Mediunidade: considerações importantes
“Em vossos estudos, uma recomendação há que nunca será
demais repetir: é a de pesar e meditar, é a de submeter
ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações
que receberdes.” -
São Luís.
Fazendo um minucioso
exame crítico das dissertações feitas por um Espírito
que se identificou como Charlet, Allan Kardec nos brinda
com algumas considerações muito importantes no âmbito da
mediunidade que não podemos menoscabar. Explica o
ínclito Mestre Lionês:
“(...) Os Espíritos orgulhosos exercem em seus médiuns
uma espécie de fascinação, com a ajuda da qual, algumas
vezes, chegam a fazê-los partilhar os mesmos
sentimentos. Dissemos de propósito “seus médiuns” porque
eles se apoderam deles e querem ter, neles, os
instrumentos que agem de olhos fechados; não se
acomodariam de nenhum modo com um médium escrutador ou
que visse muito claro; não é assim ainda entre os
homens? Quando o encontram, temem que se lhes escape,
inspiram-lhe o afastamento de quem poderia esclarecê-lo;
isolam-no de alguma sorte, a fim de que gozem de inteira
liberdade, ou não o aproximam senão daqueles dos quais
nada têm a temer; e, para melhor captar a sua confiança,
se fazem bons apóstolos usurpando os nomes de Espíritos
venerados, dos quais procuram imitar a linguagem; mas
agem inutilmente, pois a ignorância nunca poderá imitar
o verdadeiro saber, nem uma natureza má a verdadeira
virtude; sempre o orgulho surgirá sob o manto de uma
fingida humildade, e é por que temem ser desmascarados
que evitam a discussão e dela desviam os seus médiuns.
Não há pessoa, julgando friamente e sem prevenção, que
não reconheça como má uma tal influência, porque cai sob
o mais vulgar senso que um Espírito, verdadeiramente bom
e esclarecido, não procuraria nunca exercê-la. Pode-se,
pois, dizer que todo médium que lhes cede está sob o
império de uma obsessão, da qual deve se desembaraçar o
mais cedo. O que se quer, antes de tudo, não são simples
comunicações, mas comunicações boas e verdadeiras; ora,
para se obter boas comunicações são necessários bons
Espíritos, e para ter bons Espíritos é necessário ter
médiuns livres de toda má influência. A natureza dos
Espíritos que assistem habitualmente um médium é, pois,
uma das primeiras coisas a considerar; para conhecê-la,
exatamente, há um critério infalível, e isso não está
nem nos sinais materiais nem nas fórmulas de evocação ou
de conjuração que são encontradas; esse critério está
nos sentimentos que o Espírito inspira ao médium; pela
maneira de agir deste último, pode-se julgar da natureza
dos Espíritos que o dirigem e, por conseguinte, do grau
de confiança que as suas comunicações merecem.
Isto não é uma opinião pessoal, um sistema, mas um
princípio deduzido da mais rigorosa lógica, se se
admitem estas premissas que um mau pensamento não pode
ser sugerido por um bom Espírito. Tanto que não se
prove que um bom Espírito pode inspirar o mal, diremos
que todo ato que se afaste da benevolência, da caridade
e da humildade, onde penetre o ódio, a inveja, o ciúme,
o orgulho ferido ou a simples acrimônia, não pode ser
inspirado senão por um mau Espírito, então, mesmo que
este pregasse hipocritamente as mais belas máximas,
porque, se fora verdadeiramente bom, prová-lo-ia pondo
seus atos em harmonia com as suas palavras.
A prática do Espiritismo está cercada de tantas
dificuldades, os Espíritos enganadores são tão velhacos,
astuciosos, e ao mesmo tempo tão numerosos, que não se
saberia cercar-se de muitas precauções para
frustrá-los; importa, pois, procurar com o maior
cuidado todos os indícios pelos quais podem se trair;
ora, esses indícios estão, ao mesmo tempo, em sua
linguagem e nos atos que solicitam.
(...) A base de nossa apreciação sobre os temas
desenvolvidos pelos Espíritos é a lógica. A lógica, com
efeito, é o grande critério de toda comunicação
espírita, como o é de todos os trabalhos humanos.
