Brasil
por Ana Moraes

Ano 15 - N° 756 - 23 de Janeiro de 2022

 

Se estivesse fisicamente entre nós, Deolindo Amorim festejaria hoje mais um aniversário

 

Num dia como hoje, 23 de janeiro, nasceu no ano de 1906 em Baixa Grande (BA) Deolindo Amorim, que desencarnou aos 78 anos de idade na cidade do Rio de Janeiro.

Deolindo Amorim (foto) nasceu no seio de uma família pobre e católica, tornando-se 
depois presbiteriano fervoroso.

Ao romper, tempos depois, com sua igreja, permaneceu muitos anos sem definição filosófica ou religiosa.

Mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital do país. Graduou-se em Sociologia, pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, tendo feito, ainda, outros cursos de nível superior. Tornou-se jornalista e, posteriormente, funcionário público, tendo galgado elevada posição funcional no Ministério da Fazenda.

Por volta de 1935, já no Rio de Janeiro, passou a frequentar o Centro Espírita Jorge Niemeyer, onde entrou em contato com a literatura espírita, mostrando-se profundo admirador das obras de Léon Denis.


Ativismo espírita

Em novembro de 1939 idealizou e promoveu o I Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas, realizado no auditório da sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro. A importância da iniciativa pode ser avaliada considerando-se que, no plano externo, iniciava-se a Segunda Guerra Mundial e, no plano interno, o Espiritismo era perseguido por setores da Igreja Católica e pela polícia do Estado Novo.

Na década seguinte esteve ao lado de Leopoldo Machado na promoção do I Congresso de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil, realizado em julho de 1948, no Rio de Janeiro, bem como na criação do Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas.

Um dos problemas mais emergentes relativos ao bom entendimento da Doutrina Espírita, em meados do século XX, foi a constante tentativa de confundi-lo quer seja com o Candomblé, quer com a Umbanda, quer com as diversas doutrinas espiritualistas. As confusões eram muito grandes, principalmente com os cultos afro-brasileiros. A própria Federação Espírita Brasileira pretendeu chamar de "Espiritismo" todas as práticas mediúnicas ou assemelhadas, reservando o nome de "Doutrina Espírita" para os conceitos decorrentes da obra codificada por Allan Kardec.
 

Africanismo e Espiritismo

Para dirimir dúvidas e lançar luz sobre o assunto, em 1947 Deolindo Amorim publicou "Africanismo e

Espiritismo", obra em que deixa clara a inexistência de ligações filosóficas, práticas ou doutrinárias entre o Espiritismo e as correntes espiritualistas apoiadas na cultura africana trazida pelos escravos e que no Brasil se converteram em vários cultos de gosto popular.

Posteriormente, determinado a explanar didaticamente as bases da doutrina de Allan Kardec, escreveu "O Espiritismo e os Problemas Humanos" e o "O Espiritismo à Luz da Crítica", este último em resposta a um padre que escrevera uma obra criticando a Doutrina. Seguiu-se a essas obras o livro "Espiritismo e Criminologia", oriundo de uma conferência no Instituto de Criminologia da Universidade do Rio de Janeiro. Por fim, em 1958 lançou a obra "O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas", na qual, sem combater nenhuma corrente ou filosofia espiritualista, como a Teosofia, a Rosacruz e as diversas seitas de origem asiática e africana, embora ressaltasse eventuais coincidências de pontos filosóficos, simplesmente definiu o que é o Espiritismo, mostrando sua independência.


A fundação do ICEB

Assim que a Faculdade Brasileira de Estudos Psíquicos, a que pertenceu e da qual foi o último presidente, se tornou sem condições de prosseguir, Deolindo Amorim criou em 7 de dezembro de 1957 o Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB), que dirigiu enquanto aqui viveu.

Jornalista, escritor, erudito conferencista, sócio remido da ABI, presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil e presidente de honra da Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas (ABRAJEE), Deolindo colaborou no "Jornal do Comércio" e praticamente em toda a imprensa espírita do país, com o que pôde privar da amizade de grandes vultos do Espiritismo no Brasil e no exterior, como, por exemplo, Carlos Imbassahy, Leopoldo Machado, Herculano Pires, Leôncio Correia e Humberto Mariotti, entre muitos outros.

Sempre ponderado, agia invariavelmente de forma conciliadora, não atacando ninguém e expondo o Espiritismo sem deformações, com o que extasiava a todos com sua didática exemplar.


A desencarnação

Quando enfermo e já bastante debilitado ante a enfermidade que o acometeu, não interrompeu totalmente, nos últimos meses, suas atividades de jornalista e conferencista, até que lhe soou a hora da partida, fato que ocorreu no dia 24 de abril de 1984. Ele contava então 78 anos de idade.

Seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Cerca de 750 pessoas compareceram aos funerais. O Dr. Américo de Oliveira Borges, presidente da ABRAJEE, falando naquela oportunidade, exaltou e ressaltou a figura ímpar do homem, do espírita e do amigo que regressava então à espiritualidade, deixando viúva sua dedicada companheira Delta dos Santos Amorim e três filhos.


Obras publicadas

Foram muitas as obras que nos foram legadas por Deolindo Amorim, as quais merecem ser lidas e meditadas.

Eis as principais:

  1. Africanismo e Espiritismo

  2. O Espiritismo e os problemas humanos

  3. Análises Espíritas

  4. Doutrina Espírita

  5. O Espiritismo à Luz da Crítica

  6. O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas

  7. Espiritismo e Criminologia

  8. Ideias e Reminiscências Espíritas

  9. Ponderações Doutrinárias. 


  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita