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por André Ricardo de Souza

 

Paulo de Tarso, Maria Madalena e a questão da prostituição

 

No capítulo 20 do livro Boa Nova, psicografado por Francisco Cândido Xavier, o Espírito Humberto de Campos revela que Maria Madalena era a mulher pecadora e anônima, que - dentro da casa do fariseu Simão, na cidade de Naim - lavou em lágrimas, ungiu com perfume e secou os pés de Jesus, usando seus próprios cabelos (Lc. 7: 33-50). Ela era, portanto, a prostituta retratada no Evangelho de Lucas:

Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho do Reino, não longe da vila principesca onde vivia entregue a prazeres, em companhia de patrícios romanos [grifo meu], e tomara-se de admiração pelo Messias. (...) Decorrida uma noite de grandes meditações e antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungira publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se a procurar o Messias, após muitas hesitações. Como a receberia o Senhor, na residência de Simão [apóstolo Pedro]? Seus conterrâneos nunca lhe haviam perdoado o abandono do lar e a vida de aventuras. Para todos, ela era a mulher perdida [prostituta], que teria de encontrar a lapidação na praça pública (Xavier, 2013, p. 128).

Já no capítulo 10 da segunda parte da obra Paulo e Estêvão - ditada por Emmanuel e psicografada também por Chico Xavier (2013, p. 466) - Paulo de Tarso se refere - com profundidade, à prostituição condenando o machismo - ao se contrapor à hipocrisia de quem o criticava pelo fato de ele recorrer à Popeia Sabina (esposa do imperador Nero) para buscar, em Roma, a libertação do, então, aprisionado apóstolo João Evangelista: “Irmãos, é indispensável compreender que a derrocada moral da mulher, quase sempre, vem da prostituição do homem [grifo meu]”.

Mas o convertido de Damasco foi além. A cidade grega de Corinto, onde ele formou comunidade cristã e viveu por quase dois anos, tinha dois portos marítimos e, portanto, recebia muitos estrangeiros[1], contendo diversos templos, dentre eles o dedicado à deusa da sexualidade, Afrodite. Seu culto implicava em relações sexuais, envolvendo cerca de mil prostitutas cultuais, que, para serem identificadas na sociedade e como forma de estigma, tinham a cabeça raspada[2]. Para que elas pudessem também ser acolhidas e participar de reuniões na comunidade cristã, sem serem identificadas e discriminadas, Paulo de Tarso prescreveu e registrou na Primeira Carta aos Coríntios (capítulo 11, versículos de 2 a 6) o uso do véu a todas as mulheres da comunidade, algo que ele não fez em relação a nenhuma outra igreja formada, dada a peculiaridade da cidade grega. Isto evidencia o respeito do apóstolo dos gentios por aquela marginalizada condição feminina, em consonância com o excerto do livro Paulo e Estêvão, acima reproduzido. 

Vale lembrar que, tanto Madalena quanto o tecelão de Tarso foram discriminados pelos apóstolos, ela pela vida pregressa de meretriz e ele por ter sido, efetivamente, assassino, torturador e perseguidor de cristãos, ainda conforme a obra de Emmanuel. Ambos foram também desacreditados após seus respectivos encontros espirituais com Jesus, ela por ocasião da ressurreição e ele após visão em Damasco. Os dois (ele muito mais do que ela) se equivocaram e responderam por isso, abraçando devotadamente o apostolado do Evangelho. Mostraram-nos que muito mais importante do que aquilo que cada pessoa foi é o que ela se tornou. Tanto Maria de Magdala quanto Paulo de Tarso, cada qual a seu modo, lidaram com a questão da prostituição e têm muito a nos ensinar em prol da cristã eliminação de preconceitos cultural e historicamente arraigados.

 


[1] O fato de ser uma localidade portuária, cabe dizer, estimulava a prostituição.

[2] Ver: link-1link-2 e link-3, acesso em 28 de dezembro de 2021.

 

Referências bibliográficas:

XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 45ª edição. Brasília, FEB, 2013.

_______. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 37ª edição. Brasília, FEB, 2013.

 

André Ricardo de Souza é professor de sociologia da UFSCar, colaborador do paulistano Núcleo Espírita Coração de Jesus e autor do e-book A veracidade e conexões da obra Paulo e Estêvão, gratuitamente disponível em: link-4


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita