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por Jane Martins Vilela

 

Chamado de amor

 

“Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” – Jesus (Mateus, cap. XI, versículos 28 a 30.)         


Independente de classes sociais, todos sofrem neste mundo, mas como nos diz Lacordaire, espírito, em 1863, n’O Evangelho segundo o Espiritismo, poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao reino de Deus.

Há uma história muito simples, que a maioria dos espíritas conhece, mas que vem à nossa lembrança neste momento. Trata-se de um homem que ansiava chegar a um local de paz e beleza extremas, amor e sabedoria, um paraíso! Para isso ele se preparou, resolveu enfrentar os sacrifícios, para chegar nesse local almejado e distante. Para ser candidato a entrar nesse reino de paz, ele teria que fazer uma longa jornada, levando consigo uma tora de madeira muito longa e pesada. Resolveu enfrentar o sacrifício e o fez. Com aquele peso aos ombros ele partiu. À medida que caminhava, aquele peso começou a incomodá-lo. Cada vez pesava mais. Nossa! Como pesava! Por certo, não haverá problema algum de tirar um pedaço dessa madeira, para diminuir um pouco o peso, pensou ele. Só um pedaço não há de fazer mal! Ele o fez e continuou caminhando, vergando ao peso daquela madeira. Viu muitos passarem ao seu lado, carregando as suas igualmente. Cansados como ele, mas caminhando. Depois de muito tempo, chegou na localidade do almejado reino de paz e esperanças, de amor e bondade, de felicidade. Havia um precipício, separando o reino. Para se alcançá-lo, eis a finalidade da tora de madeira. Colocada sobre o local, interligava as terras, como uma ponte. Mas oh, decepção! A dele faltou um pedaço, aquele que ele havia retirado e por isso não alcançava a outra margem! Não podia aproveitar as dos outros passantes, pois quando eles chegavam do outro lado, sua tora se desmaterializava. A chegada era individual! Ele perdeu a oportunidade, porque quis menor esforço.

Essa história simboliza a nossa jornada humana. Temos uma longa e árdua caminhada evolutiva, muitas vezes com os ombros vergados ao peso das nossas dores, de nossos sofrimentos. A tora de madeira é nossa dificuldade, que temos de carregar, mas com ela há uma esperança, uma ponte para o reino de paz! Há que bem sofrer. Sem revolta.

Como nos diz Lacordaire, a prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só. É necessário que se apoie numa fé ardente na bondade de Deus.

Deus é infinito amor. Lemos nas Escrituras: Vós sois deuses! Somos deuses! Há que buscar o que há de divino em nós. Nossa jornada tem sido de muitos sacrifícios, para galgarmos o monte das esperanças mais profundas. A evolução é individual. Com o evangelho de Jesus, que nos chama constantemente, convidando-nos a segui-lo, nós caminharemos com segurança. Cansados, sobrecarregados, mas sem nunca esmorecer na jornada. Torná-la menos pesada não é retirar o quinhão de nossas dores, mas aceitá-lo com humildade e paciência, sem queixumes ou murmurações.

Muitos alcançaram esse reino de esperanças, ao findarem a jornada humana, vitoriosos. Venceram a si mesmos. Grande e árdua batalha! A maior de todas. Alcançar a paz profunda após vencer a si mesmo, tal deveria ser a nossa ambição.

A ciência nos diz que a Terra tem por volta de 4 bilhões e meio de anos. Jesus nos disse que antes que Abraão o fosse, ele já o era. Há quase 5 bilhões de anos, sob o seu comando, a Terra se deslocou do sol e começou seu ciclo, através dos milênios. Pacientemente ele esperou, para nos chamar. Esperou o tempo certo, o tempo em que as ovelhas poderiam ouvir o pastor.

Suas são as palavras da vida eterna. Há 2.000 anos veio pessoalmente a nos convidar para a plenitude do amor. O que estamos esperando? Por que não nos resolvemos? Por que o orgulho ainda nos tolda a visão? Toda querela em qualquer situação, aonde não haja entendimento fraterno revela orgulho em ação, necessidade de se despir dele e crescer em virtudes. Humildade é a virtude oposta e nela devemos nos fixar. Mas a maior das virtudes é o amor.

Sejamos humildes diante de nossos sofrimentos, sejamos dóceis.

Desenvolvamos o amor em nós. Lembrando o apóstolo Paulo, em Coríntios capitulo XIII v. 1 a 7, de extrema beleza, sobre a caridade, filha do amor, vivamo-la mais, como Jesus nos pediu. Vivamos o amor.

“... Se eu falar a língua dos homens e dos anjos, e não tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos os meus bens no sustento dos pobres, e se entregar meu corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade, nada disso me aproveita. A caridade é paciente, é benigna. A caridade não é invejosa, não age temerária, nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca jamais há de acabar, ou deixem de ter lugar as profecias, ou cessem as línguas, ou seja abolida a ciência. Agora, pois permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes; porém a maior delas é a caridade.”

Qual dessas três virtudes já alcançamos? A jornada é longa e difícil, mas não esmoreçamos. O reino de amor nos aguarda. Jesus nos espera. Ele chamou. Estejamos atentos ao chamado.

O Espiritismo tem a caridade por bandeira. Sejamos espíritas sinceros.

Aprendamos a amar.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita