Avançando
pela porta estreita
Numa recente entrevista,
um importante senador do
meu Estado, São Paulo,
fez um doloroso desabafo
a respeito da instância
de poder à qual está ora
vinculado: “Aqui,
você tem os lobbies, os
grupos de pressão, as
corporações, você tem de
tudo no parlamento, só
não tem o povo
brasileiro”. Além do
profundo desapontamento
que as suas declarações
me produziram, uma vez
que tresandam a bodum,
também me remeteram à
passagem evangélica
referente à “porta
estreita”. Relembrando:
“Entrai
pela porta estreita;
porque larga é a porta,
e espaçoso o caminho que
conduz à perdição, e
muitos são os que entram
por ela; E porque
estreita é a porta, e
apertado o caminho que
leva à vida, e poucos há
que a encontrem”
(Mateus, 7: 13-14).
Posto isto, se há um
lugar sujeito a todo o
tipo de tentações é, sem
dúvida, o parlamento (de
qualquer país,
convenhamos). Os
indivíduos que ali
militam supostamente “em
nome do povo” têm um
importante compromisso a
desempenhar perante os
seus eleitores e a
sociedade, de maneira
geral.
Todavia, na prática do
dia a dia, o que se
observa com mediana
clareza é exatamente o
contrário. Nós,
brasileiros, não
obstante as nossas
mazelas pessoais e
coletivas, que nos
atingem no âmago do ser,
igualmente temos outras
tantas advindas da
enviesada – reconheço
que estou sendo
complacente aqui –
atividade parlamentar.
Política continua sendo
uma atividade de grande
impacto na vida das
pessoas. Administrar os
interesses muitas vezes
conflitantes de
determinados grupos, e
buscar um meio termo que
traga certo equilíbrio
às demandas não é algo
fácil, reconheçamos. Por
isso, talvez seja
chamada de “a arte do
possível”.
O raciocínio acima
exarado é especialmente
válido para países como
o nosso, sempre envolto
em escabrosos déficits
sociais e humanitários.
Seja como for, ser
político é estar
disposto a decidir sobre
a vida das pessoas,
assim como enfrentar
enormes desafios éticos
e morais, conforme se
observa na declaração
acima destacada. Afinal
de contas, o cenário do
mundo político atual e
as acentuadas fraquezas
humanas continuam
favorecendo, de modo
geral, aos seus
protagonistas,
facilidades
potencialmente
condutoras “à perdição”.
Infelizmente, o nosso
país tem abrigado
entidades altamente
comprometidas nesse
particular. Grande
número delas são movidas
por desejos mesquinhos e
aviltantes. Não é por
outra razão que o país
não decola do seu -
aparentemente inabalável
- ostracismo econômico e
social. As evidências
sugerem que os nossos
parlamentares ainda
preferem “a porta larga”
em suas deliberações.
Por conseguinte,
dificultam o quanto
podem o aperfeiçoamento
das instituições e a
vida das almas em
momentâneo trânsito pela
matéria.
Conjecturo que há no
plano espiritual uma
área reservada
exclusivamente àqueles
que juraram defender o
povo, a sociedade, a
constituição, enfim, mas
que se corromperam ao
longo do caminho. Nada
mais devastador ao
Espírito delinquente do
que ficar manietado
mentalmente aos seus
deslizes na esfera
moral. Presumo que devem
lhe ferir amargamente as
imagens e lembranças das
atitudes menos dignas a
martelar à sua
consciência conspurcada.
Os amorosos alertas de
Jesus valem,
evidentemente, para
todos os que se
encontram na experiência
corporal. Como bem
observa o escritor
Rutger Bregman, autor do
best-seller Humankind:
A Hopeful History, todos
nós temos um lado
escuro. Sua opinião é
similar ao diagnóstico
do Espiritismo: a
imperfeição moral é
ainda muito forte na
psiquê humana.
Felizmente, o progresso
avança, apesar dos
percalços e dos vacilos.
Nesse sentido, cumpre
recordar que “Todas as
atividades terrestres,
enquadradas no bem,
procedem da orientação
divina que aproveita
cada um de nós outros,
segundo a posição em que
nos colocamos na
ascensão espiritual”,
como pondera o Espírito
Emmanuel, na obra Vinha
de Luz (psicografia
de Francisco Cândido
Xavier).
Os políticos, dado o
poder que enfeixam e o
pertinente alerta
divino, deveriam ser
muito mais cuidadosos no
exercício do seu mister.
Em função da atividade
que exercem são
assediados por forças
malignas, que buscam
lhes seduzir apenas para
o desfrute do bem-estar
passageiro. Todavia, a
nação continua
necessitando de
políticos
verdadeiramente fixados
na promoção do progresso
e do bem-estar geral. Ou
seja, pessoas realmente
devotadas às causas
nobres e superiores, e
que estejam dispostas a
honrar o seu mandato.
Quando nos chegam as
notícias do gasto do
Estado para bancar a
estrutura de cada
parlamentar, ficamos
aturdidos diante da
contrastante miséria
onipresente. É
igualmente óbvio que a
grande maioria dos
parlamentares,
diferentemente dos
postulados de Jesus,
ainda prefere “ser
servida” do que “servir”
aos seus semelhantes.
Mais ainda, persistem em
se afastar do caminho
que leva à verdadeira
vida.
Enfim, grandes desafios
nos esperam para que o
futuro melhor, tão
sonhado e desejado, se
materialize de vez para
o povo brasileiro. Desse
modo, os candidatos à
tarefa no campo político
têm a oportunidade de
trilhar a porta estreita
da solidariedade, do
respeito às leis
constituídas, do exemplo
edificante (lembrem-se
da impoluta biografia do
célebre Dr. Bezerra de
Menezes) e da boa-fé,
entre outras coisas. Em
assim agindo, o
reconhecimento da
espiritualidade lhes
será certamente
considerável. Aliás,
como corretamente
observa o Espírito
Joanna de Ângelis, no
livro Vida Plena (psicografia
de Divaldo Franco), e o
seu raciocínio é
igualmente válido para
os políticos, “Para
que sejas ditoso no
porvir, vive hoje em
harmonia com o Universo
e triunfarás,
experimentando a vida
plena”.
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