"Espíritas, amai-vos e instruí-vos”
“Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento.
Instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades são
encontradas no Cristianismo; os erros que nele criaram
raiz são de origem humana. E eis que, além do túmulo, em
que acreditáveis o nada, vozes vêm clamar-vos: Irmãos!
Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os
vencedores da impiedade!” – (Espírito de Verdade. Paris,
1860.)1
Quando o Espírito da Verdade orientou Allan
Kardec para desenvolver essas máximas, procurava sugerir
aos homens que a fraternidade poderia ser alcançada
através do exercício da prática do bem, ao mesmo tempo
com um movimento paralelo de autoesclarecimento.
Devido ao grande atraso moral da humanidade, que ainda
arrasta sentimentos de ressentimento pelo seu
semelhante, fica difícil esperar de todos a prática do
amor ao próximo sem aguardar nada em troca. Porém,
quando aprendemos que o ato de amor é uma doação de via
de mão dupla, e que o benefício
da prática do bem é reciproco, tanto para quem recebe o
bem, assim como para aquele que o oferece, modifica-se
totalmente a reação, principalmente quando passamos a
entender que é uma iniciativa que favorece a ambos, nos
dois planos da vida!
Essa mensagem contida em O Evangelho segundo o
Espiritismo, tem um alcance de ordem moral muito
maior do que somos momentaneamente capazes de perceber,
pois pode ser utilizada em vários setores da vida, em
trabalhos sociais e até mesmo em atividades
doutrinárias, como trabalho de desobsessão, quando
orientamos tanto ao encarnado, quanto ao desencarnado, o
estudo esclarecedor, de forma a flexibilizarmos os
pontos de vista, que são motivos das implicâncias e
contendas.
O processo de reforma íntima e transformação moral não
se dá de uma hora para outra, existe todo um trabalho de
construção de um conhecimento através de um Estudo
Sistematizado da Doutrina Espírita, conhecido
atualmente como ESDE e uma prática diária de ação
de exercício do bem, fora uma vivência com nossos
semelhantes, que nos permitirão um dia amadurecer
moralmente e perceber quanto tempo perdemos com
discussões desnecessárias e infrutíferas.
Ninguém se modifica da noite para o dia, o processo de
transformação proposto pelo Espírito da Verdade é lento,
pois paralelo a ele teremos de dar um testemunho de
conhecimento e aprendizagem do que estamos evoluindo,
isso sem falar em alguns casos, onde, tanto encarnado
como desencarnado precisarão vivenciar uma prova moral
para aprender a estabelecer limites de respeito aos
outros e principalmente a si próprio, nos lembrando a
passagem bíblica de Paulo de Tarso, quando
disse: "Tudo me é permitido", mas nem tudo convém.
"Tudo me é permitido", mas eu não deixarei que nada me
domine. Paulo (1 Coríntios 6:12).
O Estudo da Doutrina Espírita é bastante transversal,
quando estamos estudando um determinador assunto,
automaticamente cruzamos com outras questões que nos
levam a refletir. Numa sociedade extremamente
heterogênea culturalmente, é um grande desafio o
exercício da prática do amor ao próximo, sem grandes
sacrifícios por parte dos seus integrantes, como alguns
países do Oriente Médio que ainda mantêm uma
religiosidade tão acirrada, como forma de controle do
poder político e econômico. Esse fato nos reporta à
história da Cristandade Ocidental, onde a Igreja
controlando a interpretação da Bíblia, desde a Idade
Média até início da Idade Contemporânea,
estabelecia a noção de certo e errado. Graças aos
iluministas, uma grande mudança pôde ocorrer, até mesmo
com o advento da Terceira Revelação, o Espiritismo.
Os dois mandamentos contidos nessa máxima, amai-vos e
instruí-vos reflete a necessidade de romper com a
ignorância existente entre os homens, promovendo um
movimento de reflexão, como forma de as pessoas pensarem
nas coisas, questionarem a realidade que as cerca. Não
basta ter o conhecimento, se faz necessário saber
interagir com esse conhecimento, por isso Paulo de Tarso
nos deixa outro pensamento, procurando mostrar a relação
entre o conhecimento das coisas e o sentimento de
sutileza na relação com as pessoas, quando disse:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos,
e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o
sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda
que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse
os montes, e não tivesse amor, nada seria...” Paulo (1
Coríntios 13:1,2.)
Em termos práticos, não saber usar o conhecimento que
possuímos para ajudar ou auxiliar o semelhante é viver
sem sentido algum, por isso a importância do
autoconhecimento, para não desperdiçarmos o nosso tempo
na condição de encarnados. Promovendo o autoconhecimento
de nós mesmos e ao mesmo tempo exercitando a prática de
amor.
O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto
que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos
são os instintos elevados à altura do progresso feito.
Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais
avançado e corrompido, só tem sensações; quando
instruído e depurado, tem sentimentos.2
O movimento de mudança que buscamos com a Doutrina
Espirita corresponde a um conjunto de reeducação de
atitudes, as quais deveríamos dar mais atenção:
1) Ressignificar
os acontecimentos em nossa vida, procurando perceber
qual lição podemos tirar dos equívocos, aos quais
recaímos;
2) Reeducar
nossas emoções, de forma a percebermos os acontecimentos
por um outro prisma, deixando de ser reféns das nossas
paixões;
3) Estudar,
promover um autoconhecimento e colocar em prática o que
se aprende na relação com os outros, principalmente
sendo resiliente diante dos desafios da vida.
4) Usar
o exemplo deixado por Santo Agostinho:
“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim
do dia interrogava a minha consciência, passava revista
ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara
algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se
queixar”. (Questão 919; L.E.)2
Fazendo uma reflexão descontraída como espírita ao longo
de tantos anos, sou obrigado a admitir que a grande
maioria de companheiros do movimento espírita tem o
conhecimento da verdade, porém ainda não tem a
consciência dela, ou seja, não colocam em prática. Mesmo
sabendo que somos Espíritos imortais, de posse de um
corpo de carne perecível, que nos foi oferecido pelo Mundo
Maior para evoluir, não vivemos de acordo com as
informações que já somos possuidores, dessa forma
podemos deduzir que há muito tempo estamos convencidos da
verdade, porém, muito poucos estão convertidos, a
ponto de dar um testemunho dos nossos atos à nuvem de
Espíritos que nos acompanha.
“E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará". João
(8:32).
Referências:
1) Allan
Kardec; O Evangelho segundo o Espiritismo; FEB; Cap.
VI, it. 5.
2) ___________; O
Livro dos Espíritos; FEB; Cap. XI, it. 8.
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