D. José
Amigó y Pellícer, autor do livro Roma e o Evangelho,
diz como surgiu o livro
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Em abril de 1874 foi lançado em Lérida, na Espanha, o
livro Roma e o Evangelho, autoria de D.
José Amigó y Pellícer, até então membro do clero |
católico que, ao se tornar espírita, fundou o Círculo
Cristão-Espiritista. |
O livro causou grande polêmica e
reações nada amigáveis por parte da Igreja, como o
próprio autor disse ao nosso colaborador Jorge Leite de
Oliveira na entrevista seguinte. [1]
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Hoje resolvi entrevistar o elevado Espírito D. José
Amigó y Pellícer, autor da obra Roma e o Evangelho,
a ser reeditada em breve pela Federação Espírita
Brasileira:
— Quando e onde o Sr. e sua equipe, composta de
clérigos, filósofos, cientistas, resolveram investigar
os fenômenos espíritas, e qual era a intenção do grupo?
Pellícer: — Foi em Lérida, na Catalunha, que começamos
nosso trabalho, assim que as informações sobre as
manifestações mediúnicas provindas de Paris chegaram à
Espanha. A intenção inicial era a de desmascarar o
movimento espírita iniciado, oficialmente, em Paris com
a publicação d'O Livro dos Espíritos, por Allan
Kardec. Imaginava-se, mesmo, ridicularizar as teorias e
fenômenos espíritas.
— Que resultou dessas pesquisas?
Pellícer: — Ao contrário de teorias ilógicas,
superstições e falsa moral, deparamo-nos com uma
filosofia racional e lógica, que viria ratificar, com
base nos fatos, os elevados ensinamentos de Jesus.
Então, fundamos o Círculo Cristão-Espiritista, decididos
a divulgar publicamente o resultado de nossas pesquisas
e continuar esses estudos e práticas sob o pálio da
ciência experimental.
— O Sr. não pensou nas consequências dessa corajosa
iniciativa, num tempo em que a Igreja imperava sobre o
Estado e impunha ao mundo sua doutrina?
Pellícer: — Sabia que
viriam represálias, que do exercício de nossa convicção
conscienciosa e do dever da publicação dos resultados de
nossos trabalhos resultariam represálias, mas não nos
podíamos calar. Sacrificamos tudo às verdades que nos
eram reveladas. "Como os primeiros cristãos, tivemos a
fé precisa para desenrolar o divino estandarte dos
ensinos de Jesus, ainda que houvéssemos de
sucumbir à sua gloriosa sombra."
— E quais foram as já esperadas consequências da
publicação do livro Roma e o Evangelho, além de
outros trabalhos no gênero?
Pellícer: — Alguns meses após publicada essa obra, o
Ministro da Instrução Pública na Espanha, marquês de
Orovio, suspendeu D. Domingo de Miguel do cargo de
Diretor da Escola Normal de Lérida e a mim, segundo
professor dessa escola, em virtude de nossas opiniões
filosófico-religiosas divulgadas no Círculo
Cristão-Espiritista.
— Essa represália o fez desistir de lutar pela
divulgação da nova revelação do Cristo?
Pellícer: — Pelo contrário, deu-me mais coragem para
continuar os trabalhos já iniciados com a fundação do
Círculo Cristão-Espírita, que se expandiu de modo
considerável, graças à adesão de grande número de
espanhóis e o apoio de estudiosos de mente aberta à nova
revelação cristã.
— Quais são suas palavras finais ao nosso leitor?
Pellícer: — Repito o que disse em "Quatro palavras ao
leitor":
Quando censuramos, referindo-nos ao clero ou às
autoridades da Igreja, deve isso ser entendido como
dirigido aos erros e abusos, nunca porém aos indivíduos
ou classes; pois que, se nos julgamos autorizados a
censurar mistificações, direitos, não presumimos ter de
condenar os que porventura veem o bom uso no abuso — e a
verdade no erro.
E como poderíamos condenar, se o princípio capital da
nossa Doutrina é a caridade e o perdão?
Tudo tem sua razão de ser — e tudo contribui e coopera
para o cumprimento da Lei que preside à Criação.
Moisés não podia deixar de preceder a Jesus, porque o
povo hebreu, então grosseiro, material e prevaricador,
não estava em condições de receber o Evangelho.
Tampouco Jesus não ensinou tudo o que sabia, porque a
geração do seu tempo não suportaria o peso de todas as
verdades (João, 16:12).
Por isto, Ele serviu-se de alegorias e de parábolas que,
se no momento se prestavam a errôneas interpretações,
mais tarde deveriam ser entendidas em seu verdadeiro
sentido.
Quem, entretanto, poderá com razão acusar Moisés, pela
dureza das suas leis, e Jesus, por haver falado ou dito
em linguagem obscura o que não convinha revelar?
A inspiração e a palavra de Deus são sucessivas, e a
humanidade vai recolhendo-as à medida das suas
necessidades.
Por conseguinte, não podemos culpar a Igreja Romana por
erros que não são seus, mas, sim, da miséria dos tempos
e da ignorância das gerações que se têm sucedido após a
morte de Jesus.
Julgamos ter manifestado com bastante clareza os nossos
pensamentos: tudo pela ideia — nada contra as pessoas (PELLÍCER,
J. A. y. In: Roma e o Evangelho. 8. ed. FEB,
1995).
— É verdade, Amigó, as palavras que Jesus disse
que ainda tinha de nos revelar, não podiam ser ditas em
sua época. Por isso, ele retornou, e, através do
Espírito de Verdade, que preside, em seu nome, o
Espiritismo, volta ao mundo atual, para, acima de todo
preconceito, má vontade e perseguição humana, permanecer
conosco para sempre. Siga em paz e continue, onde
estiver, sua bela obra em nome do Cristo.
Pellícer: — ¡Adiós,
amigo, salud y paz!
— ¡Paz
y luz, Amigó!
[1] Como o leitor deve ter percebido,
esta é uma entrevista fictícia, embora fundamentada em
fatos reais.