Chamado de amor
“Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos
achais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre
vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração, e achareis descanso para as vossas
almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”
– Jesus (Mateus, cap. XI, versículos 28 a 30.)
Independente de classes sociais, todos sofrem neste
mundo, mas como nos diz Lacordaire, espírito, em 1863,
n’O Evangelho segundo o Espiritismo, poucos
sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem
suportadas podem conduzir ao reino de Deus.
Há uma história muito simples, que a maioria dos
espíritas conhece, mas que vem à nossa lembrança neste
momento. Trata-se de um homem que ansiava chegar a um
local de paz e beleza extremas, amor e sabedoria, um
paraíso! Para isso ele se preparou, resolveu enfrentar
os sacrifícios, para chegar nesse local almejado e
distante. Para ser candidato a entrar nesse reino de
paz, ele teria que fazer uma longa jornada, levando
consigo uma tora de madeira muito longa e pesada.
Resolveu enfrentar o sacrifício e o fez. Com aquele peso
aos ombros ele partiu. À medida que caminhava, aquele
peso começou a incomodá-lo. Cada vez pesava mais. Nossa!
Como pesava! Por certo, não haverá problema algum de
tirar um pedaço dessa madeira, para diminuir um pouco o
peso, pensou ele. Só um pedaço não há de fazer mal! Ele
o fez e continuou caminhando, vergando ao peso daquela
madeira. Viu muitos passarem ao seu lado, carregando as
suas igualmente. Cansados como ele, mas caminhando.
Depois de muito tempo, chegou na localidade do almejado
reino de paz e esperanças, de amor e bondade, de
felicidade. Havia um precipício, separando o reino. Para
se alcançá-lo, eis a finalidade da tora de madeira.
Colocada sobre o local, interligava as terras, como uma
ponte. Mas oh, decepção! A dele faltou um pedaço, aquele
que ele havia retirado e por isso não alcançava a outra
margem! Não podia aproveitar as dos outros passantes,
pois quando eles chegavam do outro lado, sua tora se
desmaterializava. A chegada era individual! Ele perdeu a
oportunidade, porque quis menor esforço.
Essa história simboliza a nossa jornada humana. Temos
uma longa e árdua caminhada evolutiva, muitas vezes com
os ombros vergados ao peso das nossas dores, de nossos
sofrimentos. A tora de madeira é nossa dificuldade, que
temos de carregar, mas com ela há uma esperança, uma
ponte para o reino de paz! Há que bem sofrer. Sem
revolta.
Como nos diz Lacordaire, a prece é um sustentáculo da
alma, mas não é suficiente por si só. É necessário que
se apoie numa fé ardente na bondade de Deus.
Deus é infinito amor. Lemos nas Escrituras: Vós sois
deuses! Somos deuses! Há que buscar o que há de
divino em nós. Nossa jornada tem sido de muitos
sacrifícios, para galgarmos o monte das esperanças mais
profundas. A evolução é individual. Com o evangelho de
Jesus, que nos chama constantemente, convidando-nos a
segui-lo, nós caminharemos com segurança. Cansados,
sobrecarregados, mas sem nunca esmorecer na jornada.
Torná-la menos pesada não é retirar o quinhão de nossas
dores, mas aceitá-lo com humildade e paciência, sem
queixumes ou murmurações.
Muitos alcançaram esse reino de esperanças, ao findarem
a jornada humana, vitoriosos. Venceram a si mesmos.
Grande e árdua batalha! A maior de todas. Alcançar a paz
profunda após vencer a si mesmo, tal deveria ser a nossa
ambição.
A ciência nos diz que a Terra tem por volta de 4 bilhões
e meio de anos. Jesus nos disse que antes que Abraão o
fosse, ele já o era. Há quase 5 bilhões de anos, sob o
seu comando, a Terra se deslocou do sol e começou seu
ciclo, através dos milênios. Pacientemente ele esperou,
para nos chamar. Esperou o tempo certo, o tempo em que
as ovelhas poderiam ouvir o pastor.
Suas são as palavras da vida eterna. Há 2.000 anos veio
pessoalmente a nos convidar para a plenitude do amor. O
que estamos esperando? Por que não nos resolvemos? Por
que o orgulho ainda nos tolda a visão? Toda querela em
qualquer situação, aonde não haja entendimento fraterno
revela orgulho em ação, necessidade de se despir dele e
crescer em virtudes. Humildade é a virtude oposta e nela
devemos nos fixar. Mas a maior das virtudes é o amor.
Sejamos humildes diante de nossos sofrimentos, sejamos
dóceis.
Desenvolvamos o amor em nós. Lembrando o apóstolo Paulo,
em Coríntios capitulo XIII v. 1 a 7, de extrema beleza,
sobre a caridade, filha do amor, vivamo-la mais, como
Jesus nos pediu. Vivamos o amor.
“... Se eu falar a língua dos homens e dos anjos, e não
tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino
que tine. E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer
todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver
toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, e não
tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos
os meus bens no sustento dos pobres, e se entregar meu
corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade,
nada disso me aproveita. A caridade é paciente, é
benigna. A caridade não é invejosa, não age temerária,
nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é
ambiciosa, não busca seus próprios interesses, não se
irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas
folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera,
tudo sofre. A caridade nunca jamais há de acabar, ou
deixem de ter lugar as profecias, ou cessem as línguas,
ou seja abolida a ciência. Agora, pois permanecem a fé,
a esperança e a caridade, estas três virtudes; porém a
maior delas é a caridade.”
Qual dessas três virtudes já alcançamos? A jornada é
longa e difícil, mas não esmoreçamos. O reino de amor
nos aguarda. Jesus nos espera. Ele chamou. Estejamos
atentos ao chamado.
O Espiritismo tem a caridade por bandeira. Sejamos
espíritas sinceros.
Aprendamos a amar.
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