Paulo de
Tarso, Maria Madalena e
a questão da
prostituição
No capítulo 20 do livro Boa
Nova, psicografado
por Francisco Cândido
Xavier, o Espírito
Humberto de Campos
revela que Maria
Madalena era a mulher
pecadora e anônima, que
- dentro da casa do
fariseu Simão, na cidade
de Naim - lavou em
lágrimas, ungiu com
perfume e secou os pés
de Jesus, usando seus
próprios cabelos (Lc. 7:
33-50). Ela era,
portanto, a prostituta
retratada no Evangelho
de Lucas:
Maria de Magdala ouvira
as pregações do
Evangelho do Reino, não
longe da vila
principesca onde vivia
entregue a prazeres, em
companhia de patrícios
romanos [grifo
meu], e tomara-se de
admiração pelo Messias. (...) Decorrida
uma noite de grandes
meditações e antes do
famoso banquete em Naim,
onde ela ungira
publicamente os pés de
Jesus com os bálsamos
perfumados de seu afeto,
notou-se que uma barca
tranquila conduzia a
pecadora a Cafarnaum.
Dispusera-se a procurar
o Messias, após muitas
hesitações. Como a
receberia o Senhor, na
residência de Simão [apóstolo
Pedro]? Seus
conterrâneos nunca lhe
haviam perdoado o
abandono do lar e a vida
de aventuras. Para
todos, ela era a mulher
perdida [prostituta],
que teria de encontrar a
lapidação na praça
pública (Xavier,
2013, p. 128).
Já no capítulo 10 da
segunda parte da obra
Paulo e Estêvão - ditada
por Emmanuel e
psicografada também por
Chico Xavier (2013, p.
466) - Paulo de Tarso se
refere - com
profundidade, à
prostituição condenando
o machismo - ao se
contrapor à hipocrisia
de quem o criticava pelo
fato de ele recorrer à
Popeia Sabina (esposa do
imperador Nero) para
buscar, em Roma, a
libertação do, então,
aprisionado apóstolo
João Evangelista:
“Irmãos, é indispensável
compreender que a
derrocada moral da
mulher, quase sempre, vem
da prostituição do homem [grifo
meu]”.
Mas o convertido de
Damasco foi além. A
cidade grega de Corinto,
onde ele formou
comunidade cristã e
viveu por quase dois
anos, tinha dois portos
marítimos e, portanto,
recebia muitos
estrangeiros,
contendo diversos
templos, dentre eles o
dedicado à deusa da
sexualidade, Afrodite.
Seu culto implicava em
relações sexuais,
envolvendo cerca de mil
prostitutas cultuais,
que, para serem
identificadas na
sociedade e como forma
de estigma, tinham a
cabeça raspada.
Para que elas pudessem
também ser acolhidas e
participar de reuniões
na comunidade cristã,
sem serem identificadas
e discriminadas, Paulo
de Tarso prescreveu e
registrou na Primeira
Carta aos Coríntios
(capítulo 11, versículos
de 2 a 6) o uso do véu a
todas as mulheres da
comunidade, algo que ele
não fez em relação a
nenhuma outra igreja
formada, dada a
peculiaridade da cidade
grega. Isto evidencia o
respeito do apóstolo dos
gentios por aquela
marginalizada condição
feminina, em consonância
com o excerto do livro Paulo
e Estêvão, acima
reproduzido.
Vale lembrar que, tanto
Madalena quanto o
tecelão de Tarso foram
discriminados pelos
apóstolos, ela pela vida
pregressa de meretriz e
ele por ter sido,
efetivamente, assassino,
torturador e perseguidor
de cristãos, ainda
conforme a obra de
Emmanuel. Ambos foram
também desacreditados
após seus respectivos
encontros espirituais
com Jesus, ela por
ocasião da ressurreição
e ele após visão em
Damasco. Os dois (ele
muito mais do que ela)
se equivocaram e
responderam por isso,
abraçando devotadamente
o apostolado do
Evangelho. Mostraram-nos
que muito mais
importante do que aquilo
que cada pessoa foi é o
que ela se tornou. Tanto
Maria de Magdala quanto
Paulo de Tarso, cada
qual a seu modo, lidaram
com a questão da
prostituição e têm muito
a nos ensinar em prol da
cristã eliminação de
preconceitos cultural e
historicamente
arraigados.
Referências
bibliográficas:
XAVIER,
Francisco
Cândido. Paulo e
Estêvão. Pelo
Espírito
Emmanuel. 45ª
edição.
Brasília, FEB,
2013.
_______. Boa
nova. Pelo
Espírito
Humberto de
Campos. 37ª
edição.
Brasília, FEB,
2013.
André Ricardo de
Souza é
professor de
sociologia da
UFSCar,
colaborador do
paulistano
Núcleo Espírita
Coração de Jesus
e autor do
e-book A
veracidade e
conexões da obra
Paulo e Estêvão,
gratuitamente
disponível em: link-4
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