Livre-arbítrio e evolução
Dois assuntos recorrentes e correlatos nas palestras dos
Centros Espíritas são Reforma Íntima e Livre-arbítrio. A
Reforma íntima, porque tem a ver com transformação das
nossas predisposições íntimas, a fim de evoluirmos e nos
moralizarmos, tornando-nos pessoas mais conscientes das
razões pelas quais estamos neste planeta, descobrindo
que a prática do amor nos aproxima mais de Deus e de
Jesus. E o Livre-Arbítrio, porque é através de nosso
aperfeiçoamento espiritual que o poder de decisão sobre
as escolhas a serem feitas nos trarão a nossa evolução
moral.
No livro “As Leis Morais”, o autor Rodolfo Calligaris
faz algumas considerações interessantes sobre o
livre-arbítrio, no capítulo dedicado ao assunto, dizendo
que “o livre-arbítrio é a faculdade que tem o indivíduo
de determinar a sua própria conduta”, ou seja, escolher
entre as possibilidades que se apresentam durante sua
caminhada, para enfrentar seus desafios. Os outros
autores assinalam que o livre-arbítrio é absoluto, que
pensamentos, palavras e ações do ser humano são de sua
inteira responsabilidade. Mas como vivemos em sociedade,
relacionando-nos com muitas e diferentes pessoas,
recebemos influências e constrangimentos que podem, em
maior ou menor escala, cercear ou condicionar nossa
liberdade.
Existem três correntes filosóficas que negam o
livre-arbítrio: o fatalismo, o predestinacionismo e o
determinismo. Os fatalistas acreditam que uma causa
sobrenatural fixa todos os acontecimentos. Caso seja
favorecido pela boa sorte, o ser humano se regozija.
Atingido pela má sorte, resigna-se. Nada mais pode
fazer. Os predestinacionalistas acreditam na soberania
da graça divina que, desde a eternidade, favorece
algumas almas com uma vida de retidão, e estas serão
recompensadas pela bem-aventurança celestial. Os que
forem contemplados por uma vida reprovável serão
condenados às penas eternas. De acordo com estas duas
correntes, homens e mulheres são joguetes, que nada
podem fazer contra a má sorte que os atinge. E Deus, um
déspota injusto que, ao sabor de seus caprichos,
distribui boa sorte ou desgraça aos humanos.
Consciências esclarecidas não aceitam estas duas
correntes. Os deterministas, por sua vez, acreditam que
as ações e a conduta dos indivíduos não são livres,
porque dependem de uma série de contingências, às quais
eles não podem furtar-se como costumes, caráter, índole
da raça a que pertençam, o clima, o solo e o meio social
em que vivem também influem; a educação, os princípios
religiosos e filosóficos e os exemplos que recebem, além
da alimentação e as condições de saúde, tudo
influenciando nas atitudes dos indivíduos.
Esses fatores realmente são importantes e podem pesar na
maneira de pensar, sentir e agir de homens e mulheres.
Tanto que há diferenças entre as pessoas que vivem em
outros locais da Terra. Diferenças que se referem à
conduta e à compleição física. Mas não é por isso que
poderemos aceitar que somos governados completamente por
esses fatores, ou seja, células orgânicas, impressões,
condicionamentos e sanções do ambiente determinando
nossa caminhada. Somos Espíritos Imortais, que viverão
eternamente. Temos um corpo material para que possamos
nos expressar durante nossa caminhada na Terra e para
que possamos enfrentar todos os obstáculos que
aparecerem e que são necessários à nossa evolução. E o
Espírito é nossa força íntima e individual que nos
permite escolhas, que nos ajudam nessa evolução.
Existe uma frase atribuída a Léon Denis, que diz que: “A
alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no
animal e acorda no homem”. Em artigo publicado na
revista virtual “O Consolador” no dia 31/11/2011, Paulo
Neto escreveu que não encontrou essa frase na obra de
Léon Denis, mas sim aquela que por ele foi escrita: “Na
planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no
homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se
consciente: a partir daí o progresso, de alguma sorte
fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode
realizar pelo acordo da vontade humana com as Leis
Eternas”. ¹
Escolhemos citar essa frase para mostrar que na Natureza
nada surge pronto e acabado. Nada dá saltos. Tudo e
todos evoluem lentamente. E esse é o processo mais
condizente com o Deus que conhecemos e no Qual
acreditamos, soberanamente Justo, Bom e Misericordioso,
que não privilegia nenhum de seus filhos, mas dá a todos
a mesma oportunidade.
