O conforto no desencarne
O desencarne é algo inevitável. Todos nós seremos
submetidos a essa passagem que faz parte da nossa
trajetória evolutiva. As diversas culturas do mundo
vivenciam de forma diferente o enfrentamento desse
momento difícil, proporcional à concepção de cada
povo. Não é fácil resignar-se sem crer na reencarnação,
que nada mais é do que parte da caminhada do Espírito
imortal em suas inúmeras existências.
Diversas religiões da antiguidade acreditavam na vida
após a morte, a exemplo do Budismo e Hinduísmo. Sócrates
(468-400 a.C.) defendia o dogma da imortalidade da alma
e da vida futura, e Platão (428-348 a.C.) dizia que a
alma é imortal, antecede o nascimento e reencarna
diversas vezes.
Encontramos no livro Os Mensageiros, pág. 6,
Editora FEB, psicografia de Francisco Cândido Xavier,
pelo Espírito André Luiz: “A morte física não é salto do
desequilíbrio, é passo da evolução, simplesmente. (...)
“O progresso não sofre estacionamento e a alma caminha,
incessantemente, atraída pela Luz Imortal”.
Para os que acreditam que a vida não se limita do berço
ao túmulo, o desenlace é uma simples “porta” para que o
Espírito retorne à sua verdadeira essência. Essas idas e
vindas fazem parte do contexto da vida num processo
dinâmico, constante e infinito para a evolução
espiritual.
Como Espíritos em “estágio probatório” no presente corpo
físico, vivemos um intercâmbio contínuo com o mundo
espiritual. Como exemplo, temos o sono, onde os sonhos
são pequenas “viagens” em que o Espírito está
momentaneamente liberto.
Léon Denis nos diz no livro Depois da Morte, pág.
161: “Na realidade, nada morre. A morte é apenas
aparente. Só a forma exterior muda; o princípio da vida,
a alma, mantém-se na sua unidade permanente,
indestrutível”. Atentando para essa realidade, a
aceitação da partida do ente querido consolida-se na fé
e na esperança do amanhã, amparadas que estão nas
Bem-Aventuranças anunciadas por Jesus. É com esse
suporte que sustentamos a certeza de que sempre teremos
existências futuras para os necessários ajustes e
correções de rumos.
Para o Espírito que parte, corresponde à libertação do
corpo físico, que é um “presídio” para que possa cumprir
os trabalhos que o levarão à redenção de suas
iniquidades. Passada essa fase, o Ser inteligente do
Universo segue o espaço infinito com sua visão ampliada,
diferentemente daquela vivenciada de forma reduzida na
vida corpórea.
Na Revista Espírita de fevereiro de 1864, págs. 76 e 81,
consta: “(...) A reencarnação é necessária enquanto a
matéria domina o Espírito”. “(...) A verdadeira amizade,
o verdadeiro amor, sendo espiritual, tudo que se refere
à matéria não é de sua natureza e em nada concorre para
a identificação material.” Nesse caminhar há o alento da
libertação relativa, visto que os acertos decorrentes da
trajetória evolutiva não se completam numa única
existência. Trata-se de um processo lento e progressivo,
onde galgamos degraus elevados em razão do nosso esforço
para esse mister.
Para os que ficam, há o conforto no cessar das dores do
corpo efêmero que, em muitos casos, não mais responde
aos agravos do desgaste orgânico. Enfim, o desencarne é
um “até breve” considerando que a Família de Deus
transcende à família consanguínea do ser humano. (Quem
vive na incerteza sofre nos descaminhos da vida.)
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