Médiuns transviados
“Mediunidade é talento divino para edificar o consolo e
a instrução entre os homens.” ¹
Médium é o intermediário entre os dois mundos: o
material e o espiritual. No item 159 de “O Livro dos
Espíritos”, Kardec afirma que todos os que sentem a
presença dos Espíritos, mesmo que em graus de diferentes
intensidades, são médiuns. Vale salientar que, mesmo
sendo portadores da faculdade mediúnica, nem todos serão
médiuns, porque nem todos conseguem transmitir as
mensagens do mundo espiritual. No mesmo item, Kardec
afirma que são poucas as pessoas que não possuem essa
faculdade, o que nos leva a concluir que médium não é
apenas aquele que é espírita. Pode haver médiuns entre
os membros de qualquer religião, como também entre os
ateus e materialistas. O que diferencia o médium
espírita dos demais é que, sendo espírita, ele estuda,
aceita e pratica os salutares princípios doutrinários do
Espiritismo para que, com o tempo, consiga a sua
renovação como Espírito imortal que é.
No seu livro “Estudando a Mediunidade”, no capítulo 40,
o autor Martins Peralva afirma que o “Espiritismo é um
corpo de Doutrina, de elevado teor espiritual,
consubstanciando normas e diretivas superiores que
visam, primordialmente, à elevação do ser humano”.
O homem é um Espírito que tem um corpo e, por essa
razão, precisa entender que seu corpo perece, mas que o
Espírito que o habita viverá eternamente, aceitando a
necessidade de ser perseverante na transformação da sua
essência para evoluir.
Na caminhada do espírita, estudar é uma parte muito
importante, especialmente quando o assunto é
mediunidade. Conhecer o tema traz muita segurança ao
médium que pode perceber os obstáculos que enfrentará,
e, assim, ultrapassá-los com segurança. A literatura
espírita contém livros de autores sérios nos quais
poderão ser encontradas orientações úteis para que os
médiuns desenvolvam e cultivem suas faculdades com
sucesso, contribuindo para seu progresso individual e
daqueles que consigo convivam. É importante destacar que
a primeira leitura de todo médium em desenvolvimento
deveria ser “O Livro dos Médiuns”, acompanhada do
entendimento evangélico.
A Doutrina Espírita considera a mediunidade como um meio
usado por Deus para auxiliar a evolução da Humanidade.
No Centro Espírita, os médiuns buscam orientação para
seu desenvolvimento. Por isso, a importância de
dirigentes que estudem, conheçam, pratiquem e ensinem
tudo o que Jesus nos deixou como exemplo. Dirigentes
despreparados podem atrapalhar o desenvolvimento dos
médiuns e a assistência espiritual àqueles que procuram
auxílio. Mesmo na casa espírita há espíritas que não
cultivam a mediunidade, assim como há médiuns que não
estudam o Espiritismo e o Evangelho de Jesus.
Vale ressaltar que os médiuns não são pessoas especiais,
privilegiadas, que foram agraciadas com esse dom. “Os
médiuns, em sua generalidade, não são missionários na
acepção comum do termo; são almas que fracassaram
desastradamente, que contrariaram sobremaneira, o curso
das leis divinas e que resgatam, sob o peso de severos
compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado
obscuro e delituoso.” ²
São Espíritos que tombaram porque abusaram do poder, da
autoridade, da fortuna, da inteligência e a reencarnação
torna-se a oportunidade que o Espírito tem para resgatar
seus comportamentos inadequados. Nova oportunidade. Para
que possa aproveitá-la bem, o seu empenho é
imprescindível.
Praticar a mediunidade, exercendo-a em nome de Jesus,
tendo por base os ensinamentos da Doutrina Espírita,
será sempre um instrumento de educação para o médium,
que poderá consolar os aflitos, curar os enfermos e
esclarecer os que ignoram Jesus. Por isso, para realizar
com responsabilidade essa tarefa, deverá, continuamente,
estudar, entender e praticar o Evangelho de Jesus; ser
humilde e encarar a mediunidade como oportunidade de
recomeçar, corrigindo imperfeições de vidas passadas ou
da atual encarnação.
Feitas todas estas considerações, podemos afirmar que a
mediunidade pode ser exercida de duas formas: a
mediunidade com Jesus, aquela que se exerce em função de
objetivos supremos; e a mediunidade sem Jesus, a que é
exercida em função de interesses inferiores, preocupada
com assuntos geralmente ligados à vida material.