O Espírito começa sua caminhada como princípio
espiritual, estagiando nas formas de vida mais simples
da natureza. Nessa fase o progresso é quase compulsório.
O princípio espiritual vai adquirindo atributos que
serão necessários à sua evolução, até vir a tornar-se um
Espírito. Nesse momento, o princípio espiritual recebe
um corpo, passará a ser um Espírito e fazer parte do
reino humano.
Na questão 132 de “O Livro dos Espíritos”, Kardec recebe
como resposta que os Espíritos encarnam para evoluir,
até atingir a perfeição possível a eles destinada. Para
uns, isto é uma expiação, para outros uma missão. Mas,
para isso, os Espíritos têm que enfrentar os obstáculos
que vão surgindo durante sua caminhada. Quando são
criados, os Espíritos são simples e ignorantes: não
possuem ciência, nem conhecimento; não são bons, nem
maus. Mas recebem de Deus dois atributos que aprenderão
a usar, desenvolver e aperfeiçoar durante sua caminhada:
a inteligência e o livre-arbítrio. No princípio, o homem
era guiado por instintos, a fim de preservar-se dos
perigos que o cercavam e para sobreviver.
À medida que prosseguia sua caminhada, o homem começava
a descobrir sensações, inclusive percebendo o que era
bom para si, e aquilo que não era tão agradável. Com
essas percepções sendo sentidas, podemos dizer que o
homem começava a fazer suas escolhas com racionalidade,
ao invés de ater-se somente aos instintos. Através de
suas escolhas e agora de suas percepções, o homem
começava a desenvolver sua inteligência e sua
racionalidade; sua inteligência, permitindo perceber as
situações que serão enfrentadas e, seu livre-arbítrio,
determinando a ação a ser tomada. E esse processo vai
mostrando ao homem que suas escolhas geram consequências.
E isso o leva a manter o que deu certo e a corrigir o
que não deu. E caminhando, errando, corrigindo,
acertando, foi evoluindo.
O ser humano é o autor do seu destino, como já foi dito.
Sua evolução depende muito de si, mas temos um apoio
importantíssimo, que nos fortalece quando necessário,
consola quando precisamos e sempre nos dá forças para
continuar. É o Evangelho de Jesus. Seus ensinamentos,
narrados pelos seus apóstolos, sempre foram confirmados
por Suas ações. Sempre respeitou o livre-arbítrio dos
que com Ele conviveram, sem exigir comportamentos que
eles ainda não estavam prontos para exercer.
Como diz o texto de Emmanuel (Seara dos Médiuns, lição
63), Jesus ensina sem formular exigências ou adesões;
age discretamente, sem se colocar em evidência; renova e
cura aqueles que o buscam, esperando que eles se
transformem; não exige nada de ninguém, nem dos seus
seguidores mais próximos; respeita a decisão de cada um,
até quando essa decisão o prejudica.
O objetivo para nossa evolução deve ser estudar o
Cristo, praticar Seus ensinamentos a fim de exercermos
nossas escolhas de forma mais eficiente, pois nossa
transformação só ocorrerá se atingir nosso íntimo.
“O apóstolo Paulo impele-nos à renovação pelo
sentimento, à luz do Evangelho. Isso equivale a dizer
que, para renovar-nos, em verdade, no modelo do Cristo,
é necessário, acima de tudo, sentir os padrões do Cristo
para pensar, observar, ouvir, ver e agir com acerto, na
realização da tarefa que o Cristo nos reservou.” ²
Bibliografia:
1) Denis,
Léon, O problema do ser, do destino e da dor, Rio
de Janeiro, FEB, 1989.
2) Emmanuel
(Espírito). Palavras de Vida Eterna, psicografado
por Francisco Cândido Xavier, 31ª ed., Uberaba. MG,
Comunhão Espírita Cristã, 2013.
3) Emmanuel
(Espírito), Seara dos Médiuns, psicografado por
Francisco Cândido Xavier, 16 ed., Rio de Janeiro, FEB,
2005.
4) Kardec,
Allan, O Livro dos Espíritos, 63ª Edição, São
Paulo, LAKE 2002.
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