Por onde começamos?
Para os espíritas, a evolução humana e espiritual é um
assunto importante e muitas vezes nos perguntamos: por
onde começamos?
Essa resposta é simples, começamos pelo início e por
onde temos acesso, nós próprios.
Todos os conflitos que temos são internos. Mesmo aqueles
em que nos parece que estamos em confusão com os outros,
acontecem dentro de nós. Logicamente, para os
resolvermos, tem que ser em nós próprios, os outros não
têm grande importância.
Com isto, não quero dizer que com os outros se encontra
tudo bem, que devemos fazer olhos cegos àquilo que chega
através de outras pessoas. Ninguém quer estar em um
quintal com um cão que morde, a solução é nos
afastarmos, mas não temos que maltratar o cão. O
afastar-me é uma forma de defesa, que deve ocorrer
sempre que nos sentimos em perigo físico ou psíquico,
mas o maltratar é uma forma de carácter e desenvolver
uma forma de estar agressiva é um sofrimento atroz no
futuro.
O início é em nós próprios, se é importante estarmos bem
com os outros, mais importante ainda é estarmos bem
conosco próprios. Na verdade, é indispensável a uma vida
serena e sem conflitos.
O Mestre da Vida ensina-nos isto quando deixa os
mandamentos como regras essenciais à humanidade. Nos
seus mandamentos, Ele entrega-nos dois conselhos, “Ama a
Deus acima de tudo e ao próximo…“, mas entrega uma
diretriz para o segundo “… ao próximo como a ti
próprio”. Nós somos a diretriz.
Se não nos amamos, como poderemos servir de diretriz
correta para a vida?
No amor, está a base de toda a melhoria humana. Com ele
podemos terminar com a fome planetária, as diferenças
sociais, as guerras e todas as epidemias mentais do
vírus do egoísmo e do orgulho, que têm comandado a
humanidade. É um fato que temos que aprender a amar, se
queremos um planeta melhor, uma vida mais serena e
feliz, por isso, o Mestre da Vida diz-nos que estes dois
mandamentos substituem todos os outros.
Não há dúvida que a humanidade tem tido muita
dificuldade em descobrir esta energia vibrante que
incluímos nos sentimentos. Chamo de energia porque faz
parte da natureza humana, embora só apareça quando
existem as condições necessárias à sua existência.
Estas condições são a simples abstinência ou desapego
dos conflitos terrenos e defeitos humanos.
Como exemplo: O erro não acontece quando eu tenho dez
carros, pois isso é uma consequência de um desejo
egoísta e de orgulho, o errado é desejar os dez carros,
por isso Jesus nos alerta que antes de fazermos já
pecamos dentro de nós. Não deveríamos ter que chegar ao
quinto carro para colocar em causa a forma acumulativa
exagerada que existe em ter vários carros, para uma
satisfação pessoal, mas perceber no desejo interno do
acumular, o distanciamento dos valores humanos. Tudo
acontece dentro de nós, muito antes de se tornar físico,
material ou em uma ação.
Para amarmos os outros, com a diretriz do amor que
sentimos por nós, temos que nos amar.
Confundimos o amor com o orgulho, com o merecimento do
egoísmo, com o desempenho da vaidade ou com a
agressividade da defesa da honra, mas não poderia estar
mais errado.
O que nos acontece quando amamos alguém?
Queremos, simplesmente, estar ao pé daquela pessoa.
Sentimo-nos bem ao pé dela, acarinhamos, amamos, rimos
até dos seus defeitos, não julgamos, tentamos ajudar no
que podemos, somos benevolentes, pacientes e estar
sentados ao lado dela torna-se tão importante. Nestas
fases, o mundo nos parece tão bonito e demora a
tirar-nos da paz, pois esta é alicerçada na felicidade.
Se colocarmos a nossa pessoa no lugar da outra, do
parágrafo anterior, isso é amarmo-nos, com a vantagem de
estarmos sempre conosco, independentemente de para onde
formos.
A nossa paz é a paz com que lidamos com o mundo, ninguém
pode usar ou dar o que não tem.
Aqui é o início de todo o crescimento humano ou
espiritual
Olharmos para dentro, ver o que acontece conosco,
tirarmos 10 minutos de vez em quando para estarmos com o
nosso próprio ser, como estaríamos com uma pessoa que
muito amamos, sem telemóveis ou televisão, rirmos com
nós próprios, aprendermos a estar em paz e sem conflitos
internos. Facilmente concordamos com o que falo, mas
dificilmente o fazemos, pois temos muitos medos que
despontam quando estamos em silêncio interior, ou seja,
conosco.
Ao início é necessário percebermos o que nos impede de
estar conosco, o que nos tira a paz quando sentamos, as
mazelas mentais que aparecem, os dogmas mentais de
ideias que nos parecem certas e que deixamos de
questionar. Muitas, nem temos consciência do porquê,
pois vêm de vidas esquecidas, mas podemos perceber que
são impedimentos de estarmos de forma agradável e em paz
com o nosso próprio ser. A honestidade com que olhamos
para a nossa mente, sem medo, sem fugas, sem
julgamentos, como se olhássemos para uma pessoa que
muito amamos, é de extrema importância para nos
percebermos e aprendermos a amar.
Conforme desenvolvemos o autoamor e vamos pacificando o
nosso coração, distribuímos esta energia maravilhosa por
todos os outros seres, pois, se já temos, podemos usar e
oferecer.
Este entendimento sobre nós próprios, chamado de
autoconhecimento, o caminho à paz e à serenidade
interior, é o crescimento humano e espiritual.
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