Ser e estar
“Se o homem soubesse a extensão da vida que o espera
além da morte do corpo, certamente outras normas de
conduta escolheria na Terra!” – Irmão Jacob
Uma das maiores dificuldades do Espírito reencarnado é
exatamente perceber essa realidade, ou seja, a
temporalidade da sua permanência no mundo físico na
posse dos valores materiais com os quais se embriaga e
anestesia a consciência na sua estada no planeta Terra,
principalmente quando esses valores são adquiridos de
forma desonesta.
E por falta dessa noção da sua brevidade na escola
humana, muitas pessoas se apresentam com seus títulos e
posições sociais de destaque, quando não pelas suas
posses que se desfazem à beira do túmulo, acreditando
serem eles um cartão de identificação perene e robusto.
“Sou o doutor fulano de tal!” – enchem a boca com
soberba para anunciar o título obtido pelos valores
instituídos pelos homens, sentindo-se acima de tudo e de
todos, enquanto do infinito ecoa a voz que procura
despertar a criatura inconsciente da sua verdadeira
realidade: não e não, meu amigo! Você apenas está doutor
em alguma coisa porque a brevidade do tempo não lhe
permitirá permanecer com tudo isso que você imagina.
“Sou proprietário de milhares de alqueires de terra
repletos de incontáveis cabeças de gado!” – e do
infinito retorna o brado de alerta ao ser inconsciente
de si mesmo: não e não, meu amigo! Da terra terás apenas
o exíguo espaço do túmulo em que seu corpo mergulhará na
decomposição para o retorno à sua origem.
“Tenho no banco à minha disposição quanto dinheiro se
fizer necessário para minha felicidade e dos meus!” –
Não tem não, meu amigo! Teu dinheiro é incapaz de
acrescentar um segundo sequer ao término da sua
existência terrena! - retruca o alerta do infinito
procurando retirar do sono enganador o Espírito imortal
Do livro do doutor José Carlos de Lucca, O jardim da
minha vida, capítulo 33, trazemos alguns
ensinamentos: “Aportaremos no mundo espiritual com a luz
que conseguimos acender em nós mesmos pelas sementes de
paz, amor e fraternidade que cultivamos em nosso jardim,
ou chegaremos na escuridão de uma vida egoisticamente
voltada apenas para nós mesmos. Em nosso cortejo para a
vida espiritual, seremos acompanhados pela saudade dos
que amamos ou pela indiferença dos que ignoramos. É por
isso que Jesus pediu para que déssemos prioridade para
as riquezas do céu, pois elas são eternas, enquanto as
riquezas deste mundo físico são passageiras”.
Na parábola do mau rico narrada por Lucas, cap. XVI, v.
de 19 a 31, encontramos um Espírito em sofrimento
suplicando para que os seus irmãos ainda encarnados
sejam alertados para as consequências na vida espiritual
do nosso comportamento no mundo. E Abraão responde que
não adiantariam os alertas nem que os mortos
ressuscitassem!
O que será de nós espíritas, que temos tido tantos
avisos e testemunhos de Espíritos – mortos que falam e
de certa forma ressuscitam - em sofrimento que se
manifestam através da mediunidade, narrando seus
padecimentos após uma vida de investimento nos valores
materiais da existência?
São os mortos da parábola do mau rico que retornam para
nos alertar sobre as consequências de nossas atitudes
enquanto em trânsito pela Terra. Que nossos semelhantes
de outras religiões vacilem quanto a essa realidade,
optando pelo ser, em detrimento do entendimento
de que apenas estamos em alguma situação de
destaque no mundo dos homens, é até compreensível. Mas o
que usaremos em nossa defesa mediante o manancial enorme
de informações que a Doutrina Espírita nos proporciona
através dos alertas ininterruptos e incansáveis dos
Espíritos sofredores? Como temos utilizado as lições
veementes contidas nos comunicados mediúnicos que
relatam a colheita de decepções e de dores daqueles que
foram os maus ricos que nos antecederam no
retorno à vida espiritual?
Enquanto Chico Xavier se considerava apenas um cisco
nessa vida - apesar de servir gigantescamente aos
Maiores da espiritualidade -, como temos nos comportado
nessa existência em relação ao ser e o estar sendo?
Realmente, como essa pequenina partícula que o
inesquecível missionário tomava para si mesmo?