Desenvolvendo a consciência
Uma das características mais admiráveis dos tempos
atuais é a espantosa velocidade com que as notícias e
imagens nos chegam. De um segundo para o outro ficamos
devidamente cientes dos acontecimentos que moldam a
nossa vida em sociedade. Mas nesse autêntico aluvião de
fatos há, infelizmente, os de natureza primitiva e
selvagem a dominar o “eu” de considerável contingente de
pessoas. Além da chocante violência que externam, há,
sem dúvida, algo mais a considerar, ou seja: a falta
de consciência dos indivíduos. No geral, o assunto
abrange nuances acentuadas, que merecem exame
apropriado. Afinal de contas, identificar a falta de
consciência no bandido perverso não requer nenhum
esforço de análise. No entanto, quando elevamos a barra
também a observamos em outros grupos humanos mais
solidamente constituídos.
Mas, afinal, o que é consciência? Na sua acepção mais
comum, consciência denota pleno conhecimento do que se
faz. Assim sendo, consciência e pensamentos (bons) andam
sempre lado a lado. Explicando melhor, cumpre lembrar
que a nossa mente produz milhares de pensamentos ao
longo do dia – sinalizando a vida presente em nós. Neles
constam as lembranças de coisas que fizemos ou deixamos
de fazer, dos acertos e desacertos, dos fatos agradáveis
e desagradáveis e assim por diante. Portanto, podemos
até mesmo sepultar em algum cantinho da mente, se assim
o desejarmos, as lembranças mais infelizes por nós
protagonizadas, mas nunca por tempo indefinido.
Cedo ou tarde elas ressurgem em nossa tela mental,
evocadas por outros eventos ou não e, dependendo da sua
natureza e impacto, podem nos atormentar profundamente.
Dentro dessa premissa, a consciência funciona como um
instrumento avaliativo. Portanto, quanto mais maduro
psicologicamente o indivíduo, mais atilado esse
mecanismo é. Em outras palavras, pode-se afirmar que a
expressão da consciência indica progresso espiritual,
pois o cidadão consciente age mediante um conjunto de
valores éticos e morais. Movido por ideais superiores,
sabe ou pelo menos intui que a noção do bem deve lhe
guiar permanentemente como uma bússola. Desse modo, o
indivíduo consciente tende a cobrar muito de si mesmo,
vigia atentamente a sua conduta, pondera sobre tudo o
que faz, bem como não se escusa de eventuais erros.
Embora não seja perfeito moralmente, busca com a
sinceridade do coração atingir tal condição.
Em contraste, geralmente nos referimos aos autores de
atos ou atitudes menos dignificantes como elementos “sem
consciência” ou de “consciência embotada”. Portanto,
neles não há uma atividade mental de autojulgamento
suficientemente capaz de lhes refrear os impulsos
negativos e/ou animalescos. Há neles, quando muito,
rudimentos conscienciais.
Entre os dois extremos acima aludidos há, evidentemente,
milhões de criaturas que já apresentam certo grau de
entendimento a respeito e trabalham – mais ou menos
intensamente – para desenvolver a sua consciência sobre
o significado da vida e as suas implicações
transcendentais. Diria que nestas pessoas já há alguma
preocupação e interesse com as questões de natureza
metafísica. Aparentemente nelas já ocorreu, por assim
dizer, o despertamento espiritual. Seja como for, a
recomendação do Espírito Joanna de Ângelis, como consta
no livro Vida Plena (psicografia de Divaldo
Franco), lhes é altamente providencial: “Faze uma
análise de tuas horas e pergunta-te se estás fazendo o
que deves”. Para avançar além do campo teórico, vale
recordar um ilustrativo diálogo apresentado na obra Ação
e Reação de autoria do Espírito André Luiz
(psicografia de Francisco Cândico Xavier). Nela vemos a
referida entidade sendo devidamente esclarecida a
respeito dessa questão pelo Espírito Druso:
- “[...] nossa consciência reflete a treva ou a luz de
nossas criações individuais. A luz, aclarando-nos a
visão, descortina-nos a estrada. A treva,
enceguecendo-nos, agrilhoa-nos ao cárcere de nossos
erros. O Espírito em harmonia com os Desígnios
Superiores descortina o horizonte próximo e caminha,
corajoso e sereno, para diante, a fim de superá-lo; no
entanto, aquele que abusa da vontade e da razão,
quebrando a corrente das bênçãos divinas, modela a
sombra em torno de si mesmo, insulando-se em pesadelos
aflitivos, incapaz de seguir à frente. [...].”
