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por Maria Margarida Moreira

 

Diante dos outros


“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros.”
 -João, 13:14.


Esta passagem do Evangelho é pequenina, mas, por isso mesmo, incisiva, que nos coloca diante do problema fundamental do Cristianismo.

Quando João registra essas palavras de Jesus, “um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros”, Ele, na verdade, nos coloca diante de um problema que resolveria todos os problemas humanos.

Ainda hoje, na Terra, temos muita dificuldade para o encaminhamento da nossa vida, para que o homem seja feliz, para que a criatura humana possa ter tranquilidade e segurança. Se isso ainda acontece é porque não aprendemos a amar os nossos semelhantes no sentido que o Cristo nos ama e nos amou. Este é o princípio fundamental do Evangelho que Jesus nos oferece para a nossa compreensão espiritual.

Desta forma, nosso Criador estabeleceu a cooperação como princípio dos mais nobres no centro das Leis que regem a vida.

Em qualquer parte, o homem não pode agir isoladamente, em se tratando da obra de Deus que se aperfeiçoa em todos os lugares. E ninguém pode fugir à convivência da humanidade porque “quem se encastela no próprio espírito, é como um poço de água parada que envenena a si mesmo”. (O Espírito da Verdade, lição 100.)

Precisamos uns dos outros para sermos quem Deus quer que sejamos. No mundo, o outro é o companheiro de experiência, seja na taça da simpatia ou na taça da aversão.

O outro é pedaço da nossa história, retratista de nossos atos, espelho de nossas aquisições, reflexo de nós mesmos. Para isso, sintamo-nos na posição deles, no compartilhamento da luta diária.

Em casa, é quem nos comunga a faixa doméstica. Ele pode chamar-se pai ou filho; no caminho, pode denominar-se amigo ou camarada de ideal.

No recanto mais humilde, encontraremos um companheiro de esforço, e em cada um desses companheiros de jornada, observamos uma oportunidade de atender ao programa divino, acerca da nossa existência, exercendo a fraternidade.

O amor é o clima adequado ao entrelaçamento de todos os seres da criação e, somente através dele, integrar-nos-emos na sinfonia excelsa da vida. Se amarmos a Deus no irmão que nos entende e ajuda, não nos esqueçamos de honrá-lo e querê-lo no irmão que, ainda, não nos pode amar.

No fundo, há um só Pai, que é Deus, e uma grande família de que se compõe a irmandade universal.

Assim, santifiquemos os laços que Jesus promoveu a bem de nossa alma e de todos os que nos cercam. Porém, precisamos entender que cada criatura respira em faixa diversa de evolução, segundo as leis do Criador. Deus não dá cópia.

A palavra da Boa Nova não se reporta aos companheiros amados, felizes, que já solucionaram conosco as questões de harmonia mental, e, sim, aos que respiram em nossa atmosfera, exigindo auxílio fraterno seguro.

Se a tarefa apresenta obstáculos, recordemo-nos das inúmeras vezes em que o Cristo já aplicou misericórdia ao nosso Espírito.

Isso atenua as sombras do coração, dando-nos nova ocasião de santificar e aprender como assevera o Mestre: “não devias, tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu, também, tive misericórdia de ti?” (Mateus, 18-33)

Assim, se o Eterno encaminhou ao nosso ambiente um companheiro menos desejável, tenhamos compaixão, ensinemos sempre, elevando os que nos rodeiam.

É justo nos determos na companhia daqueles que sentem e pensam como nós, usufruindo os valores de afinidade; entretanto, sempre que amamos alguém que não comunga a onda de nossas ideias e emoções, abstenhamo-nos de lhe violentar a cabeça com os moldes em que nos padroniza a vida espiritual.

Mas atendamos o apelo da fraternidade, abrindo a própria alma às manifestações generosas para com todos os seres, sem trancar-nos na torre das falsas situações perante o mundo.

Muitas vezes, a pretexto de viver com dignidade, caminhamos indiferentes ao passo dos nossos semelhantes.

Todavia, não nos esqueçamos de que enfermos, graves da alma, todos nós fomos ontem. Rendamos, pois, graças a Deus, se já podemos prestar auxílio, porque se chegamos ao grau de restauração em que nos encontramos, é que decerto alguém caminhou pacientemente conosco, com bastante amor de servir e muita coragem de suportar.

Busquemos, então, relacionar-nos com as pessoas de todos os níveis sociais, tendo amigos além das fronteiras do lar, da fé religiosa e da profissão, dando atenção a quem nos pede, sem criar empecilhos.

Socorramos a todos através do bem efetivo e incessante. Vibremos pensamentos de amor para os irmãos que buscam a nossa companhia, sonhando a renovação, alimentando a esperança de novo recomeço.

Junto ao nosso coração surpreenderemos os que parecem residir em regiões morais diferentes. Entes amados desertores da estrada, amigos queridos que abraçam perigosas experiências.

Diante desses, que se nos afiguram desnorteados, estendamos o coração e as mãos para auxiliar, pois, estamos todos no caminho da evolução e, segundo afirmação do nosso Mestre divino, com a medida com que tivermos medido, nos hão de medir a nós.

Não nos esqueçamos de que ninguém é ignorante porque o deseje e, estendendo fraternos braços aos que respiram atribulados na sombra, diminuiremos a penúria que se extinguirá por fim, no mundo. Quando cada consciência se ajustar à obrigação de servir sem mágoa e sem exigência, na certeza de que apenas amando e auxiliando, sem reclamar, é que permaneceremos felizes na ascensão para o Alto.

O irmão iluminado e bondoso em si já apresenta uma obra viva do Pai, através da qual O conhecemos e admiramos; o irmão ignorante e infeliz, porém, é uma obra que o céu nos convida a amparar e embelezar, no rumo da perfeição em nome do Todo Misericordioso.

Roguemos ao Pai que nos ensine a encontrar a paz na luta construtiva, o repouso no trabalho edificante, o socorro na dificuldade e o bem nos supostos males da vida, a fim de diminuirmos a sombra do outro.

 

Bibliografia:

KARDEC, Allan – O Livro dos Médiuns – 59ª edição – Editora FEB – Rio de Janeiro – RJ – Questão 302 – 1992.

XAVIER, Francisco Cândido – Seara dos Médiuns – pelo Espírito Emmanuel – 10ª edição – Editora FEB – Rio de Janeiro – RJ – lição 85 – 1997.

XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo – O Espírito da Verdade – Diversos Espíritos – 15ª edição – Editora FEB – Rio de Janeiro – RJ – lições 7 e 100 – 2006.

XAVIER, Francisco Cândido – Caminho, Verdade e Vida – pelo Espírito Emmanuel – 25ª edição – Editora FEB – Rio de Janeiro –RJ - lição 20.

PIRES, Herculano José – O Evangelho de Jesus em Espírito e Verdade – 2ª edição – Editora Paideia Ltda. – São Paulo – SP – lição 53 – 2017.


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita