Suicídio? Não,
obrigado! (I)
O dia corria
normalmente, e, à noite,
esperava-nos mais uma
atividade espírita na
associação onde
colaborávamos. Seria
mais uma conferência
espírita, precedida de
atendimento ao público,
uma conversa em privado
onde as pessoas podem
falar com privacidade
sobre os seus assuntos,
e onde ouvem a opinião
da Doutrina Espírita,
bem como recebem
orientação acerca do
assunto em pauta. Nada
que se compare a uma
consulta, apenas uma
conversa de amigos.
Um homem, na casa dos 45
anos, estava ali pela
primeira vez,
demonstrando alguma
inquietação. Notamos o
seu ar nervoso e
procuramos acalmá-lo,
conversando
afetuosamente. Mal se
sentou, no atendimento
em privado, disparou:
“Sabe? Hoje vou
suicidar-me. Só vim cá
porque um amigo meu
fez-me prometer que
seria a última coisa que
faria, vir ao centro
espírita. Olhe que não
acredito em nada disto”.
Tamanha espontaneidade
fez-nos sentir imensa
ternura por aquele ser
humano, ali desnudado
perante desconhecidos,
abrindo a sua alma
dorida pelas lutas da
vida. Tinha 3 filhos, já
se tinha encarregado de
os deixar com familiares
abastados, estava tudo
escrito e previsto,
conforme nos
confidenciara.
Questionado acerca da
causa de tamanha
decisão, a resposta foi
peremptória: “a vida
para mim não faz mais
sentido, a minha esposa
trocou-me por outro, e
fugiu para o
estrangeiro. Moro num
meio pequeno, já viu a
minha vergonha? Não
aguento isto…”
Pegando neste caso,
semelhante a tantos
outros pelo mundo afora,
questionamo-nos: por que
é que as pessoas se
suicidam?
A resposta parece ser
redundante: porque têm
problemas na vida, e
querem terminar com tudo
de uma vez só.
Outra questão se coloca
no horizonte: por que é
que as pessoas pensam
assim? Obviamente,
porque pensam que após a
morte do corpo de carne
tudo termina, dando
assim crédito à doutrina
materialista, que faz de
nós meros seres
celulares, em que a
consciência é uma mera
secreção do cérebro.
E se afinal, a vida
continuar além da morte
do corpo físico?
Podemos concluir que as
pessoas se suicidam
porque têm problemas que
julgam irresolúveis, mas
também porque julgam que
são meros seres
celulares.
Outra questão se coloca:
e se afinal a vida
continuar além da morte
do corpo físico?
Com as pesquisas
espíritas, desde meados
do século XIX, ficou
demonstrado que a vida
continua após a morte do
corpo de carne, que o
nosso corpo de carne é
mera roupagem que o
Espírito possui
temporariamente,
adentrando a
espiritualidade após
largá-lo pelo fenômeno
natural da morte.
Fomos conversando com o
nosso interlocutor,
explicando-lhe o ponto
de vista da Doutrina
Espírita (ou
Espiritismo) acerca da
sua decisão de se
suicidar, e das
consequências que
colheriam após a morte
do corpo de carne.
Pedimos-lhe que
protelasse a decisão de
se suicidar por mais uma
semana, tempo esse para
ler «O Livro dos
Espíritos», bem como “O
Evangelho segundo o
Espiritismo”, ambos de
Allan Kardec.
Ele anuiu, referindo,
porém, que leria os
livros, mas que não
mudaria de ideias.
Voltaria na 6ª feira
seguinte para nos
confirmar que se mataria
no dia seguinte.
Na 6ª feira seguinte,
ele voltou, conversou
conosco, assistiu à
conferência espírita e…
voltou na 6ª seguinte, e
muitas mais vezes,
entendendo por outro
prisma, o objetivo real
da vida, vendo os
problemas da vida como
oportunidades de
crescimento e não como
derrotas pessoais.
Sinceramente, não
sabemos qual a sua
opinião acerca do
Espiritismo, se se
tornou espírita ou não.
Basta-nos a grata
satisfação de, vez por
outra, vê-lo, com aquele
sorriso tímido, entrar
no centro espírita,
sentar-se, participar na
palestra pública
semanal, e ir-se embora…
Bibliografia:
Kardec,
Allan – O Livro dos
Espíritos; O Evangelho
segundo o Espiritismo
ADEP – www.adep.pt (Curso
Básico de Espiritismo). |