Com base nos ensinamentos dos Espíritos, devemos, então,
nos preocupar com o acerto das nossas decisões e passos
para que reflitam uma consciência impoluta. Do
contrário, como elucidou o Espírito Silas a André Luiz,
na referida obra:
- “[...] Qualquer sombra de nossa consciência jaz
impressa em nossa vida até que a mácula seja lavada por
nós mesmos, com o suor do trabalho ou com o pranto da
expiação...”
E o Espírito Druso arremata o ensinamento ao concluir
peremptoriamente:
- “...é indispensável atender à justiça, e a Justiça
Divina está inelutavelmente ligada a nós, de vez que
nenhuma felicidade ambiente será verdadeira felicidade
em nós, sem a implícita aprovação de nossa consciência”.
Nesse amplo processo, o autoconhecimento é um mecanismo
vital para o despertamento consciencial do indivíduo. Se
a pessoa não conhece o que lhe inunda o íntimo,
falta-lhe, então, a autocrítica, o autoexame, que
possibilitam a aferição de valores e desenvolvimento da
própria consciência, enfim. O Espírito Joanna de Ângelis
fornece valiosos apontamentos a respeito na obra Autodescobrimento:
Uma Busca Interior (psicografia de Divaldo P.
Franco) que valem ser resgatados. Por exemplo, a
benfeitora argumenta que “...adquirir consciência, no
seu sentido profundo, é despertar para o equacionamento
das próprias incógnitas, como consequente compreender
das responsabilidades que a si mesmo dizem respeito”.
Mais ainda, para ela:
“É imprescindível um constante renascer do indivíduo,
pelo renovar da sua consciência, aprofundando-se no
autodescobrimento, a fim de mais seguramente
identificar-se com a realidade e absorvê-la. Esse
autodescobrimento faculta uma tranquila avaliação do que
ele é, e de como está, oferecendo os meios para torná-lo
melhor, alcançando assim o destino que o aguarda”.
Infere-se, assim, que a aquisição de consciência é um
processo contínuo. Avançando a individualidade pela
senda do progresso, vislumbra outros aspectos e
desdobramentos existenciais que lhe facultam a
capacidade de melhor compreender o Criador. Para a
benfeitora espiritual, “O ser consciente é um indivíduo
livre e realizador do bem operante, que tem por meta a
própria plenitude através da plenificação da
Humanidade”.
Vê-se, desse modo, que ter consciência pressupõe
engajamento efetivo na realização de ideais superiores
na dimensão corpórea. Há, infelizmente, muitos homens e
mulheres que se conduzem pela vida sem qualquer noção ou
laivo de consciência. Atiram-se sofregamente às atitudes
e comportamentos tresloucados sem qualquer preocupação
com as consequências decorrentes.
Posto isto, ativar a consciência, conforme explica
Joanna de Ângelis, envolve um processo interior no qual
a constante vigilância e despertamento das
potencialidades adormecidas são medidas essenciais. Ela
também enfatiza que “Adquirir a consciência plena da
finalidade da existência na Terra constitui a meta
máxima da luta inteligente do ser”. Nesse particular, a
educação espiritual é o meio mais apropriado para o
nosso desenvolvimento consciencial ajustando-o às
diretrizes divinas calcadas no amor e na construção da
sabedoria. Desenvolver a consciência, a propósito, é uma
tarefa para toda a vida. Ao empreender tão louvável
iniciativa, estamos, na verdade, inscrevendo em nosso
âmago a Lei de Deus, como elabora a referida mentora
espiritual.
Ademais, não devemos jamais esquecer que a nossa
consciência é o nosso legítimo juiz e dele não podemos
fugir. Talvez seja por essa razão que o apóstolo Paulo
declarou: “Porque a nossa glória é esta: o testemunho da
nossa consciência, de que com simplicidade e sinceridade
de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus,
temos vivido no mundo, e de modo particular convosco” (2
Coríntios, 1:12). O Espírito Emmanuel, por sua vez,
argumenta, no livro Fonte Viva (psicografia de
Francisco Cândido Xavier), que, num sentido mais básico,
a vida de um indivíduo consciente consiste no
atendimento aos deveres para consigo mesmo, para com a
família e para com toda a humanidade. Notem que o pleno
uso da consciência não pressupõe preferências ou
restrições de qualquer natureza. O referido mentor
recomenda igualmente em outra obra, ou seja, Caminho,
Verdade e Vida (também psicografada por Francisco
Cândido Xavier), que guardemos a retidão de consciência
atirando-nos ao trabalho edificante, pois, desse modo,
“toda situação representará oportunidade de atingir o
‘mais alto’ e o ‘mais além’”.
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