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por Ricardo Orestes Forni

 

Ser e estar


“Se o homem soubesse a extensão da vida que o espera além da morte do corpo, certamente outras normas de conduta escolheria na Terra!” – Irmão Jacob


Uma das maiores dificuldades do Espírito reencarnado é exatamente perceber essa realidade, ou seja, a temporalidade da sua permanência no mundo físico na posse dos valores materiais com os quais se embriaga e anestesia a consciência na sua estada no planeta Terra, principalmente quando esses valores são adquiridos de forma desonesta.

E por falta dessa noção da sua brevidade na escola humana, muitas pessoas se apresentam com seus títulos e posições sociais de destaque, quando não pelas suas posses que se desfazem à beira do túmulo, acreditando serem eles um cartão de identificação perene e robusto.

“Sou o doutor fulano de tal!” – enchem a boca com soberba para anunciar o título obtido pelos valores instituídos pelos homens, sentindo-se acima de tudo e de todos, enquanto do infinito ecoa a voz que procura despertar a criatura inconsciente da sua verdadeira realidade: não e não, meu amigo! Você apenas está doutor em alguma coisa porque a brevidade do tempo não lhe permitirá permanecer com tudo isso que você imagina.

“Sou proprietário de milhares de alqueires de terra repletos de incontáveis cabeças de gado!” – e do infinito retorna o brado de alerta ao ser inconsciente de si mesmo: não e não, meu amigo! Da terra terás apenas o exíguo espaço do túmulo em que seu corpo mergulhará na decomposição para o retorno à sua origem.

“Tenho no banco à minha disposição quanto dinheiro se fizer necessário para minha felicidade e dos meus!” – Não tem não, meu amigo! Teu dinheiro é incapaz de acrescentar um segundo sequer ao término da sua existência terrena! - retruca o alerta do infinito procurando retirar do sono enganador o Espírito imortal

Do livro do doutor José Carlos de Lucca, O jardim da minha vida, capítulo 33, trazemos alguns ensinamentos: “Aportaremos no mundo espiritual com a luz que conseguimos acender em nós mesmos pelas sementes de paz, amor e fraternidade que cultivamos em nosso jardim, ou chegaremos na escuridão de uma vida egoisticamente voltada apenas para nós mesmos. Em nosso cortejo para a vida espiritual, seremos acompanhados pela saudade dos que amamos ou pela indiferença dos que ignoramos. É por isso que Jesus pediu para que déssemos prioridade para as riquezas do céu, pois elas são eternas, enquanto as riquezas deste mundo físico são passageiras”.

Na parábola do mau rico narrada por Lucas, cap. XVI, v. de 19 a 31, encontramos um Espírito em sofrimento suplicando para que os seus irmãos ainda encarnados sejam alertados para as consequências na vida espiritual do nosso comportamento no mundo. E Abraão responde que não adiantariam os alertas nem que os mortos ressuscitassem!

O que será de nós espíritas, que temos tido tantos avisos e testemunhos de Espíritos – mortos que falam e de certa forma ressuscitam - em sofrimento que se manifestam através da mediunidade, narrando seus padecimentos após uma vida de investimento nos valores materiais da existência?

São os mortos da parábola do mau rico que retornam para nos alertar sobre as consequências de nossas atitudes enquanto em trânsito pela Terra. Que nossos semelhantes de outras religiões vacilem quanto a essa realidade, optando pelo ser, em detrimento do entendimento de que apenas estamos em alguma situação de destaque no mundo dos homens, é até compreensível. Mas o que usaremos em nossa defesa mediante o manancial enorme de informações que a Doutrina Espírita nos proporciona através dos alertas ininterruptos e incansáveis dos Espíritos sofredores? Como temos utilizado as lições veementes contidas nos comunicados mediúnicos que relatam a colheita de decepções e de dores daqueles que foram os maus ricos que nos antecederam no retorno à vida espiritual?

Enquanto Chico Xavier se considerava apenas um cisco nessa vida - apesar de servir gigantescamente aos Maiores da espiritualidade -, como temos nos comportado nessa existência em relação ao ser e o estar sendo? Realmente, como essa pequenina partícula que o inesquecível missionário tomava para si mesmo?


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita