Custo do
livro
espírita
A respeito desse tema – o custo do livro espírita –
parece-nos relevante o que pensava Chico Xavier.
Contou-nos o confrade mineiro, hoje desencarnado,
Ronaldo Tornel da Silveira, que, dialogando com Chico,
ouviu dele o seguinte comentário:
- O dinheiro do livro espírita deveria ser para o livro
espírita!
Chico se referia, obviamente, à prática, quase geral no
movimento espírita, de valer-se do dinheiro adquirido
com a venda de livros para custear outras atividades,
notadamente de apoio social.
É óbvio, que se não houvesse essa prática o livro
espírita poderia ter um custo menor.
Vivemos em um país onde grande parte da população ganha
apenas o suficiente para manutenção das necessidades
físicas, e qualquer outra despesa fica fora do orçamento
doméstico. Quando elevamos o preço do livro dificultamos
seu acesso a grande número de pessoas.
Curioso observarmos o cuidado que Kardec e Amélie tinham
com relação a isso. Da obra Muita luz, de Berthe
Fropo, amiga do casal, destacamos o seguinte trecho,
onde ela expressa o cuidado do casal no que tange ao
custo das obras e seu papel na difusão das obras de
Kardec:
Esta propagação não pode ser eficaz, a menos que os
livros do mestre sejam baratos, foi o desejo de sua
viúva. Ela se impôs, apesar de sua adiantada idade, às
mais difíceis privações, de modo a deixar uma fortuna
real para o Espiritismo, aceitando comprometer sua
saúde, já tão delicada, e ser tratada como uma avarenta
para alcançar o objetivo que ela propôs a si mesma: o de
divulgar a instrução moral e intelectual entre os
seguidores pobres do Espiritismo, para ver crescer a
obra de seu marido.[i]
Em outro trecho do livro, referindo-se a uma doação
aceita pela Sra. Amélie, Berthe reproduz o pensamento da
amiga:
- É
difícil, cara amiga, recusar cem mil francos, pois isso
pode tornar os livros do meu marido mais baratos.[ii]
Em obra mediúnica recente, recebida pelo médium Vinícius
Lara, radicado na cidade de Juiz de fora, MG, o autor
espiritual, de nome Ivon, comenta:
Quando pensamos na destinação de trabalhos colhidos
através da mediunidade, com frequência os livros
espíritas têm sido associados também à manutenção de
obras assistenciais, sob o argumento de que o contato
com o Invisível deveria simultaneamente multiplicar as
verdades imortais, enquanto sustenta as atividades
mundanas da instituição em funcionamento. Deparamo-nos
aqui com um enorme equívoco. A obra mediúnica, sobretudo
através da psicografia e da oratória, não possui a
função de manter serviços humanitários – ainda que
louváveis – e é sob este tópico que grandes problemas
vêm se processando no seio de grupos sérios e dedicados
honestamente ao Espiritismo.[iii]
Dentre os problemas aventados pelo autor espiritual,
destaca-se a produção de obras mediúnicas por atacado,
repetitivas e sem o devido aprofundamento dos temas,
porque necessárias à manutenção custosa das obras. Ainda
o autor:
O livro espírita é luz para a alma e deve ser destinado
a almas que buscam luz. Tendo a obrigação de vender
títulos para sustentar programas sociais, médiuns e
Movimento espírita se inserem em uma espiral perigosa,
em que o que se coloca em questão não é mais o aspecto
qualitativo e libertador do Espiritismo, mas a troca
pura e simples de alguns recortes espirituais da
verdade, sob a argumentação de que, por serem destinados
a uma obra de caridade, precisam ser vendidos e
comprados, mesmo prestando, em muitas ocasiões, um
desserviço à seriedade da ciência espírita.[iv]
Meditemos em torno do tema. A produção de obras de mais
baixo custo, ou livros disponíveis gratuitamente através
da internet, além de tornar os textos espíritas
acessíveis a um número maior de pessoas, colabora, ainda
que simbolicamente, na redução da dramática injustiça
social que predomina em nosso país.