosas influências e só
maus frutos produzem. Quantos médiuns inconscientes de
seu ministério e do valor do dom que lhes é concedido,
deixam inutilizadas forças capazes de contribuir para a
obra de renovação. Léon Denis, no livro No
Invisível, capítulo ‘O Médium’, observa que: “A
mediunidade é uma delicada flor, que para desabrochar
necessita de acuradas precauções e assíduos cuidados.
Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os
sentimentos nobres, e, sobretudo, a terna solicitude do
bom Espírito que a envolve em seu amor, em seus fluidos
vivificantes. Quase sempre, porém, querem fazê-la
produzir frutos primitivos e, desde logo, se estiola ao
contato com Espíritos atrasados”.
Não há mais nobre e elevado cargo que ser chamado a
divulgar, sob a orientação dos Espíritos evoluídos, a
verdade pelo mundo e fazer ouvir o eco dos divinos
convites, incitando-nos à luz e à perfeição. Tal é o
papel da mediunidade. Deus procede neste momento, ao
censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo
aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que
não usurpem o salário dos servidores fiéis, pois aos que
não recuarem diante de suas tarefas é que Ele confiará
os postos mais difíceis na grande obra de regeneração
pelo Espiritismo.
No livro Testemunhos de Chico Xavier, Suely
Caldas Schubert escreve: “O tempo para o trabalhador
dedicado ao Cristo é hoje, é agora. Não há tempo para
acomodações. Nenhuma desculpa ou dúvida. Há uma
ansiedade constante em se aproveitar de forma cada vez
melhor o tempo disponível. O valor do minuto que passa é
inestimável. A oportunidade perdida não retorna em
idêntica condição. Urge contribuir para o bem, realizar
alguma coisa antes que o relógio da vida assinale os últimos
minutos das últimas horas.
“Entretanto, não há pressa, embora seja urgente o
serviço no bem, Dr. Bezerra de Menezes lega-nos
importante advertência: ‘é urgente, mas não apressado’.
“Por isso, o trabalhador fiel tem paciência ante as
dificuldades. Prossegue na sua faina; não cruza os
braços; não adota atitude passiva ou acomodada;
continua, persevera... Ele sabe que com Jesus e o tempo
não há problema insolúvel. Resguarda-se na fé e avança
cônscio de que em breve, modificadas as circunstâncias,
o problema será solucionado. Conclama-nos, Erasto: ‘Os
verdadeiros adeptos do Espiritismo... sois os escolhidos
de Deus! Ide e pregai a palavra Divina. Convosco estão
os Espíritos elevados’.
“Faz-se mister regueis com os nossos suores o terreno
onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e
não produzirá senão sob os reiterados golpes de enxada e
de charrua evangélicas. Marcha, pois, avante, falange
imponente pede tua fé! Diante de ti os grandes batalhões
dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos
primeiros raios de sol nascente. A fé é a virtude que
desloca montanhas, disse Jesus. Aproxima-se a hora em
que a luz Divina se espargirá entre os dois mundos. Ide
e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele nos
conferiu; reparai, pois o nosso caminho e segue a
verdade.
“Para esparzir as sementes de luz na terra sáfara dos
corações, faz-se necessário que o trabalhador da Era
Nova se assemelhe a um penedo, a fim de suportar o
embate das marés furiosas dos adversários da luz,
fortalecido, na fidelidade. Aquele que é o verdadeiro
caminho, a verdade e a verdadeira e imperecível Vida”.
Bibliografia:
BACCELLI, Carlos – Conversando com os
médiuns – ditado pelo Espírito Odilon Fernandes – 3ª
edição – Editora Pedro e Paulo – 2002 – lição
Mediunidade e Sintonia.
REZENDE, Isidoro – Estudando a
Mediunidade Consciente – ditado pelo Espírito
Jerônimo Mendonça – Editora Cristo Consolador – Santa
Luzia – 2019.
XAVIER, Francisco Cândido – Palavras
de Vida Eterna – ditado pelo Espírito Emmanuel – 35ª
edição – Editora Comunhão Espírita Cristã – MG – 2010.
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