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por Martha Triandafelides Capelotto

 

Perispírito, o elo interexistencial


Com muita propriedade, Zalmino Zimmermann nos diz, na introdução de sua obra intitulada “Perispírito”, que a Doutrina Espírita nos revela que a natureza do ser humano é essencialmente espiritual, ainda que por muito tempo prescinda, para seu desenvolvimento, do adequado suporte carnal.

Isso faz com que, em longo período de sua história evolutiva, viva ao mesmo tempo em dois planos existenciais, ora interagindo, quando imerso na dimensão física, com o mundo espiritual, ora, quando desencarnado, ligando-se contínua e estreitamente com o mundo material.

Em realidade, o existir é um interexistir e, para esse interexistir, concede-nos a Providência Divina um instrumento de muita valia, pode-se dizer, um espelho da alma e sustentáculo do corpo que é o perispírito.

A palavra perispírito foi empregada pela primeira vez por Allan Kardec no item 93 de O Livro dos Espíritos, quando ele indagou aos Espíritos Superiores se o Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tinha, ou como pretendem alguns, se estava sempre envolto numa substância qualquer, ao que responderam: o Espírito está envolvido por uma substância vaporosa aos teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira. Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.

Assim, esse termo, perispírito, foi endossado pelos Espíritos Superiores, passando a ser utilizado regularmente.

Sabemos, igualmente, que outras denominações conhecidas foram utilizadas para dizer a mesma coisa. Temos o termo psicossoma, utilizado por André Luiz e, também, corpo espiritual, designação dada por Paulo de Tarso, em sua primeira Epístola aos Coríntios (15:44). Atualmente, os autores dão aos três termos – perispírito, psicossoma e corpo espiritual – o mesmo sentido.

Desse modo, alma e perispírito constituem um todo indissolúvel e, conforme esclarece Kardec, alma e perispírito “constituem o ser chamado Espírito”, “a alma é, pois, um ser simples; o Espírito, um ser dual e o homem, um ser trino”.

Para que essa ideia possa ser melhor compreendida torna-se necessário dizer, como bem anota Kardec, reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente e o termo Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico; mas, como não se pode conceber o princípio inteligente isolado da matéria, nem o perispírito sem ser animado pelo princípio inteligente, as palavras alma e espírito são, no uso, frequentemente empregadas uma pela outra; filosoficamente, porém, é essencial fazer-se a diferença.

Complementando a ideia acima, destacamos o ensinamento de Léon Denis em sua obra “Depois da Morte” que, com muita clareza nos diz: O homem é um ser complexo. Nele se combinam três elementos para formar a unidade viva, a saber: O corpo, envoltório material temporário, que abandonamos na morte, como vestuário usado; o perispírito, invólucro fluídico permanente, invisível aos nossos sentidos naturais, que acompanha a alma em sua evolução infinita, e com ela se melhora e purifica; a alma, princípio inteligente, centro de força, foco da consciência e da personalidade; a alma, desprendida do corpo material e revestida do seu invólucro sutil, constitui o Espírito, ser fluídico, de forma humana, liberto das necessidades terrestres, invisível e impalpável em seu estado normal.

Embora os estudos sobre o perispírito tenham sido sistematizados somente a partir de Kardec, tem sido ele percebido desde épocas imemoriais, recebendo as mais diversas denominações no curso do tempo.

Tertuliano, Basílio, Cirilo de Jerusalém, Evódio (bispo de Uzala), Agostinho e muitos outros a ele se referiram. Clemente V, no Concílio realizado em Viena (1312), declarava heréticos “os que não admitissem a materialidade da alma”.

Modernamente, o perispírito tem atraído o interesse de renomados investigadores, que nele veem um dos mais importantes fatores do processo vital.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita