Todo aquele que se eleva...
“... Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar
pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus
...” (Mateus, 18:4.)
De que maneira podemos entender esse convite de Jesus,
se o progresso é uma lei natural e se o nosso destino é
evoluir? Como poderemos conciliar o ensinamento
evangélico com a realidade da lei do progresso, que
podemos constatar em toda a criação de Deus?
Basta para isso observarmos a evolução que se processa
em todos os reinos da Natureza. É suficiente que
prestemos atenção à própria história da Humanidade e o
quanto temos evoluído, desde o homem das cavernas que
pouco diferia de um animal dito irracional, até o homem
da civilização científica e tecnológica. Entretanto, se
no campo intelectual o homem conquistou tão grande
evolução, no campo moral não ocorreu o mesmo. Eis aqui a
razão do sofrimento humano: somos todos vitimados pelo
nosso próprio comportamento, distanciados que estamos
das leis de Deus.
No Evangelho de Mateus, capítulo 18, versículo 1 a 5, no
qual encontramos a passagem acima citada, Jesus nos
alerta para a necessidade de despertamos em nós as
virtudes da humildade e da simplicidade. Muitos
justificam suas atitudes prepotentes e arrogantes,
dizendo não se humilharem e nem se rebaixarem diante de
ninguém porque só os que sabem se impor vencem no mundo.
Pobres companheiros que, envoltos no véu do orgulho,
ignoram que a humildade a qual Jesus se referia e para a
qual nos chama à prática nada tem a ver com servilismo!
Na excelência de Sua pedagogia, quando o Mestre nos
ensina simplesmente que “todo aquele que se eleva será
rebaixado”, reporta-se ao sentimento de orgulho, porque
toda elevação pessoal que tem por base o orgulho é
ilusória. Assim, todo aquele que utiliza o mal como
alavanca de elevação será rebaixado, pois só o bem que
cultivamos em nós é indestrutível e nos oferece base
sólida para todas as realizações.
Humildade é sentimento contrário ao orgulho. É o
sentimento que tem a possibilidade de fazer o homem
entender sua real posição no mundo, posição essa de
eterno aprendi frente à Sabedoria de Deus, nosso Pai
Criador. É o sentimento capaz de levar o homem a
compreender que, mesmo conhecendo muito, não deve
humilhar quem pouco sabe; de perceber que, mesmo
conhecedor de muitas coisas, outros existem que sabem
mais, a criatura humilde tem a capacidade de ensinar sem
demonstrar sabedoria e de auxiliar sem que o outro se
sinta humilhado.
A vida em sociedade estimula a competição, mas longe de
ser uma competição saudável, tem levado as criaturas a
perderem o bom senso, a razão, e a se comportarem como
se vivessem não entre companheiros, mas entre
adversários. Nas situações comuns da vida, julgam ter
“vencido”, na maioria das vezes, os que fazem uso da
esperteza – no sentido pejorativo do termo –, esquecidos
de que todas as posições são transitórias e que, mais
cedo ou mais tarde, acabarão rebaixados de suas posições
por não possuírem por não possuírem a base sólida do
amor. São como construções nas areias da ilusão material
que o tempo desfaz, mas que ficarão gravadas na sua
consciência de Espírito imortal, reclamando por
reajuste. Enquanto o orgulho for uma alavanca para nos
elevar, seremos rebaixados por deixa-lo nos conduzir a
uma suposta elevação sobre o nosso próximo. A nossa
vitória só será real quando conquistarmos a elevação
sobre nós mesmos, na consciência daquele que diz: hoje,
eu cresci em conhecimento; hoje, eu fui melhor do que
fui ontem; hoje, eu sou mais paciente, tenho mais
coragem moral, sou mais prudente, sou mais calmo; hoje,
eu cresci nos meus valores afetivos, nas minhas
qualidades positivas...
A elevação que tem por base o amor – quando lutamos para
vencer as próprias limitações, superando o egoísmo, a
ambição descabida, o desejo de superioridade
irresponsável – é elevação legítima, da qual jamais
seremos rebaixados, porque toda conquista espiritual é
tesouro inalienável do céu. Todos os ensinamentos de
Jesus têm por objetivo a nossa elevação espiritual,
visando a nossa felicidade, a nossa liberdade e nos
conduzindo a uma vida renovada.
Posto isto, podemos destacar três momentos da vida comum
de Jesus, no convívio com Seus discípulos, que
encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo,
Capítulo VII, itens 3 a 6, quando Ele aproveita para nos
ensinar a humildade. No primeiro momento, Seus
discípulos Lhe perguntam: “Quem é o maior no reino dos
céus?” E Jesus, chamando entre eles um menino, diz que
se não se tornassem como aquele menino, não poderiam
entrar no reino dos céus. A ponta a criança como símbolo
da inocência e da pureza. O reino dos céus está dentro
de nós. É um estado de espírito em que a criatura que
vivem harmonia com as leis de Deus sente uma alegria
íntima, uma felicidade que a nossa linguagem é incapaz
de traduzir. Assim, liberta-se dos sentimentos
inferiores, reflete a pureza de coração.
No segundo, a mãe de dois dos Seus apóstolos, Tiago e
João, pede a Jesus que seus filhos se assentem um à sua
direita, outro à Sua esquerda no Reino, ou seja, ela
pediu a Jesus que desse poder a seus filhos. E Jesus
responde: “Não sabeis o que pedis. Podei vós beber o
cálice que hei de beber?” Jesus, por compaixão e amor à
Humanidade, havia assumido entre nós uma missão de
grande sacrifício que o levaria ao martírio da
crucificação. E aquela mãe amorosa não sabia o que
estava pedindo para seus filhos.
Desta passagem do Evangelho, podemos extrair ainda uma
outra lição: quantas vezes almejamos situações de
superioridade, julgando-as como um grande bem e nos
aborrecemos por não conquistarmos aquilo que
desejávamos? Mas, será que estávamos preparados para
assumir uma posição superior? Quantas vezes, em prece,
pedimos a Deus a realização de algo que queremos muito
e, como não vemos nosso desejo se realizar, imaginamos
que sequer fomos escutados quando, na verdade, o não
atendimento a nossa solicitação é justamente o socorro
da Providência Divina em nosso benefício, evitando
consequências que não poderíamos suportar. Quando os
discípulos pedem esclarecimentos ao Mestre Jesus acerca
de suas dúvidas, Ele explica que aquele que vem para
servir, que é humilde e simples de coração, que
reconhece a Sabedoria do Pai Criador, que não se
vangloria e nem aceita homenagens na Terra, mas trabalha
no silêncio de sua consciência em benefício do próximo,
que guarda a recompensa do céu e não a dos homens, este
será grande no céu, porque se fez pequeno na Terra.
No terceiro momento, Jesus, na casa de um fariseu,
observando como se comportavam os convidados, ensinou
que quando fôssemos convidados para uma festa, não nos
colocássemos em posição de destaque tomando acento entre
os primeiros lugares, para que, ao chegar outro
convidado mais considerado, o anfitrião não necessitasse
nos pedir para ceder o nosso lugar a ele, tendo de nos
assentarmos nos últimos lugares. Mas, ao contrário, se
buscássemos os últimos lugares, para que fosse motivo de
glória o anfitrião nos colocar em posição mais elevada.
Eis a valorização da humildade, pois só aquele que
compreende a sua condição de Espírito imortal pode ser
humilde, e só pode ser humilda aquele que compreende que
a posição de superioridade é acréscimo de
responsabilidade espiritual para produzir o Bem, para
amparar, para servir. Emmanuel, estimado benfeitor
espiritual, nos lembra no livro Fonte Viva, lição
104, trazido a nós pela bendita mediunidade de Francisco
Cândido Xavier, a propósito desse tema, o seguinte:
“Auxiliar a todos para que todos se beneficiem e se
elevem, tanto quanto nós desejamos melhoria e
prosperidade para nós mesmos, constitui para nós
felicidade real e indiscutível. Ao leste e ao oeste, ao
norte e ao sul da nossa individualidade, movimentam-se
milhares de criaturas, em posição inferior a nossa.
Estendamos os braços, alonguemos o coração e irradiemos
entendimento, fraternidade e simpatia, ajudando-as sem
condições. Quando o cristão pronuncia as sagradas
palavras “Pai Nosso” está reconhecendo não somente a
Paternidade de Deus, mas aceitando também por sua
família a Humanidade inteira”.
“Bem-aventurados os pobres de Espírito, porque deles é o
reino dos céus” quer dizer que os humildes já desfrutam
da bem-aventurança, porque Jesus não diz “deles será o
reino dos céus”, mas diz: “porque deles é o reino dos
céus”. A partir do momento em que modificarmos nossa
postura de orgulho diante da vida, já poderemos nos
sentir, imediatamente, muito mais felizes, porque
bem-aventurados. Por essa razão, Jesus ensinava
incansavelmente o princípio da humildade como condição
essencial à felicidade prometida.
Bibliografia:
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo – 37ª edição – Editora LAKE – São
Paulo/SP – 1989 - Capítulo VII.
FRANCO, Divaldo P. Jesus e o Evangelho
à luz da Psicologia Profunda. Ditado pelo Espírito
Joanna de Ângelis – 19ª edição – LEAL Editora –
Salvador/BA – p. 57 a 62.
XAVIER, F.C. e WALDO, Vieira. O
Espírito da Verdade, Espíritos diversos – 10ª edição
– Editora FEB – Rio de Janeiro/RJ – 1977 – lições 36 e
64.
XAVIER, F. C. – Fonte Viva. Ditado
pelo Espírito Emmanuel – 16ª edição – Editora FEB – Rio
de Janeiro/RJ – 1988 – lição 104.
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