O Espiritismo, como doutrina codificada, estabelece
normas para a prática dessa faculdade bendita: deve ser
exercida de forma simples, sem ritual de qualquer
espécie, com a finalidade de visar exclusivamente ao bem
e ser praticada para atingir a elevação espiritual. Não
reconhece também, como prática espírita, todas aquelas
que consultam e exploram os Espíritos, tratando sempre
de assuntos materiais.
A mediunidade transviada é, portanto, aquela que “se
exerce em função de interesses inferiores, à revelia das
salutares normas que o Espiritismo estabelece para o
intercâmbio com os Espíritos”. ³
A mediunidade sem Jesus tem algumas características
fáceis de serem percebidas para que ninguém se deixe
enganar, a menos que queira: consulta e explora
Espíritos ainda ignorantes sobre assuntos materiais, ou
seja, casamentos, negócios, empregos; consulta e pede
ajuda sobre assuntos espirituais inferiores, como ação
maléfica sobre a saúde ou a vida do próximo. E quem
pratica esse tipo de atividade não ficará impune.
Sofrerá consequências dolorosas com a aplicação da lei
do resgate em ação, para corrigir todo o mal provocado
por comportamento inadequado, como, por exemplo,
obsessão provocada pela estreita afinidade entre os
membros desse grupo; encontrar-se nas zonas inferiores
com essas entidades, após o desencarne, ou reencontrar
com essas entidades fazendo parte de sua família, como
pais ou filhos.
No livro “Nos domínios da Mediunidade”, eis o que o
Instrutor Aulus diz sobre a mediunidade transviada: “Na
hipótese de não se reajustarem ao bem, tão logo
desencarnem, o dirigente desse grupo e os instrumentos
que lhe copiam as atitudes serão eles surpreendidos
pelas entidades que escravizaram, a lhes reclamarem
orientação e socorro, e, muito provavelmente, mais
tarde, no grande porvir, quando responsáveis e vítimas
estiverem reunidos no instituto da consanguinidade
terrestre, na condição de pais e filhos, acertando
contas e recompondo atitudes, alcançarão pleno
equilíbrio nos débitos em que se emaranharam”. Concluiu
Aulus: “cada serviço nobre recebe o salário que lhe diz
respeito e cada aventura menos digna tem o preço que lhe
corresponde”. 4
Grupos esclarecidos e fraternos poderão ajudar a mudar
esse quadro. Conversação amiga, palestras evangélicas,
recomendando a leitura de livros e artigos educativos,
convidando-os amigavelmente a trabalharem com Jesus.
A falta de estudo e de comprometimento com a própria
transformação, ou seja, o envolvimento de cada um com
sua reforma íntima, poderão levar a esse quadro. Chegará
o dia em que, quando todos nós estivermos evoluídos,
porque nos empenhamos para tal, não haverá mais espaço
para tais grupos, pois não serão mais procurados.
Estimulando o trabalho e o estudo caridosamente, sem
críticas aos que ainda não o praticam, tratando com
carinho e respeito todos os Espíritos ainda não
esclarecidos, teremos sucesso nessa mudança.
“Terás a mediunidade por flama de amor e serviço,
abençoando e auxiliando onde estejas, em nome da Excelsa
Providência, que te fez semelhante concessão por
empréstimo. E nos dias em que esse mistério de luz te
pese demasiado, volta-te para o Cristo - Divino
Instrumento de Deus na Terra - e perceberás, feliz, que
o coração crucificado por devotamento ao bem de todos,
conquanto pareça vencido, carrega em triunfo a
consciência tranquila do vencedor.” 5
Bibliografia:
1 - XAVIER, F. C. Seara dos Médiuns,
ditado pelo Espírito Emmanuel -16ª Edição - Editora FEB
- Rio de Janeiro/ RJ - 2005, lição 77.
2 - XAVIER, F. C. Palavras de Emmanuel,
ditado pelo Espírito Emmanuel – 11ª edição - Editora FEB
– Brasília/DF - 2013, lição 30.
3 - PERALVA, Martins. Estudando a
Mediunidade, 27ª edição - Editora FEB - Rio de
Janeiro/RJ - 2011, lição 40.
4 - XAVIER, F. C. Nos Domínios da
Mediunidade, ditado pelo Espírito André Luiz - 23ª
edição – Editora FEB - Rio de Janeiro/RJ- 1995, capítulo
27.
5 - XAVIER, F. C. Encontro Marcado,
ditado pelo Espírito Emmanuel, 14ª edição, Editora FEB,
Brasília/DF-2013, lição 28.
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