Cozinha e infância
A educação, para a maioria das pessoas, significa tentar
levar a criança a parecer com o adulto típico de sua
sociedade... Mas para mim, educação significa fazer
criadores... Você precisa torná-los inventores,
inovadores, não-conformistas.
Jean Piaget
Comida caseira permeou a minha infância. Em casa, o
alegre espaço da cozinha, o prazer do gosto e do cheiro.
Imitar aqueles adultos que se nutriam no dia a dia dos
alimentos colhidos na horta e no pomar, segundo uma
relação amorosa.
Isto. Uma cozinha dedicada também à educação. Dos
filhos. Uma das lições é que não há palavras que possa
ensinar o gosto do feijão, do molho de tomate ou o
cheiro do alecrim. É preciso provar. Ficar disponível,
cheirar, experimentar de novo quando a primeira
impressão provoca aversão.
Pensei em quanto fui feliz por crescer em uma casa
dominada pela magia da culinária, integrando à minha
formação a sabedoria de Ludwig Feuerbach: “o homem é
aquilo que ele come.”
As crianças comem o que os adultos comem. Por isso
considero a cozinha como uma antecâmara da escola. Comer
bem para aprender bem. Pois tudo está relacionado.
Fabricantes de ultraprocessados, por exemplo, estimulam
em nossa época a abolição da cozinha. Sim, esse espaço
que o filho pequeno utiliza como modelo para observar o
preparo da comida lenta, panelas variadas em vez de
congelados e micro-ondas. São os cheiros do alho, da
cebola, do bolo de cenoura recém-assado, das
recomendações da mãe persistente: “o desjejum é crucial
para a gente vencer o dia.”
O que conto aos pais, aos que cuidam de crianças:
ninguém precisa ensinar o filho a comer comida que não é
saudável. O filho cresce e, auxiliado pela publicidade,
aprende rapidamente a comer “junk food” (ou seja, os
produtos que têm uma grande quantidade de açúcar e
gordura, sem valor nutricional), principalmente na época
da adolescência. A comida saudável, por sua vez, precisa
ser ensinada, estimulada. Educar o paladar depende da
colher para a prova, de ações gastronômicas como espiar,
cheirar, beliscar… O rosto curioso de alguém que tira a
tampa da panela – e para ver, sorridente, o que está lá
dentro.
Outra lição. Entendam… As crianças precisam da
convivência com o criativos cozinheiros – sejam eles os
pais, os avós, uma tia ou professora decidida. Não é só
uma questão de sobrevivência, mas sobretudo para
entender que o alimento bem feito é coisa boa também
para a saúde…
Notinhas
Comida infantil saudável é sinônimo de criança bem
nutrida, forte e, portanto, melhor desenvolvimento
intelectual e cognitivo.
Oferecer uma comida infantil nutritiva e saudável é
essencial para evitar sobrepeso e obesidade, impedir o
desenvolvimento precoce de doenças crônicas que podem,
no futuro, afetar a qualidade de vida e diminuir a
longevidade.
Deixe seus filhos ajudarem a cozinhar. Eles estarão
muito mais interessados em comida se participarem da
preparação das refeições.