Espíritas que ainda não entenderam Allan
Kardec
“As ideias do homem estão na razão do que ele sabe.”
(ALLAN KARDEC)
É bem oportuno relembrar o que, em Lampejos
Evangélicos, o filósofo e teólogo Huberto Rohden
(1893-1981) disse quanto à suposição dos teólogos
de que toda a revelação de Deus à humanidade está
somente na Bíblia:
Ora, poderíamos admitir que, no longuíssimo período
anterior ao tempo de Abraão, Isaac e Jacó, Deus nada
tenha tido a dizer à humanidade? E, que pelo ano 110
da era cristã, tenha “fechado o expediente”, à guisa
de um funcionário público ou burocrata do século XX?…
(1)
Mutatis mutandis, esse
“fechado o experiente” é exatamente o que grande parte
dos Espíritas estão fazendo em relação à revelação dos
Espíritos superiores contida na Doutrina Espírita. Para
esses, somente no que está contido nas obras codificadas
por Allan Kardec (1804-1869) é que, verdadeiramente, se
tem os princípios do Espiritismo.
Que nos desculpem, mas vemos nisso um grande equívoco,
que, incontestavelmente, prova que ainda não entenderam
o Codificador, por absoluta falta de um aprofundamento
na leitura das obras publicadas por ele. Vejamos, por
exemplo, da Revista
Espírita 1868, mês de dezembro, estes dois
importantes trechos da “Constituição Transitória do
Espiritismo”:
O programa da Doutrina não será, pois, invariável senão
sobre os princípios passados ao estado de verdades
constatadas;
para os outros, ela não os admitirá, como sempre o fez, senão
a título de hipóteses até a confirmação. Se lhe for
demonstrado que ela está no erro sobre um ponto, ela se
modificará sobre esse ponto. (2) (grifo nosso)
Para nós, Allan Kardec foi bem claro, dizendo, embora
tenha em seus princípios verdades já definidas, ele
ainda não está completo e acabado. No artigo “O
Espiritismo ainda não tem ponto final” (3),
desenvolvemos vários argumentos a respeito dessa
questão.
Se bem que o Espiritismo não haja dito ainda a sua
última palavra sobre todos os pontos, ele se
aproxima de seu complemento, e o momento não está longe
em que lhe será necessário dar uma base forte e
durável, suscetível, no entanto, de receber todos os
desenvolvimentos que as circunstâncias ulteriores
comportarem, e dando toda segurança àqueles que se
perguntam quem lhe tomará as rédeas depois de nós. (4)
(grifo nosso)
Se o Codificador não deixasse porta aberta a novos
desenvolvimentos, seria incoerente, pois dissera que o
caráter do Espiritismo é progressivo. Da Revista
Espírita 1867,
mês de setembro, artigo “Caracteres da Revelação
Espírita”, destacamos:
[…] O Espiritismo,
caminhando com o progresso, não será jamais
transbordado, porque, se novas descobertas lhe
demonstrarem que está no erro sobre um ponto, ele se
modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade se
revela, ele a aceita.
(5) (itálico do original, negrito nosso.)
Allan Kardec sempre se apoiou nos fatos, esses, sim, é
que promoverão mudanças ou trazer novos informes. Na Revista
Espírita 1865, mês de setembro, expõe esse
seu pensamento:
[…] não é evidentemente senão sobre os fatos é que se
pode assentar uma teoria sólida, fora disso não há
senão opiniões e sistemas. Os fatos são argumentos
sem réplicas, dos quais é preciso cedo ou tarde
aceitar as consequências quando constatados. Foi esse
princípio que serviu de base à Doutrina Espírita, e
é o que nos leva a dizer que é uma ciência de
observação. (6) (grifo nosso)
Portanto, quando novos fatos forem constatados,
deveremos aceitá-los, como parte integrante dos
princípios doutrinários do Espiritismo. E em relação às
novas revelações, essas obrigatoriamente deverão passar
pelo Controle Universal do Ensino dos Espíritos.
Entendemos que, pelo fato de não ter algo específico na
codificação espírita, não quer dizer que não existe ou
que não possa acontecer, porquanto, a revelação dos
Espíritos é progressiva. Depois da assimilação de uma
certa informação é que coisas novas nos são passadas,
tudo muito bem dosado para que frutifique no tempo
certo.
Ademais, para um maior aprofundamento no conhecimento
espírita é necessário ampliar o estudo do Espiritismo,
lendo também as obras de outros autores consagrados,
incluindo os designados de “autores espíritas
clássicos”: Léon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano
etc.
Para finalizar, propomos a você, caro leitor, uma
reflexão: será que estou agindo assim e não me dei
conta? Sempre é hora de mudar para melhor.
Referências:
(1) ROHDEN, Lampejos Evangélicos,
p. 189.
(2) KARDEC, Revista Espírita 1868,
p. 377.
(3) SILVA NETO SOBRINHO, O Espiritismo
ainda não tem ponto final: para acessar, clique neste link
(4) KARDEC, Revista Espírita 1868,
p. 370.
(5) KARDEC, Revista Espírita 1867,
p. 279, ver também em A Gênese, cap. I, item 55,
40.
(6) KARDEC, Revista Espírita 1865,
p. 276.
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