Sabemos bem que aquele que raciocina em falso crê ser
lógico; o é à sua maneira, mas não o é senão para ele, e
não para os outros; quando uma lógica é rigorosa como a
de dois e dois são quatro, é que as consequências são
deduzidas de axiomas evidentes, o bom senso geral, cedo
ou tarde, faz justiça a todos esses sofismas. Cremos que
as proposições seguintes têm esse caráter:
1- Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar senão
o bem; portanto, tudo o que não é rigorosamente bem não
pode vir de um bom Espírito;
2- Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente
superiores não podem ensinar coisas absurdas; portanto,
toda comunicação manchada por erros manifestos, ou
contrários aos dados mais vulgares da ciência e da
observação, atesta, só por isso, a inferioridade de sua
origem;
3- A superioridade de um escrito qualquer está na
justeza e na profundidade das ideias, e não na inchação
e na redundância do estilo; portanto, toda comunicação
espírita onde haja mais de palavras e de frases
brilhantes que de pensamentos sólidos, não pode vir de
um Espírito verdadeiramente superior;
4- A ignorância não pode contrafazer o verdadeiro
saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta;
portanto, todo Espírito que, sob um nome venerado, diz
coisas incompatíveis com o título que se dá, está
convicto de fraude;
5- É da essência de um Espírito elevado se ligar mais ao
pensamento que à forma e à matéria, de onde se segue
que a elevação do Espírito está em razão da elevação
das ideias; portanto, todo Espírito meticuloso nos
detalhes da forma, que prescreve puerilidades, em uma
palavra, que liga importância aos sinais e às coisas
materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de
ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;
6- Um Espírito verdadeiramente superior não pode se
contradizer; portanto, se duas comunicações
contraditórias são dadas, sob o mesmo nome respeitável,
uma das duas é necessariamente apócrifa; se uma é
verdadeira, esta não pode ser senão aquela que não
desmente em nada a superioridade do Espírito cujo
nome foi posto em frente.
A consequência a se tirar destes princípios é que fora
das questões morais não é necessário acolher senão com
reserva o que vem dos Espíritos, e que, em todos os
casos, nunca é necessário aceitá-lo sem exame. Daí
decorre a necessidade de pôr a maior circunspecção na
publicação dos escritos emanados dessa fonte, quando,
sobretudo pela estranheza das doutrinas que contêm, ou a
incoerência das ideias, podem se prestar ao ridículo. É
preciso desconfiar da tendência de certos Espíritos para
as ideias sistemáticas, e do amor-próprio que colocam e
propagam-nas; é, pois, sobretudo nas teorias científicas
que é necessário colocar uma extrema prudência, e se
guardar de dar precipitadamente como verdades sistemas
frequentemente mais sedutores que reais, e que, cedo ou
tarde, podem receber um desmentido oficial. Que sejam
apresentados como probabilidades, se são lógicos, e como
podendo servir de base a observações ulteriores, seja;
mas haveria imprudência em dá-los, prematuramente, como
artigos de fé.
Além da lógica, devemos também ter em alta conta o bom
senso. Este é um outro fator que não podemos
descurar no âmbito do exame das produções mediúnicas.
O exame das produções
mediúnicas é estudado por Allan Kardec de forma
minuciosa e exaustiva no singular “Vade-Mecum” da
mediunidade,
onde podemos encontrar – reunidos – os princípios dos
MEIOS DE SE RECONHECER A QUALIDADE DOS ESPÍRITOS.
Kardec alinha 26 princípios, dos quais daremos especial
destaque para os seguintes: Bom senso, como
critério soberano; linguagem e ações, pois estas
se traduzem pelos sentimentos que eles (os Espíritos)
inspiram. Os bons Espíritos só podem dizer e fazer o
bem; não julgá-los pela forma material nem pela
correção do estilo; a linguagem dos Espíritos Superiores
é sempre idêntica quanto ao fundo e jamais se
contradizem, só dizem o que sabem; os maus falam
de tudo com desassombro: sem se preocuparem com a
verdade, predizem o futuro e “revelam” o passado
com a maior facilidade e leviandade (e muitos médiuns
não só acreditam como passam recibo, acoroçoando-lhes as
sandices); os Espíritos superiores, ao contrário, quando
muito, apenas fazem com que as coisas futuras sejam
levemente pressentidas, quando esse procedimento
convenha, mas nunca determinam datas fixas para
que tal ou tal coisa se realize. A previsão de
qualquer acontecimento para uma época determinada é
indício de mistificação. Os Espíritos
superiores se exprimem com simplicidade, sem
prolixidade. Têm o estilo conciso, sem exclusão da
poesia das ideias e expressões claras e inteligíveis a
todos, sem demandarem esforços para serem
compreendidas: dizem muito com poucas palavras.
Jamais dão ordens! Não se impõem: aconselham. Mas,
se não são escutados, retiram-se. Em compensação, os
maus Espíritos enganam, dão ordens, são imperiosos,
querem ser obedecidos a qualquer preço e não se afastam,
haja o que houver. Todo Espírito (ou encarnado) que
impõe, trai a sua inferioridade e revela seu desastroso
personalismo carregado de empáfia. São
exclusivistas e absolutos em suas opiniões; pretendem
ter o privilégio da verdade. Os bons Espíritos não
lisonjeiam, já os maus prodigalizam exagerados
elogios, que outra coisa não estimula senão a
vaidade e o orgulho de quem os recebe. Até mesmo
pregando a humildade, os Espíritos maus são
especialistas em exaltar a importância pessoal daqueles
a quem desejam cooptar.
Todas estas instruções (e muitas outras2)
decorrem da experiência e dos ensinos dos Espíritos.
Confira-as, estude-as profundamente, medite-as e depois,
aplique-as... Não se deixe enganar. Os arraiais
espiritistas estão fervilhando de médiuns embaídos e
Espíritos maus embaidores. Muito cuidado e atenção,
pois...