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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Avançando pela porta estreita


Numa recente entrevista, um importante senador do meu Estado, São Paulo, fez um doloroso desabafo a respeito da instância de poder à qual está ora vinculado: “Aqui, você tem os lobbies, os grupos de pressão, as corporações, você tem de tudo no parlamento, só não tem o povo brasileiro”. Além do profundo desapontamento que as suas declarações me produziram, uma vez que tresandam a bodum, também me remeteram à passagem evangélica referente à “porta estreita”. Relembrando: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mateus, 7: 13-14). Posto isto, se há um lugar sujeito a todo o tipo de tentações é, sem dúvida, o parlamento (de qualquer país, convenhamos). Os indivíduos que ali militam supostamente “em nome do povo” têm um importante compromisso a desempenhar perante os seus eleitores e a sociedade, de maneira geral.

Todavia, na prática do dia a dia, o que se observa com mediana clareza é exatamente o contrário. Nós, brasileiros, não obstante as nossas mazelas pessoais e coletivas, que nos atingem no âmago do ser, igualmente temos outras tantas advindas da enviesada – reconheço que estou sendo complacente aqui – atividade parlamentar. Política continua sendo uma atividade de grande impacto na vida das pessoas. Administrar os interesses muitas vezes conflitantes de determinados grupos, e buscar um meio termo que traga certo equilíbrio às demandas não é algo fácil, reconheçamos. Por isso, talvez seja chamada de “a arte do possível”.

O raciocínio acima exarado é especialmente válido para países como o nosso, sempre envolto em escabrosos déficits sociais e humanitários. Seja como for, ser político é estar disposto a decidir sobre a vida das pessoas, assim como enfrentar enormes desafios éticos e morais, conforme se observa na declaração acima destacada. Afinal de contas, o cenário do mundo político atual e as acentuadas fraquezas humanas continuam favorecendo, de modo geral, aos seus protagonistas, facilidades potencialmente condutoras “à perdição”.

Infelizmente, o nosso país tem abrigado entidades altamente comprometidas nesse particular. Grande número delas são movidas por desejos mesquinhos e aviltantes. Não é por outra razão que o país não decola do seu - aparentemente inabalável - ostracismo econômico e social. As evidências sugerem que os nossos parlamentares ainda preferem “a porta larga” em suas deliberações. Por conseguinte, dificultam o quanto podem o aperfeiçoamento das instituições e a vida das almas em momentâneo trânsito pela matéria.

Conjecturo que há no plano espiritual uma área reservada exclusivamente àqueles que juraram defender o povo, a sociedade, a constituição, enfim, mas que se corromperam ao longo do caminho. Nada mais devastador ao Espírito delinquente do que ficar manietado mentalmente aos seus deslizes na esfera moral. Presumo que devem lhe ferir amargamente as imagens e lembranças das atitudes menos dignas a martelar à sua consciência conspurcada.

Os amorosos alertas de Jesus valem, evidentemente, para todos os que se encontram na experiência corporal. Como bem observa o escritor Rutger Bregman, autor do best-seller Humankind: A Hopeful History, todos nós temos um lado escuro. Sua opinião é similar ao diagnóstico do Espiritismo: a imperfeição moral é ainda muito forte na psiquê humana. Felizmente, o progresso avança, apesar dos percalços e dos vacilos. Nesse sentido, cumpre recordar que “Todas as atividades terrestres, enquadradas no bem, procedem da orientação divina que aproveita cada um de nós outros, segundo a posição em que nos colocamos na ascensão espiritual”, como pondera o Espírito Emmanuel, na obra Vinha de Luz (psicografia de Francisco Cândido Xavier). 

Os políticos, dado o poder que enfeixam e o pertinente alerta divino, deveriam ser muito mais cuidadosos no exercício do seu mister. Em função da atividade que exercem são assediados por forças malignas, que buscam lhes seduzir apenas para o desfrute do bem-estar passageiro. Todavia, a nação continua necessitando de políticos verdadeiramente fixados na promoção do progresso e do bem-estar geral. Ou seja, pessoas realmente devotadas às causas nobres e superiores, e que estejam dispostas a honrar o seu mandato. Quando nos chegam as notícias do gasto do Estado para bancar a estrutura de cada parlamentar, ficamos aturdidos diante da contrastante miséria onipresente. É igualmente óbvio que a grande maioria dos parlamentares, diferentemente dos postulados de Jesus, ainda prefere “ser servida” do que “servir” aos seus semelhantes. Mais ainda, persistem em se afastar do caminho que leva à verdadeira vida.

Enfim, grandes desafios nos esperam para que o futuro melhor, tão sonhado e desejado, se materialize de vez para o povo brasileiro. Desse modo, os candidatos à tarefa no campo político têm a oportunidade de trilhar a porta estreita da solidariedade, do respeito às leis constituídas, do exemplo edificante (lembrem-se da impoluta biografia do célebre Dr. Bezerra de Menezes) e da boa-fé, entre outras coisas. Em assim agindo, o reconhecimento da espiritualidade lhes será certamente considerável. Aliás, como corretamente observa o Espírito Joanna de Ângelis, no livro Vida Plena (psicografia de Divaldo Franco), e o seu raciocínio é igualmente válido para os políticos, “Para que sejas ditoso no porvir, vive hoje em harmonia com o Universo e triunfarás, experimentando a vida plena”.
 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita