Usurário
Rico, vivia a sós, desde longínqua data.
Afagava o metal resplandecente e louro...
Nem um pão a ninguém. Somente ouro e mais ouro,
Entre pedras faiscando e baixelas de prata.
Conservava o vintém com a devoção de um mouro.
Surge, porém, a dor que o despreza e maltrata
E, depois, vem a morte erguendo a foice ingrata,
Que o lança em desespero a fundo sorvedouro...
Sem o corpo de carne é um louco que esbraveja,
Quer governar, ainda, a migalha e a bandeja;
Enjaulado na sombra, excita-se e reage.
E conquanto pranteie e se lamente embora,
O infeliz Harpagão possui somente, agora,
Uma cama de terra e um cobertor de laje.
Do livro Antologia dos Imortais,
obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier
e Waldo Vieira.