As dores da alma segundo o Espiritismo
Numa sociedade globalizada as informações fluem mais
livremente e num intervalo de tempo real, tomamos
facilmente o conhecimento que a depressão será a
primeira doença incapacitante do século XXI, porém, sob
uma visão holística, já fomos alertados por diversos
benfeitores espirituais, que esse sintoma é um reflexo
das encarnações passadas que vêm desabrochando na atual
existência física. Podemos dizer em poucas palavras que
a reverberação das lembranças mal resolvidas que se
encontram no nosso inconsciente começa acenar ao homem
hodierno como uma necessidade de autoconhecimento e de
um trabalho de reforma íntima de lembranças
internalizadas e adoecidas, que precisam ser tratadas
terapeuticamente e, se possível, ser ressignificadas,
pois o processo de melhora depende antes de qualquer
coisa estarmos em paz com a nossa consciência.
Quando estudamos, um pouco mais a fundo, as questões do
Espírito em sua escalada evolutiva, percebemos que a dor
moral é terapêutica, pois consegue tirar o indivíduo da
sua atual zona de conforto, mesmo sendo por atraso
evolutivo ou imaturidade do senso moral, pois o
indivíduo se vê obrigado a reagir e fazer algo para se
libertar do desconforto interior, da sensação de um
vazio existencial quase inexplicável, que eclode,
exigindo que algo seja feito para promover uma mudança
em seus sentimentos.
A doutrina espírita procura elucidar a possível natureza
desses sentimentos contraditórios, oferecendo
consolação, à medida que esclarece, sem a pretensão de
dar uma solução mágica para os acontecimentos, pois
sabemos que tudo na vida tem uma data certa para
terminar, até mesmo a própria dor moral que somos
portadores, que reflete antigas lembranças de outras
existências, exigindo do próprio indivíduo uma atitude
de reparação ou até mesmo autoperdão. Diríamos que Deus
em sua imensa sabedoria permite que nosso inconsciente
venha a nos cobrar, em encarnações vindouras, atitudes
que negligenciamos no passado, quando ocultamos debaixo
do tapete de antigas existências questões que deveriam
ser resolvidas, que acabaram sendo adiadas e hoje nossa
consciência nos cobra uma prestação de contas, que vem
eclodir no estado de vigília com diversos diagnósticos
terapêuticos, como culpa ou remorso, ansiedades,
fragilidades emocionais e até mesmo depressão.
“Diante de um quadro tão delicado, o que poderíamos
fazer para minimizar o nosso sofrimento e daqueles a
quem amamos?
Quando O Evangelho segundo o Espiritismo, com
suas passagens e relatos dos benfeitores espirituais,
procura nos exortar a uma reflexão, indiretamente nos
mostra que o sofrimento é relativamente proporcional à
nossa crença. Em outras palavras, mudando nossas crenças
torna-se possível ressignificar o sofrimento, embora a
dor tenha seu tempo certo de duração.
Nas diversas histórias contadas pelos Espíritos para
esclarecer o sentido da vida, nos conta uma antiga lenda
que um ocidental, buscando iluminação, viajou até o
Oriente à procura de um “homem sábio”, com o qual
pretendia encontrar respostas ao seu sofrimento
interior. Viajou por um bom tempo até que chegou onde o
sábio morava, quando entrou numa caverna e descobriu que
só existia uma cama coberta de palha e muitos
pergaminhos. Nesse momento o ocidental perguntou:
- Onde estão suas coisas? E o sábio respondeu:
- Onde estão as suas!
O oriental retrucou: - Estou de passagem.
E o sábio lhe disse: - Eu também!
A compreensão espiritual dessa singela história pode
ajudar a contextualizar nossa existência reencarnatória,
quando passamos a ver a vida com um olhar diferente. A
dor da perda ou mudança brusca pode até continuar,
porém, o arrastamento do sofrimento tende a se modificar
quando reeducamos nossos sentimentos e ressignificamos
nossos valores.
Existem depoimentos dos Espíritos que são cruciais para
rever nosso orgulho e egoísmo, reescrevendo no nosso
livro da vida uma nova página na nossa história, como
nos diz Chico Xavier: “Você não pode voltar
atrás e fazer um novo começo, mas você pode começar
agora e fazer um novo fim”.
A tomada de consciência da mudança não significa que
estaremos remidos de uma hora para outra, com nós
mesmos, dos erros cometidos em outas existências
físicas, que geram o atual desconforto como um sinal de
alerta do próprio Espírito para que algo se modifique.
Faz-se necessário um movimento de autoconhecimento e de
reforma íntima. No livro O Céu e o Inferno, temos
inúmeros testemunhos de Espíritos que tinham a plena
consciência na condição de vigília que estavam cometendo
graves erros e, mesmo assim, não tiveram dúvidas em dar
cabo às suas tramas e artimanhas. Como também nos relata
o Espírito André Luiz, no livro No Mundo Maior,
vários casos em que o atual sofrimento pode ser
explicado pelas atitudes infelizes de outras
existências.
Seria também uma grande ingenuidade da nossa parte
atribuir tudo que acontece de errado às vidas passadas,
pois sempre existiu “Livre-Arbítrio”, dessa
forma, apesar dos arrastamentos que cultivamos, temos o
autocontrole de optar por um desfecho diferente na atual
existência; só seremos vítimas de nós mesmos se nada
fizermos para evitar recair nos antigos apelos
emocionais, os quais nos tornaram reféns. Caso isso não
fosse verdade, ninguém conseguiria se libertar de si
mesmo, entraríamos em um looping que só uma
intervenção divina pode desfazer. Com as informações que
possuímos hoje, é bem mais fácil à reeducação dos
sentimentos, promover uma mudança de conduta nossa como
Espíritos imortais.
Não existe dúvida que somos herdeiros de nós mesmos,
porém, também somos os arquitetos da nossa felicidade. O
mesmo Deus infinitamente bom e justo que nos concedeu a
vida e nos permitiu errar para aprender, e ter noção de
limite, nos concede a oportunidade da reparação, nos
estendendo sua misericórdia infinita e uma moratória que
será sempre proporcional ao nosso desejo sincero de
mudança: a busca por um estudo esclarecedor e uma
transformação moral.
Referências:
1) Kardec,
Allan; O Evangelho segundo o Espiritismo; FEB.
2) ______,
____; O Céu e o Inferno; FEB.
3) Xavier,
Francisco Cândido; No Mundo Maior; FEB.
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